O Corredor Ferroviário do Sul arranca esta segunda-feira, com o lançamento do concurso para a construção do troço entre Évora e Elvas e o início da obra de modernização entre Elvas até à fronteira do Caia. É a concretização de uma notícia antecipada, em janeiro, pelo próprio primeiro-ministro quando participou, em Évora, numa reunião do Conselho Regional da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo.
Na ocasião, António Costa declarou serem “dois momentos importantes” a ocorrer no primeiro trimestre deste ano, e que “marcam o arranque da construção deste eixo ferroviário”.
O chefe do Governo considerou o projeto como um “dos investimentos mais estruturantes do Portugal 2020”. O Corredor Ferroviário do Sul salientou, “é absolutamente fundamental para podermos proceder a uma boa inserção” do conjunto da região do Alentejo na Europa, mas também para “valorizar devidamente essa extraordinária plataforma atlântica que a região dispõe que é o porto de Sines”.
Declarações que o ministro do Planeamento Pedro Marques certificou, na última semana, em Lisboa, referindo-se à ligação de comboio entre Évora e Elvas, como a “maior obra ferroviária dos últimos 100 anos em Portugal”.
Também o gabinete do chefe do Governo espanhol, Mariano Rajoy, deu conta da deslocação do primeiro-ministro de Espanha, esta segunda-feira, a Elvas para assistir ao lançamento deste concurso.
Aos chefes dos governos de Portugal e Espanha junta-se a comissária europeia dos Transportes que tem vindo a destacar a importância da construção do troço de caminho-de-ferro entre Elvas e Caia, permitindo a Portugal "desenvolver a sua rede de transportes e ligar-se juntamente com Espanha ao resto da Europa".
Violeta Bulc, em declarações aos jornalistas antes desta sua visita a Portugal, salientou a importância de uma rede ferroviária europeia moderna e abrangente para garantir o acesso direto de todos os Estados-membros ao mercado único, apontando que "faltava este troço para colocar Portugal a bordo".
Ainda sobre o Corredor Ferroviário do Sul, em comunicado enviado à agência Lusa, o ministério tutelado por Pedro Marques anunciou que o investimento na construção de troço entre Elvas e Évora é de 509 milhões de euros e obra deverá começar no primeiro trimestre de 2019, para ficar concluída em 2022.
O Plano Ferrovia 2020, que promove as ligações com Espanha e a modernização dos principais eixos ferroviários, engloba, no total, um investimento superior a dois mil milhões de euros, dando especial destaque ao transporte de mercadorias e ao transporte público de passageiros.
Apesar de não avançar números, o Governo revela ainda que, em março, vai iniciar-se, também, a obra da linha da Beira Baixa, que permitirá a utilização do troço entre Covilhã e a Guarda, que estava encerrado há uma década.
84,1 quilómetros de novas vias
Em outubro de 2017, esteve em consulta publica o projeto de execução da nova linha ferroviária entre Évora Norte e a fronteira do Caia, parte integrante do Corredor Internacional Sul que liga os portos de Lisboa, Setúbal e Sines a Badajoz.
Este projeto de ligação ferroviária integra três novas ligações ferroviárias. São elas: Linha de Évora (Évora Norte); Concordância de Elvas e Linha do Caia.
No total são 84,1 quilómetros de novas vias que vão atravessar os concelhos de Évora, Redondo, Alandroal e Elvas, não estando prevista, pelo menos nesse documento do Governo disponibilizado para consulta publica, qualquer paragem de passageiros.
Ainda assim, uma projeção elaborada pela REFER, em 2014, no que toca à exploração, no troço entre Évora Norte e Elvas-Caia, previa que circulassem oito comboios de passageiros e 14 de mercadorias por dia, nos dois sentidos. Os primeiros, de passageiros, a uma velocidade máxima de 250 Km/h, enquanto os de mercadorias viajariam no máximo a 120 Km/h.
O traçado do eixo ferroviário Sines-Badajoz, deixou nesta altura, município e população de Évora em polvorosa, tendo os técnicos da câmara que estudaram o projeto, verificado que produzia um “corte brutal feito dentro da cidade de Évora”. Da estação de Évora até ao PK (ponto quilométrico) 126,0 em Évora Norte, estava previsto o traçado seguir o canal da antiga linha de Évora, que atravessa duas zonas da cidade.
Depois dos protestos realizados pela população e pela autarquia contra a passagem dos comboios naquele local, o traçado ainda se encontra em fase de apreciação no âmbito de outro estudo.
Em declarações recentes à Renascença, o presidente Carlos Pinto Sá afirmava que foi feito "um acordo com o Governo” para não usar esse traçado que previa a passagem zona urbana, referindo que estão em estudo alternativas.
Toda a infraestrutura ficará preparada para a eventual construção, no futuro, de uma nova linha de alta velocidade entre Lisboa e Évora, com ligação a Madrid.
A urgência da comissária europeia
Recentemente, em entrevista ao jornal “Expresso”, Violeta Bulc afirmava que Portugal e Espanha deviam chegar, o mais depressa possível, a um acordo para o desenvolvimento do Corredor Ferroviário do Atlântico.
A responsável europeia pela Mobilidade e Transporte considerou “urgente” completar todos os corredores previstos, antes de 2030, nomeadamente o troço transfronteiriço que vai ligar Évora a Mérida.
Em causa, justificava ao semanário, os efeitos que o Brexit trará para as contas comunitárias.
“Depois do Brexit temos, também, de encontrar novas regras para fazer mais, mas com o mesmo dinheiro”, ou seja, “fazer mais mas com menos”, declarou.
A ligação de alta velocidade Sines - Lisboa/Madrid é um projeto primordial para a Europa, o troço Évora-Mérida, fundamental nesta rede.
“É uma peça importante que falta no corredor de transporte de mercadorias que vai de Portugal a Espanha e até França”, acentuou a Comissária com a pasta dos Transportes.
No início de fevereiro, em entrevista ao diário espanhol ABC, o primeiro-ministro português disse que a construção de uma linha para comboios de alta velocidade entre Lisboa e Madrid, é um assunto “tabu” em Portugal e assim deverá continuar “por muito tempo”.
Ao “Expresso”, Violeta Bulc desvalorizou, dizendo que mais do que a alta velocidade, o importante é garantir as ligações previstas e cumprir o que está acordado.
“Há critérios europeus e dinheiros envolvidos”, sublinhou, logo “é necessário cumprir esses critérios que incluem as ligações transfronteiriças e a construção das que estão em falta”.
A construção da linha de alta velocidade, assim como a construção do novo aeroporto de Lisboa, tinham sido determinadas pelo Governo socialista encabeçado por José Sócrates. Em 2011, quando chegou ao Governo, Pedro Passos Coelho colocou um travão nestes investimentos, empregando medidas de austeridade como moeda de troca para o empréstimo da Troika.