Um estudo realizado por especialistas do Hospital de Dona Estefânia, em Lisboa, revela que há crianças que estiveram infetadas com o vírus SARS-CoV-2 que, mesmo assintomáticas ou com sintomas ligeiros, apresentam lesões cardíacas e pulmonares persistentes.
Em entrevista à Renascença, a médica Maria João Brito, autora do artigo, publicado na Ata Médica Portuguesa, explica que "crianças infetadas pelo vírus SARS-CoV-2 desenvolvem a Síndrome Inflamatória Multissistémica".
"É uma complicação rara, descrita principalmente em crianças, embora seja também diagnosticada em jovens adultos", acrescenta a médica.
O estudo centrou-se nos internamentos por Covid de abril de 2020 a abril de 2021 e concluiu que entre as 312 crianças internadas, 45 (14,4%) tiveram Síndrome Inflamatória Multissistémica (MIS-C), a primeira a 23 de abril de 2020.
A infeciologista pediátrica explica que "representa uma resposta desadequada do sistema imunológico face a uma infeção pelo vírus".
Maria João Brito acrescenta que "a maior parte das crianças tem uma doença assintomática e benigna" e não tem complicação, mas há, no entanto, uma percentagem em todo o mundo que apresenta esta Síndrome Inflamatória Multissistémica meses mais tarde.
Os médicos revelam que as crianças afetadas têm em média 7 anos e a maioria são rapazes. O vírus pandémico poupa, habitualmente os mais novos, mas há esta exceção. Dos casos, 27 (60%) eram saudáveis e 18 (40%) tinham uma doença crónica: obesidade, asma, doença renal, malformação cardíaca congénita ou epilepsia, por exemplo.
À Renascença, a infeciologista pediátrica acredita que as crianças que apresentam esta síndrome têm uma predisposição genética.
A médica explica que "apesar de rara, é fácil ser detetada pelos médicos".
Os sintomas são facilmente identificados pelos profissionais e "não deve haver motivo para alarme".
Ainda assim, os médicos alertam que a saúde cardíaca e pulmonar pode ressentir-se, daí que seja aconselhável o acompanhamento prolongado destas crianças.