Na aproximação do Dia Europeu contra o Tráfico de Pessoas, que se assinala a 18 de outubro, a presidente da Comissão de Apoio às Vítimas do Tráfico de Pessoas (CAVITP), ligada à Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal (CIRP), divulgou uma mensagem onde condena quem vive da exploração de seres humanos, tratados como mercadoria.
“Este ano não vou falar das vítimas. Vou destacar os traficantes e os clientes, para quem, respetivamente, as pessoas são apenas mercadoria que dá muito dinheiro, ou meros objetos, como instrumentos baratos de trabalho e/ou de prazer” escreve a irmã Maria Julieta Mendes no texto enviado à Renascença.
Para esta responsável, “se não houvesse procura, a oferta não seria tão avultada”. E acrescenta: “para mim, traficantes e clientes, são pessoas sem dignidade humana e, por isso, não reconhecem a sagrada dignidade de cada ser humano”.
“O meu grito de hoje vai para eles: recuperem a vossa dignidade humana, tornem-se seres verdadeiramente humanos. Não são as outras pessoas que roubam a nossa dignidade, somos nós que a destruímos em nós mesmos, quando julgamos os outros como coisas que podemos vender, comprar e deitar fora quando já não nos dão lucro”.
Julieta Mendes é das Religiosas do Sagrado Coração de Maria, uma das congregações femininas que em 2007 criou a CAVITP – a Comissão de Apoio às Vítimas do Tráfico de Pessoas, e que atua no âmbito da CIRP, colaborando também com as entidades civis e oficiais no combate a este crime que tem vindo a crescer a assumir novas formas.
Um dos objetivos da Comissão é sensibilizar a opinião pública para a detecção e denúncia das situações de exploração, ajudando a prevenir e bloquear as redes de tráfico.
Na mensagem divulgada esta quinta-feira, Julieta Mendes diz esperar que o seu “grito” de alerta se faça ouvir e ajude as potenciais vítimas de tráfico, distinguindo as boas intenções de ajuda da possível escravidão. “Que alguma pessoa, desesperada pela fome, pela guerra e que ainda mantenha sonhos, o ouça e seja capaz de sentir a diferença entre uma ajuda gratuita e um aliciamento mercantil”.
E conclui: “continuo a gritar porque acredito em Martin Luther King quando disse: «o que me preocupa não é o grito dos violentos, é o silêncio dos bons». E eu não quero ficar em silêncio perante este flagelo horrendo”.