Yulia Navalnaya, viúva do opositor russo Alexei Navalny, que morreu há quase duas semanas, acusou esta quarta-feira o Presidente, Vladimir Putin, de controlar uma "organização criminosa" e exigiu da União Europeia (UE) mais do que "declarações de preocupação". Navalnya falava em Estrasburgo.
"Hoje [quarta-feira], o meu marido está morto. Pensei que em 12 dias, desde o homicídio do Alexei, estaria pronta para fazer este discurso, mas passei o esse tempo a tentar recuperar o corpo dele, a preparar as cerimónias fúnebres, a procurar um cemitério. O funeral vai ser daqui a dois dias e ainda não sei como vai ser a cerimónia, não sei se a polícia vai aproveitar para prender aqueles que querem homenageá-lo", lamentou.
Perante os eurodeputados, em Estrasburgo (França), Yulia Navalnaya apresentou um cenário: "muitos de vocês têm eleições este ano, vão fazer campanha, vão ser entrevistados, divulgar propaganda. Agora imaginem que não podiam fazer isso, que ninguém podia entrevistar-vos, que seriam detidos apenas por estarem a fazer a vossa campanha... Bem-vindos à Rússia de Putin".
"Não estão a lidar com um político, mas com um monstro violento", salientou, criticando a UE e todos os intervenientes que acham que podem apelar ao bom senso de Putin.
Yulia Navalnaya disse que o Presidente da Federação Russa é "o líder de uma organização criminosa" e, visivelmente consternada, relatou que a organização "inclui envenenadores e assassinos, que são apenas fantoches" dos oligarcas que apoiam Vladimir Putin.
A viúva do opositor exigiu da União Europeia mais do que "declarações de preocupação", pedindo um combate sério e eficaz contra organizações criminosas na UE que "estão a ajudar a Rússia de Putin, a guardar o seu dinheiro e a ajudar a utilizá-lo" para continuar a repressão do regime.
"Putin tem de responder por tudo o que fez ao meu país, a um país vizinho pacífico e tem de responder por tudo o que fez ao Alexei. O meu marido nunca vai ver a Rússia libertada, mas nós vamos", concluiu Yulia Navalnaya, que foi amplamente aplaudida pelas bancadas.
A sessão plenária começou com a exibição de um vídeo que apresentou o percurso de oposição de Navalny ao regime de Vladimir Putin, desde a tentativa de homicídio com recurso a um agente químico, em agosto de 2020, o regresso à Rússia para continuar, o encarceramento e a morte na prisão conhecida como "Lobo Polar", perto do Círculo Ártico, com temperaturas habitualmente de -20 ºC.
O eurodeputado socialista Pedro Marques escutou atentamente a intervenção de Yulia Navalnaya, e depois interveio: "Prestamos homenagem a Alexei Navalny pela sua coragem e sacrifício, pela democracia e pela liberdade do vosso país, contra a tirania e corrupção de Putin. Alexei Navalny pagou o preço mais elevado, mas o seu legado vai ser honrado pela população russa. Desafiou-nos e ouvimo-la bem".