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A quarentena na Lituânia começou em meados de março. Até lá havia alguma tensão e um medo crescente. A maior parte do medo e da revolta derivavam do facto de o Governo não estar preparado e, pior, de o negar. As pessoas conseguiam perceber que os hospitais não estavam suficientemente equipados (nem sequer com máscaras e roupa descartável) e, não obstante, os médicos estavam a fazer muitas horas extraordinárias com pouco, ou nenhum, vencimento suplementar. Apesar de existir uma fábrica da ThermoFisher Scientific R&D em Vílnius, que produz testes Covid, a compra destes kits começou muito tarde de mais.
As aulas dos miúdos passaram a ser online. Os nossos três filhos ficaram em casa e passavam a maior parte do tempo ao computador. O sistema não estava preparado, mas ajustou-se rapidamente. Não foram só as aulas, mas até os treinos de basquetebol – o desporto nacional na Lituânia – e as aulas de robótica passaram a ser online, pelo que os miúdos tiveram a possibilidade de fazer algo de que gostavam.
Avancemos até maio e a primeira vaga tinha acalmado. Durante o verão houve apenas alguns casos por dia e muito poucas mortes. Mas uma vez que muitas das medidas foram aliviadas, como o uso das máscaras; concentrações maiores em lugares públicos como bares, cafés, cinemas, concertos e praias; viagens; autoisolamento depois de viajar de países afetados, etc., o número de casos começou novamente a subir, tal como em quase todo o lado. Atualmente estamos com mais casos por dia na Lituânia do que tínhamos em abril, mas o Governo não está a recorrer a medidas mais rigorosas. O facto de haver eleições legislativas este domingo e duas semanas depois pode ser uma das razões pelas quais o Governo está menos determinado agora, mas sente-se a tensão a subir novamente. Vamos ver.
A quarentena teve efeitos negativos, mas também houve positivos, pelo menos para mim. Em primeiro lugar, a maioria das igrejas começou a transmitir a missa online, pelo menos ao domingo, mas não só, quando antes isso era muito raro.
Em segundo lugar continuou a ser permitido praticar desporto durante a quarentena, desde no exterior e longe de outras pessoas. Continuei o meu hábito de correr durante todo o período. Isso permitiu-me manter-me em forma, mas também foi uma maneira de me sustentar durante aquilo que foi uma situação pessoal grave e evitar uma crise mental e psicológica. Espero que já tenha passado.
Em terceiro lugar, nós vivemos numa casa própria entre a capital de Vilnius e a antiga capital de Trakai. Isto permitiu que os nossos filhos tivessem mais espaço dentro de portas, mas também a possibilidade de ir para o exterior e respirar ar fresco todos os dias. São oportunidades que não tocam a quem vive em apartamentos na cidade e por isso há cada vez mais gente a comprar ou construir casas privadas em vez de viver em apartamentos pequenos no centro da cidade. As pessoas também aproveitaram para conhecer melhor os espaços naturais, pelo menos nos fins-de-semana, e por isso descobriram-se muitos lugares maravilhosos na Lituânia que vale a pena visitar e admirar.
Em quarto lugar, enquanto lidava com as minhas próprias dificuldades, consegui reencontrar uma ligação que tinha perdido com os meus filhos. Felizmente o período de quarentena deu-me a oportunidade de prestar mais atenção a isso. Mesmo antes de começar a quarentena eu iniciei um novo trabalho e estava num processo de formação, por isso não pude trabalhar de casa sozinho. Felizmente, contudo, não perdi o emprego. Tive de ir para o escritório, que é grande e tem pouca gente, e pude aprender de um colega, respeitando a distância de segurança de dois metros e então, sim, pude começar a trabalhar de forma mais independente e estar mais em casa com a família.
Por fim, em quinto lugar, a pandemia e a quarentena revelaram que grande parte da economia mundial depende de um consumismo desnecessário que ficou reduzido durante este período. Isso deixa-me contente. Espero que as pessoas aprendam com isso e aproveitem este ensinamento para usar os recursos naturais do planeta de forma mais responsável, preservando o ambiente e combatendo as alterações climáticas, bem como reajustando as mentes das pessoas para aquilo que é mais importante no mundo e nas suas vidas.
*Simonas Laurinavičius tem 41 anos e vive perto de Vilnius, na Lituânia. É doutorado em bioquímica e é professor e tradutor de finlandês. Trabalha atualmente com uma empresa de informática, onde lida com clientes finlandeses.