“Valerá a pena, a três meses de eleições e com um quadro político que se pode alterar profundamente, estarmos com meias soluções?”
A pergunta, em jeito de sugestão, é lançada na Renascença pelo antigo ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, no dia em que sindicatos e Governo voltam a reunir-se, naquele que poderá ser a última oportunidade para um acordo antes da dissolução do Parlamento.
A caminho de eleições antecipadas, Adalberto Campos Fernandes defende que haja entre Governo e sindicatos médicos "uma pausa negocial até que o quadro político esteja definido”.
"Talvez fosse mais avisado, quer do ponto de vista do atual governo quer do ponto de vista dos próprios sindicatos”, argumenta o antigo ministro.
“Será que os médicos não têm abertura para perceber isto, fazer a pausa negocial e, então, negociar com um Governo que esteja legitimado, com uma estratégia bem definida, aprovada, sufragada pelos eleitores?”
Nestas declarações à Renascença, Campos Fernandes assume não gostar “de processos negociais sob pressão, que não servem as partes e muito menos servem o interesse público”, nem de "remendos táticos” que teme não trazerem “nada de muito útil para o sistema”.
Para o antigo ministro da Saúde, não seria grave esperar mais três meses por um acordo, uma vez que “automaticamente a 1 de Janeiro, esse processo cai, porque o limite das 150 horas [extraordinárias] é restabelecido”.
"Temos apenas um mês para o ano acabar e não acredito que as dificuldades que temos pela frente sejam substancialmente alteradas por uma assinatura de um qualquer acordo”, observa.
Adalberto Campos Fernandes lembra que os problemas do Serviço Nacional de Saúde (SNS) são “mais sérios do que simplesmente a questão da das 150 horas e das urgências”.
“Tem, também, a ver com a falta de adesão dos médicos ao SNS. Esta última colocação de especialistas foi muito preocupante. As dificuldades que temos hoje no SNS já não se resolvem, apenas, tratando alíneas. É preciso tratar do parágrafo todo e do livro todo."