Tem um sabor a regresso a normalidade. Depois da interrupção por causa da pandemia, a Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa volta a abrir os jardins a uma programação festiva de verão. Arranca esta sexta-feira e decorre até 10 de julho, o Jardim de Verão com 30 concertos gratuitos e sessões de cinema ao ar livre.
Em entrevista à Renascença, o diretor do Programa Gulbenkian Cultura fala num “festival”. “O Jardim de Verão é uma iniciativa aberta a toda a cidade”, explica Miguel Magalhães, que sublinha que a programação reflete o que está “a acontecer na sociedade”.
A par dos concertos gratuitos, como nomes como a Banda Monte Cara, ou um conjunto de DJs, a Gulbenkian apresenta sessões de cinema ao ar livre e entrada gratuita na exposição “Europa Oxalá”. Um dos nomes presentes da programação com a curadoria do músico Dino D’Santiago é também a jovem poeta Alice Neto de Sousa.
Depois da pandemia que levou à interrupção desta programação de verão, o que é que o Jardim de Verão da Gulbenkian vai oferecer ao público?
O Jardim de Verão é uma iniciativa que a Gulbenkian tem vindo a apresentar há já alguns anos, no início do Verão. Fomos obrigados a parar no ano passado, e em 2020 ainda conseguimos fazer uma versão parcial do Jardim de Verão. Este ano retomados. Aproveitamos a exposição que temos aberta desde março, e que continuará aberta até ao final de agosto, a ‘Europa Oxalá’ e as suas temáticas para servir de contexto para a programação deste Jardim de Verão.
Como vai funcionar esta programação do Jardim de Verão?
O Jardim de Verão é uma iniciativa aberta a toda a cidade. Funciona como um festival no jardim da Fundação e consiste num número bastante alargado de concertos, performances, sessões de cinema ao ar livre à noite, e, acontece a partir de hoje, dia 24, e durante todos os fins de semana até ao dia 10 de julho, ou seja, os próximos três fins de semana, sempre à sexta, sábado e domingo entre as 17h00 e as 21h00 no que diz respeito à programação musical e performance; e a partir das 22h, no anfiteatro ao ar livre para as sessões de cinema
Tem programação pensada para um público alargado, e que espelha também a abertura da Gulbenkian a vários ritmos, influências. Quer destacar algumas iniciativas?
É verdade que é uma iniciativa aberta a toda a gente, e que no fundo também procurar espelhar o que é a cidade de Lisboa em 2022. Convidamos para o efeito, o Dino D'Santiago para fazer a programação de música e performance. Começamos esta sexta-feira com poeta Alice Neto de Sousa que abre, e encerra o festival no dia 10 de julho.
Destacaria mais artistas, o NBC, o DJ Marfox, o BerloK e a Nídia que são artistas mais ancorados na música eletrónica e associados à editora Príncipe. Temos também música, dita tradicional, com a banda Monte Cara e o Manecas da Costa já este domingo. Todos os dias encerram com um DJ set do DJ Berlok, e, portanto, em termos musicais e performance atravessamos todos os estilos e tendências da música atual.
O mesmo acontece no cinema, também reflete as tendências?
Há uma programação do Olivier Hadouchi, um programador francês e, o título do ciclo é Cinema e Independência, e foca-se muito sobre o cinema africano da atualidade.
Para o público, as iniciativas são gratuitas, pergunto se é necessário levantar algum bilhete?
Toda a programação musical é de entrada livre, não é preciso levantar nenhum bilhete, basta que as pessoas circulem e usufruam do jardim. Para as sessões de cinema é necessário levantar um bilhete que custa 2,5 euros, mas é o único bilhete que é pago.
Gostaria também de dizer que a exposição ‘Europa Oxalá’, durante estes três fins de semana será de entrada gratuita, ao longo de todo o dia. Quem vir ao Jardim de Verão poderá também visitar a exposição gratuitamente.
A questão colonial e do racismo estão muito na atualidade. Olhando para a programação habitual da Gulbenkian, e para esta parceria com a Lisboa Crioula que assina a curadoria do Jardim de Verão, o que é que diz sobre o estado da arte atualmente?
Nós, como instituição cultural, temos que ser espelho das conversas que estão a acontecer na sociedade. Estamos muito atentos a cada uma dessas questões. A exposição ‘Europa Oxalá’ debruça-se precisamente sobre as questões e o debate colonial e pós-colonial, sobre a questão das memórias e das pós-memórias.
É uma exposição, chamemos-lhe “Pan-Europeia”, que foi montada em parceria como o MUCEM, que é um museu em Marselha e o African Museum da Bélgica, e os curadores quiseram convidar artistas de toda a Europa, mas que, de uma forma ou de outra, têm uma relação com África.
“Europa Oxalá” é nesse aspeto uma exposição ancorada na arte que se está a produzir?
Se visitar a exposição verifica que esta vintena de artistas se debruça precisamente sobre estas questões que afligem a nossa sociedade, as questões da falta de diversidade, do racismo que herdamos da época colonial, e como essas questões influenciam o nosso quotidiano.
Partindo desta proposta expositiva, prolongamos o debate para o Jardim de Verão. A Lisboa Criola e o Dino d'Santiago foi uma escolha óbvia, porque são atores fundamentais desta conversa e Lisboa é um palco fantástico para discutirmos estas questões da forma mais aberta possível. Como eu dizia, como instituição, temos de espelhar as conversas que estão a acontecer no contexto em que nos inserimos.