Parece o ruído de um giz, mas é o som da caneta digital a clicar no “smartboard” de uma das 27 salas da Escola Básica General Serpa Pinto de Cinfães, todas equipadas com os novos quadros. "Uma revolução" na sala de aula.
Idálio Loureiro, 48 anos, dá aulas há 25 anos. É professor de Português. “Exige algum treino escrever nestes quadros, mas é motivante, desafiante para nós e para eles que são uma preciosa ajuda nesta transformação”, assume.
O docente realça os benefícios da experiência. “Permite-me ganhar tempo útil da aula, com o texto projetado, permite assinalar aqui diretamente, e ter acesso aos recursos da escola virtual à distância de um clique, é uma mais-valia enorme”, conclui Idálio Loureiro, que está pela primeira vez a dar aulas em Cinfães.
Outro som se escuta na biblioteca: “é mais uma impressora 3D, que adquirimos”, mostra o diretor do agrupamento, Manuel Pereira, de 64 anos.
“Esta é uma escola pública 100% digital”, garante, sem se querer comprometer com a afirmação de que é a única escola pública no país nestas condições.
“Provavelmente somos a primeira escola pública do país a ter smartboards em todas as salas de aula, mas não sei se seremos a única. Resultou de um grande desafio recorrendo a uma candidatura ao Programa Operacional Potencial Humano, onde foram adquiridos 27 smartboards, um quadro interativo com captura de dados e recursos de touch-screen e 100 computadores all in one, num investimento global a rondar os 200 mil euros”, revela o responsável.
Pandemia foi o pontapé de saída para a revolução digital
Manuel Pereira, que assume a direção da escola há mais de duas décadas, conta que o objetivo da candidatura a fundos comunitários, lançada há um ano, para se tornarem numa escola 100% digital, partiu da ideia de “criar mecanismos de remotivação das pessoas” depois do abalo provocado pela pandemia no meio escolar.
“Depois de uma pandemia que nos isolou, era preciso encontrar soluções para motivar as crianças e os professores. Desde o dia 10 de janeiro, houve uma revolução na escola, depois de termos passado aqui as férias de Natal a implementar tudo, fizemos formação prévia e nunca mais ninguém se lembrou de pedir para usar o quadro preto”, observa o docente e diretor do agrupamento.
Os “smartboards” de 75 ou 86 polegadas são “ecrãs imensos” e permitem “um infinito de possibilidades, partilhar o quadro, o ecrã, em casa ou na escola”, defende Manuel Pereira, argumentando que “era uma ambição da comunidade”.
“Percebemos que os alunos estão extremamente motivados para a utilização destas ferramentas, a escola que tínhamos, era uma escola do século XX, onde se trabalha há mais de 100 anos no quadro preto. O fantástico disto tudo é que os alunos foram formando os professores, iam sugerindo também, num processo de aprendizagem partilhado”, enaltece, sem deixar de referir que a escola de Cinfães está inserida “num território TEIP - Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP) onde há problemas de ordem social que se refletem na escola. Com recurso a estas novas tecnologias é possível ganhar os alunos para trabalharem mais”, conclui Manuel Pereira.
Ninguém já quer saber dos quadros pretos de ardosia, nem os professores mais antigos, como Mário Crescêncio, 66 anos, há mais de 40 anos professor de Português e Francês.
“É como diz Fernando Pessoa, primeiro estranha-se e depois entranha-se. Pensei que não conseguia lidar com isto com mestria e passei a ter uma opinião completamente diferente, facilitam-nos a vida, tem muitas funcionalidades e a ainda só conheço algumas”, refere.
Professores tiveram formação e alunos ajudam
A aprendizagem dos novos recursos está a ser feita com a ajuda da professora de Informática Madalena Pinho, de 46 anos.
“Dou alguma formação ao nível básico, os professores estão a experimentar os quadros, fazemos um trabalho colaborativo de aprendizagem, até com os alunos”, afirma, salientando que os problemas de falha de rede foram solucionados. “Foi uma mudança drástica. Queixávamo-nos dos problemas de internet e com os novos computadores, a internet passou a ser rápida em toda a escola”.
Os “smartboards” conquistaram os alunos Hugo Silva, de 14 anos, e Ana Moreira, 13 anos, que frequentam o 8º ano.
“Está a ser uma experiência boa, principalmente nas aulas síncronas. É tipo uma televisão, depois tem uma caneta como se fosse um giz e depois é tudo eletrónico”, explica Hugo, ao mesmo tempo que Ana se apressa a dizer que gosta muito mais de aprender com o “smartboard”. “Os professores nos outros quadros, tinham de carregar muito no giz e não se via nada, e mesmo estando com as persianas abertas vê-se perfeitamente. É muito mais fácil assim, o espaço nunca acaba para escrever”, destaca.
A dar aulas de Matemática ao 5.º ano, o professor Óscar Gomes, de 53 anos, docente há mais de 20, recorda que em 1996 “dar aulas era bem diferente, só com papel e lápis, já estes quadros são bastante intuitivos”.
Simão Filipe tem 10 anos e já nasceu num mundo rodeado por dispositivos tecnológicos e aprova a revolução digital que chegou a Cinfães. “É fixe, dá para fazer muitas coisas, prefiro este, é mais tecnológico”, assume Simão.
Iara Vasconcelos, de 11 anos, conta que “vê melhor, este quadro tem mais brilho e dá para fazer mais coisas. Quando fazemos somas é mais fácil, é mais fácil de ver do que no quadro de giz”, declara.
Desde o dia 10 de janeiro, que esta escola básica de Cinfães se assume como 100% digital ao mesmo tempo que em redor do recinto escolar plantam árvores de fruto e onde não se escutam campainhas, mas música clássica de toque de entrada e saída.