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O Dia Mundial do Livro costuma ser de festa, mas o vírus da Covid-19 também está a deixar o setor do livro nos cuidados intensivos. A atividade parou, as quebras de venda são de um milhão à semana. Estima-se que em maio as perdas possam ascender a 30 milhões de euros.
Em sintonia, os dois principais grupos editorias portugueses, Leya e Porto Editora referem que é o pior momento de sempre. São muitos os livros que ficaram por imprimir, as livrarias estão fechadas há três semanas e as vendas pela internet não compensam a perda gerada por esta paralisação no setor do livro.
Também aqui batalha-se pela sobrevivência, com prejuízos avultados. Nas contas de Pedro Sobral, coordenador editorial da Leya, o mercado “perdeu quase 80% do seu valor nestas três semanas. Estimamos que terá uma perda de 28 a 30 milhões de euros no início de maio”.
Em declarações à Renascença, Pedro Sobral, responsável do grupo que detém editoras como a Caminho e a D. Quixote, refere que “o setor é constituído na sua maioria por pequenos editores e livreiros que batalham neste momento pela sobrevivência. Independentemente dos outros editores que pertencem a este setor, é uma situação aflitiva”.
O livro é a indústria cultural que mais tem contribuído nos últimos anos para o Produto Interno Bruto (PIB).
“O setor está a perder cerca de um milhão de euros por semana. É um setor que faturava, segundo a GfK, cerca de 150 milhões de euros ao ano em venda de livros”, contabiliza Vasco Teixeira, administrador do Grupo Porto Editora.
Este responsável do grupo que tem chancelas como a Quetzal, Assírio e Alvim e a Livros do Brasil aponta que perdas de “10% a 30%”. Vasco Teixeira indica que tudo “vai depender do ritmo de retoma” que, considera, “vai ser lento.”
A APEL, que representa editores e livreiros, reuniu-se esta semana com o Ministério da Cultura. A ministra Graça Fonseca recomendou que procurasse soluções nas medidas transversais do Governo.
Esta quinta-feira, o Ministério da Cultura anuncia, em comunicado, a disponibilização de 400 mil euros para a aquisição de livros a pequenas editoras e livrarias.
Setor pede medidas de urgência. “Temos anos muito negros pela frente”
Pedro Sobral, da Leya, que é também vice-presidente da APEL, diz que são necessárias medidas de urgência para pensar a saída da crise. “O setor precisa de um apoio que permita sustentadamente olhar para a frente. Este mercado perdeu até 2018, 25% do seu valor. Não o tinha recuperado, aliás estava lentamente a recuperar, e isto foi um golpe tremendo num setor que por si tem bastantes fragilidades. As medidas que a APEL apresentou são de curto prazo e têm urgência – não me vem à cabeça outra palavra”.
Do que resultou da reunião com o Ministério, mais uma vez, o setor editorial e livreiro sente que vai ter de agarrar o destino com as próprias mãos, aponta Vasco Teixeira.
O administrador da Porto Editora perspetiva anos negros pela frente e teme que os apoios não cheguem.
“Temo que não vá chegar para setores como as livrarias. Os editores estão a montante das livrarias e, por isso, a grande preocupação dos editores neste momento é com as livrarias que têm obviamente o problema do poder de compra que vai cair muito. Por isso, as perspetivas são de uma brutal quebra nas vendas, mesmo depois da retoma. O consumo de livros não vai recuperar e, por isso, temos pela frente dois, três anos muito negros. Esperar-se-ia mais sensibilidade da parte da ministra da cultura com este setor que é o principal setor da aérea cultural.”
Para dinamizar o Dia Mundial do Livro, a Leya lança esta quinta-feira um clube de leitura. Chama-se “Próximo Capítulo” e “não é mais do que um clube de leitura transportado para o mundo digital. Pretende-se que seja um espaço de partilha de livros de quem os faz para quem os lê”, indica Pedro Sobral.
Também a Porto Editora desafia, através das suas redes sociais, a oferecer um livro com uma dedicatória. Há 80 títulos disponíveis. Mas a melhor receita é mesmo ler, sublinha Vasco Teixeira. “Ler é uma vitamina para o cérebro nestes dias de confinamento em que os portugueses estão fechados em casa. O livro é um grande companheiro”.