Mergulhados como estamos numa crise social que atinge várias dimensões, desde o aumento daa pobreza até à instabilidade laboral, interrogamo-nos, porquê?
A resposta não é a que estamos habituados: “Pois, é a crise económica que nos leva à crise social...”
Na realidade, até ao momento não existe nenhuma crise económica na nossa economia, por mais que nos tenham tentado convencer do contrário. O que há é uma inflação moderada (abaixo dos 10% anuais) que tem sido combatida de forma inepta tanto a nível europeu como a nível nacional.
Entendeu-se que a inflação deveria ser combatida fazendo recair todo o ónus da desinflação sobre os rendimentos do trabalho e em parte também sobre as pensões de reforma. O resultado foi o que se esperaria: pobreza e instabilidade laboral. Até a crise habitacional - que tem outras causas - se tornou mais grave ainda devido à perda de rendimentos reais dos assalariados.
Esta instabilidade, tudo leva a crer, vai prosseguir com os decorrentes custos para a economia. Não é fácil entender por que razão se seguiu este caminho.
Uma razão que tem sido invocada é a que instabilidade política e económica mundial é muito grande e que podemos ter de enfrentar uma crise generalizada. Por isso, cautela, reduzam-se os salários reais.
Que podemos ter uma crise mundial, é possível. Que, inclusivamente, a instabilidade bancária recente possa ser um pré-anúncio de uma crise financeira internacional, é infelizmente um cenário que não podemos afastar.
Mas pensar que estaremos mais aptos a enfrentar uma crise mundial com o clima actual de instabilidade social provocada pelo combate à inflação é um erro tremendo.