Espírito Santo Internacional “nunca tinha sido auditada", diz revisora de contas em tribunal
28-10-2024 - 13:41
 • Liliana Monteiro

No julgamento caso BES foi ouvida, esta segunda-feira, a revisora de contas que fez a auditoria especial a parte do GES em 2013.

Inês Neves, revisora oficial de contas, que integrava a KPMG aquando do colapso do GES, afirmou esta segunda-feira ao coletivo de juízes que julga o caso GES que, por ordem do Banco de Portugal, não foi realizada qualquer auditoria às contas da Espirito Santo Financial Group (holding do BES) e da Rio Forte Investements (empresa sediada no Luxemburgo pertencente ao grupo Espirito Santo), tendo sido feita uma revisão limitada à Espirito Santo International (ESI).

“Descobrimos que a empresa (ESI) nunca tinha sido auditada”, sublinhou a testemunha. Como a ESI não tinha as contas auditadas, em alternativa avançou-se para uma revisão limitada para um balanço das contas.

Inês Neves explicou que trabalhou com Ricardo Salgado entre 2002 e 2014 quando trabalhava na KPMG, mas foi em 2013 que, a pedido do Banco de Portugal, começou com uma equipa a fazer a revisão das contas do GES.

De resto, relatou ainda que em novembro desse ano, numa das reuniões de trabalho, o supervisor bancário mostrou-se surpreendido com a dívida que se esperava rondar os 3,4 mil milhões, mas rondava nessa altura 5,7 mil milhões, uma realidade que era desconhecida. A dívida da ESI tinha aumentado “significativamente” e não havia verba para cobri-la.

A meio do trabalho, segundo Inês Neves, a equipa de auditores sentiu necessidade de dirigir uma carta ao Banco de Portugal onde expunha preocupações, “o filme era outro e isso preocupou-nos”. A testemunha revelou que havia “muitos acontecimentos” entre o final de 2013 e junho de 2014 que fizeram soar alarmes.

“Havia uma diferença muito grande. No final de 2013, a exposição do BES à ESI era muito pequena, assim como ao GES, mas depois isso mudou”, disse a testemunha, adiantando que, “em junho de 2014, a ESFG aumentou a exposição à ESI em 900 milhões, isto em apenas seis meses e o BES aumentou a exposição à ESFG em 550 milhões de euros”.

Mas havia mais a preocupar a equipa que revisitou as contas: em junho desse ano “o plano de restruturação da ESI não tinha sido implementado o que nos deixou desconfortáveis”.

Inês Neves contou ainda ao tribunal que, no início dos trabalhos, “não chegavam listas de ativos”, as informações tardavam em chegar, havia situações de valores que não estavam “sustentados com documentação”, valores entrados na ESI sem explicação ou resposta às questões levantadas pela equipa que fazia a auditoria e revisão das contas.

“Não estávamos certos de que estávamos a incluir todas as entidades para verificação de contas. Não estávamos certos que o perímetro de consolidação estava completo”, confessou.

A testemunha explicou que todos os investimentos e ativos com representação acima dos 20% eram tidos em conta no exercício que estava a ser feito na auditoria, e quis a juíza saber por que motivo, afinal, não estavam plasmados na avaliação feita.

“Aquilo era um pró-forma de consolidação de contas e os pressupostos foram definidos pelo Banco de Portugal”, explicou a revisora oficial de contas. E esclareceu ainda que os relatórios finais das auditorias, (produzidos em setembro e dezembro de 2013) foram entregues ao Banco de Portugal e remetidos também para o BES e ESI.