As vacinas da Astrazeneca e da Janssen/Johnson&Johnson usam vetores adenovirais (tal como a CanSino Biologicals e a Sputnik V). É uma tecnologia é diferente da do RNA mensageiro, utilizada pela Pfizer e pela Moderna.
Como funciona uma vacina com vetores adenovirais?
Os cientistas pegam num adenovírus (uma grande família de vírus existente em humanos e outros animais e que podem causar a constipação comum) e removem qualquer material genético que possa permitir que o vírus se espalhe ou cause doenças.
Inserem então instruções genéticas sobre como criar um alvo na superfície de outro vírus – no caso da Covid-19, usam as instruções para fazer a “proteína do pico” na superfície do vírus SARS-CoV-2.
Para o sistema imunitário, um vetor adenoviral parece um vírus grave, pelo que existe uma reação, e é por isso que existem efeitos secundários mais percetíveis, como febre, fadiga e dor no braço, alguns dias após a vacina.
Mas diferentes adenovírus usam diferentes pontos de acesso (conhecidos como recetores), para entrar nas nossas células, o que pode resultar respostas imunitárias muito diferentes. Embora os vetores possam partilhar algumas características, também podem ser biologicamente muito diferentes.
Ora, cada uma destas vacinas com vetores adenovirais utiliza um diferente tipo de adenovírus. A Sputnik V e a CanSino usam um chamado "rAd5"; a J&J usa o chamado “rAd26”, que instrui as células a fazer uma proteína de pico, que é bloqueada de uma forma específica para ajudar o sistema imunológico a reconhecê-la, e é entregue à superfície da célula; a AstraZeneca usa o “chAdOx01”, que instrui a célula a fazer uma proteína de pico que não está travada no lugar e pode ser segregada pela célula.
Por isso, cada vacina adenoviral está associada a um determinado efeito no organismo – como seja coágulos sanguíneos. Não significa, contudo, que todas as vacinas desta família tenham o mesmo efeito. É, contudo, algo a ser investigado pelos reguladores.
O que causa os coágulos?
Não existem ainda conclusões sobre a relação entre uma “trombocitopenia trombótica imune induzida por vacina” (VITT, na sigla em inglês) e as vacinas. Para já, tudo indica que o aparecimento de coágulos em pessoas vacinadas com a AstraZeneca e a Johnson&Johnson será causado por uma resposta imune pouco comum.
Esta reação tem sido verificada entre quatro e 20 dias após a inoculação.
Para já, os reguladores têm adotado uma atitude cautelosa e desaconselhado estas vacinas a menores de 55 anos e pedindo mais vigilância sobre as outras pessoas.
Pretendem, assim, encontrar um equilíbrio entre um risco, considerado muito raro, de tromboses (VITT) e o risco real de morte e doença, causado com pela Covid-19.
Pfizer com mais efeitos secundários em Portugal
Segundo a EudraVigilance, o sistema europeu de monitorização de efeitos adversos dos medicamentos, a maior parte dos efeitos secundários relatados em Portugal decorrem da vacina da Pfizer: 3.000, de um total de 3.650 notificações.
No caso da AstraZeneca, os relatos representam 15% do total (cerca de 500).
É, contudo, importante referir que, de acordo com os dados disponibilizados pela mesma fonte, a maioria das vacinas administradas em Portugal ainda são da farmacêutica norte-americana (1,4 milhões de doses de Pfizer), enquanto à AstraZeneca correspondem 388 mil doses.
Em termos europeus, são mais as mulheres a sofrer os efeitos secundários das vacinas, representando quase 75% das notificações recebidas relativas à AstraZeneca.