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Rita Nunes, de 34 anos, é empresária e há muito tempo que pensava participar numa mesa de voto. Este ano vai fazê-lo, pela primeira vez, na Arruda dos Vinhos e sem receios da Covid-19.
“Mudei-me para uma região mais pequena, coincidentemente sou membro de um partido que mandou newsletter a perguntar se alguém queria participar no processo eleitoral. Apercebi-me que há aqui um défice de pessoas que queiram participar, então fui quase automaticamente escolhida”, conta.
Encara a missão de ajudar nas eleições como uma participação cívica: “Eu acho que mais importante do que participar na mesa de voto é votar, mas como não podemos votar se não houver voluntários a fazer este trabalho e como para mim votar é superimportante achei que fazia sentido participar uma vez, se não mais, e estar do outro lado da mesa”.
Apesar de poder dar de caras com alguém infetado com Covid-19, Rita admite que não tem qualquer tipo de receio. “Neste tipo de cargos as pessoas não se devem mover pelo medo porque, caso contrário, isto nunca iria acontecer. Já tenho a dose de reforço, mesmo antes de ser aberta a possibilidade de os membros de mesa poderem ser vacinados”.
Considera ainda que “é uma medida muito bem pensada para dar suporte aos voluntários. Mas, honestamente, não vejo aqui grande questão. Lido com muitas pessoas no meu dia a dia e acho que com as medidas que todos conhecemos de cor, como o uso de máscaras e higienização, acho que as coisas podem correr sem grandes problemas”.
Mais experiente Tânia Mahomed foi recrutada para dia 30, mas já esteve numa mesa de voto também do dia do voto antecipado e, foi aí, que a encontrámos. Ficou numa secção de voto muito concorrida, a da letra M, onde há sempre muitas “Marias e Manuéis” para votar, mas não se atrapalhou.
“Faço parte do mundo político, sempre me interessei por política e tenho a visão de que nós somos o futuro. Se queremos mudar tem de ser a partir do interior. Estou filiada numa juventude partidária desde os 14 anos e quando fiz 18 anos fui sempre indicada pelo partido para as mesas”, refere.
Nota, também, que há cada vez menos gente a candidatar-se às mesas de voto. Recorda-se que nas passadas eleições autárquicas foi preciso ir buscar pessoas às bolsas eleitorais. Menciona que com a Covid-19, há pessoas que têm receio de desempenhar esta função e, desde aí, que este problema de falta de gente se agrava”.
“Contar os votos é engraçado porque estamos a participar em algo maior”
Precisamente a falta de pessoas esteve na origem da chamada de Cristina Santos, desempregada de 45 anos, para os dois dias de recolha de votos. A sua primeira participação numa mesa de voto também tinha sido assim para suprir necessidades.
“Já não é a primeira vez. A primeira foi nas eleições presidenciais, faltou muita gente no pico da pandemia e lá fui. Gostei da experiência acho que é cívica e contar os votos é engraçado porque estamos a participar em algo maior. Também estive nas Autárquicas. Candidatei-me agora para o dia 30, mas também fui requisitada para o voto antecipado”, revela.
Cristina diz que não vai ser possível verificar se todos os infetados, ou isolados, vão votar na janela horária recomendada pelo governo (entre as 18h e as 19H). “As pessoas irem votar naquele período é estranho, não há forma de controlar, estaremos mais protegidos nessa altura com equipamentos, mas é difícil saber se as pessoas vão cumprir essa recomendação.”
Já Rita Nunes afirma “acho que foi muito bem pensado os isolados poderem votar. Eu num dos atos eleitorais durante a pandemia não pude estar presente precisamente por estar em isolamento e não pude recorrer ao voto antecipado. Retirar essa possibilidade às pessoas não. Acho que já começam a ser necessárias alternativas como esta.”
Por seu lado Tânia Mahomed considera que “risco é sempre acrescido, maior entre as 18h00 e as 19h00, porque há pessoas infetadas a vir ter connosco, mas a câmara já informou que vamos ter bata e luvas, material acrescido que podemos usar o dia todo ou só a partir das 18h00”.
Os membros de uma mesa de voto recebem 51 euros e 93 cêntimos. Será isso motiva estas pessoas?
Dizem que a compensação monetária não é, de todo, o motivo, uma vez que é um trabalho de muitas horas e que o veem como um dever. Lembram alguns, que até já se pagou mais em outros tempos, mas o valor foi reduzido na altura da Troika e não voltou a ser reposto. Além desta compensação simbólica têm ainda dispensa do dia de trabalho no dia seguinte ao escrutínio.
E porque as mesas de voto também são compostas por homens, Paulo Barbosa conta-nos que o dia das eleições é um dia de trabalho, mas também de muito convívio e de vivência de novas experiências, por isso decidiu repetir a experiência nestas eleições legislativas.
“Permite interagir com os cidadãos que vão votar, mas também com a equipa e, nesse dia, todos juntos estamos motivados para dar o nosso melhor”, acrescenta.
Sem receios, protegidos e, acima de tudo, vestidos de sentido cívico, são largas as centenas de pessoas que vão estar sentadas nas mesas de voto, no próximo domingo, para que o ato democrático dos portugueses corra bem.