A Google conseguiu acesso a dados médicos de utentes norte-americanos, sem o seu conhecimento, através de um acordo com a Ascension, o segundo maior grupo ligado à área da saúde dos Estados Unidos, que reúne vários hospitais e consultórios presentes em 23 estados.
Este acordo, intitulado de “Project Nightingale”, permite o acesso a dados de mais de 2.500 hospitais e consultórios e tem a finalidade desenvolver ferramentas de inteligência artificial para médicos.
A controvérsia deste acordo, que a Google assume como uma “prática comum”, centra-se no acesso aos dados pessoais dos pacientes, com históricos médicos associados às identidades dos mesmos, sem o seu conhecimento. Estes dados podem ser posteriormente consultados pelos funcionários da Google.
Um denunciante anónimo deste esquema publicou um vídeo com documentos do acordo que mostram os quatro pilares do projeto. Quando a transferência de dados estiver completa, o Google será detentor dos dados de mais de 50 milhões pacientes americanos.
A denúncia alerta para a possibilidade de o Google vender e partilhar os dados a terceiros, ou criar perfis de pacientes com a finalidade de lhes vender produtos ou seguros de saúde.
Em entrevista ao jornal "The Guardian", o denunciante, que será um dos funcionários do “Project Nightingale”, expressou preocupação que dados tão sensíveis e potencialmente valiosos estivessem a ser processados por uma empresa de tecnologia.
“Os utentes não foram alertados para a forma como a Ascension está a usar os seus dados, nem deram o consentimento para que fossem transferidos e usados pela Google. O mínimo seria avisar os pacientes e dar-lhes a opção de partilharem os seus dados ou não”, disse o denunciante ao jornal britânico.
Em 2018, a Associated Press avançou que a Google guardava a localização dos utilizadores, mesmo quando estes não a autorizavam.
Em julho do mesmo ano, a Google admitiu que centenas de apps conseguem ter acesso à informação das caixas de correio do Gmail.
Este ano, a Google propôs 13 milhões de dólares para encerrar o escândalo conhecido por “Wi-Spy”, que usava os carros da Google Street View não só para captar imagens, mas também para recolher informações de redes domésticas de wi-fi pelas ruas onde passava.
No mês passado, o gigante tecnológico viu-se envolvido num escândalo de abusos sexuais por parte do criador do Android. Andy Rubin teve relações com várias funcionárias da Google, onde terá exercido uma posição dominante por ter um alto cargo na empresa. O caso remonta a 2013.