“Algumas das grandes tecnológicas tornaram-se mais poderosas que os estados que as tentam regular”. Quem o diz é Mark MacGann, o homem que durante anos foi lobista da Uber e que acabou por denunciar práticas pouco éticas da empresa, em janeiro de 2022.
No palco central da Web Summit, MacGannan, na origem do escândalo conhecido como Uber Files, considera que “os governos e as democracias estão a perder esta batalha de tentar regular as grandes tecnológicas”.
O caso Uber Files está relacionado com a estratégia adotada pela empresa para entrar no mercado. Mark MacGann explica que, quando a plataforma começou a chegar às ruas das cidades, a legislação não permitia a sua atividade. Os responsáveis da empresa, mesmo sabendo da ilegalidade, promoviam a implementação da mesma.
“Os motoristas eram multados, sovados e até assassinados”, descreveu na Web Summit, mas a empresa continuava.
Também no plano político, embora fazer lóbi seja legal, os documentos evidenciam uma postura “pouco ética” por parte da empresa.
Mark MacGann conta que, na época em que a Uber sofria grande contestação por parte do setor do táxi, ele foi muitas vezes ameaçado, incluindo de morte.
MacGann conta ainda que, em janeiro de 2022, quando revelou o conteúdo de mais 100 mil documentos, questionava-se: “porque é que sou eu a falar, quando tantos outros estão em silêncio”. O próprio dá a resposta: “Se tens o privilégio de estar numa sala e testemunhar atos, então tens o dever de falar”.
“O meu objetivo é falar por milhões de motoristas e estafetas que não têm voz e que apenas pedem decência básica, direitos humanos básicos e proteção social básica”, assegura.