“Menos sal Portugal”. Portugueses consomem o dobro do recomendável
28-01-2019 - 13:34
 • Marta Grosso

Quase um quarto do consumo excessivo deve-se ao pão e aos queijos e charcutaria. Co-autora de um estudo esteve na Manhã da Renascença para explicar tudo.

O consumo de sal em Portugal continua acima do recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Com o objetivo de alertar os portugueses para os efeitos negativos desse hábito, foi criado o programa “Menos Sal Portugal”.

“Estamos a falar de prevenção e de estilos de vida com benefício para a saúde”, refere Conceição Calhau, investigadora do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS) e co-autora, com Jorge Polónia, de um estudo sobre o consumo de sal, elaborado no âmbito da Faculdade de Ciências Médicas.

Segundo a OMS, o consumo de sal por adulto deve ser, no máximo, de 5 gramas por dia. “O professor Jorge Polónia já mostrou que a população está a consumir 10,7 gramas”, indica a investigadora.

“O máximo para as crianças é de três gramas e estão a consumir mais de sete por dia”, acrescenta, considerando “ainda mais alarmante, chegarmos à conclusão de que só cerca de 4,4% da população é que consome a quantidade adequada”.

Os portugueses estão, assim, a consumir o dobro da quantidade de sal recomendada, o que tem efeitos negativo ao nível da saúde, nomeadamente no que diz respeito à hipertensão arterial e ao AVC, “a principal causa de morte” em Portugal.

Queijos e chouriço

“O estudo demonstrou que, ao contrário dos outros países – que maioritariamente têm consumo excessivo de sal à conta da aquisição de produtos processados – em Portugal, 20% do consumo excessivo de sal deve-se ao adicionar em casa, portanto, a uma adição voluntária do consumidor”, explica.

Assim sendo, trata-se de uma ação “mais facilmente modificável pelo consumidor”. Conceição Calhau sublinha, depois, que “25% do consumo excessivo se deve ao pão e aos queijos e charcutaria”, tão apreciados em Portugal.

No plano legislativo, a pretensão de se criar uma taxa para o sal foi chumbada no Orçamento do Estado para 2018. “No entanto, foi feito já um protocolo com a panificação, num compromisso de reduzir o teor de sal”, lembra Conceição Calhau.

“Nós temos uma legislação desde 2009 em Portugal que estabelece o teor máximo permitido de sal em 1,4 gramas por 100 gramas de pão e os objetivos até 2021 é que se consiga 1% por 100 gramas de pão”, avança na Manhã da Renascença, onde esteve esta segunda-feira.

“O português, mais ou menos, consome 180 gramas de pão por dia, em média. Portanto, conseguimos imaginar que, se consumirmos cerca de 200 gramas de pão por dia, já estamos a consumir quase três gramas, o que é muito próximo dos 5 gramas de sal por dia” recomendados.

“Menos Sal Portugal”

O programa nacional de sensibilização sobre o consumo excessivo de sal foi apresentado esta segunda-feira de manhã na Fundação Calouste Gulbenkian.

“Este projeto de investigação e intervenção que vamos agora iniciar e cujos voluntários vamos começar a recrutar na população portuguesa, tem como objetivo principal trabalhar as melhores medidas a implementar, até do ponto de vista político, para conseguir que haja menor consumo de sal e consequências ao nível da saúde – por exemplo, na pressão arterial”, explica Conceição Calhau.

Assim, “ao fim das 12 semanas”, os investigadores contam observar “menor consumo de sal, menor pressão arterial e obviamente, no que diz respeito à medicação, menos intervenção farmacológica”.

Depois, nas “24 semanas a seguir, vamos avaliar até que ponto é que após o desmame da observação ou da intervenção permitiu consolidar alterações do estilo de vida”.

A apresentação do programa “Menos Sal Portugal” contou com a presença da diretora-geral da Saúde, Graça Freitas.