A procuradora-geral da Ucrânia, Iryna Venediktova, disse neste domingo que o seu país identificou cerca de 500 pessoas suspeitas de terem cometido crimes de guerra durante a invasão russa.
Numa entrevista a um canal de televisão britânico, Iryna Venediktova referiu que foram documentados pelo menos 5.600 casos de crimes de guerra, incluindo o ataque com um míssil à estação ferroviária em Kramatorsk, no leste ucraniano (Donbass).
“Foi um míssil russo que matou mais de 50 pessoas [em Kramatorsk]. Essas pessoas apenas queriam salvar as suas vidas, queriam ser retiradas. Eram mulheres e crianças”, afirmou a procuradora-geral, citada pela agência espanhola EFE.
Questionada sobre se o Governo ucraniano tem provas da autoria russa desse ataque à estação ferroviária, Venediktova respondeu de forma afirmativa e acrescentou que 90% das infraestruturas da cidade de Mariupol, no Sul da Ucrânia, foram destruídas após os bombardeamentos que duraram semanas.
“O que estamos a verificar, neste momento, é que os combates continuam na parte leste do país de forma absolutamente brutal e agressiva”, afirmou, indicando que “as regiões de Donetsk, Lugansk e Kharkiv foram alvo de ataques esta noite”.
Iryna Venediktova adiantou ainda que nas últimas horas houve registo de mais de 1.222 mortos na região de Kiev.
“O que estamos a observar no terreno, em todas as regiões da Ucrânia, são crimes de guerra, crimes contra a Humanidade”, sublinhou.
Já fugiu mais de um quarto da população
Mais de 4,5 milhões de pessoas fugiram da Ucrânia desde o início da invasão ordenada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, de acordo com os números atualizados pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) neste domingo.
O ACNUR conta 4.503.954 pessoas refugiadas, mais 62.291 do que o número de sábado, no que é o maior movimento de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
Cerca de 90% destas pessoas são mulheres e crianças, uma vez que as autoridades ucranianas não autorizam a saída de homens em idade de serem incorporados nas forças armadas.
Segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), cerca de 210.000 pessoas de outras nacionalidades também fugiram de território ucraniano, com dificuldades para voltarem aos seus países de origem.
As Nações Unidas estimam que haja ainda 7,1 milhões de pessoas deslocadas no interior da Ucrânia, um número atualizado pela OIM a 5 de abril.
Um total superior a 11 milhões de pessoas – mais de um quarto da população da Ucrânia – foi obrigado a fugir por causa da invasão russa.
A maior parte dos refugiados está na Polónia, que até sábado recebeu 2.593.902 pessoas, embora nesta manhã a contabilidade dos serviços fronteiriços polacos tenha atingido 2,63 milhões.
Na Roménia estão pelo menos 686.232 pessoas refugiadas, grande parte das quais passou primeiro pela Moldova, país que acolheu pelo menos 410.882 refugiados.
Na Hungria estão 419.101 refugiados, 314.485 na Eslováquia e pelo menos 404 mil foram para a Rússia, 113.000 dos quais saíram dos territórios controlados por separatistas pró-russos de Donetsk e Lugansk.
Tudo por causa da ofensiva que a Rússia lançou em 24 de fevereiro – ofensiva que já matou, pelo menos, 1.626 civis, incluindo 132 crianças, e feriu 2.267, entre os quais 197 menores, segundo os mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.
Nações Unidas calculam que cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.