Salman Rushdie iniciou “o caminho para a recuperação” após ter sido esfaqueado, mas o percurso será longo, disse este domingo o agente do escritor.
“Ele já respira sem ventilador, então a estrada para a recuperação começou”, declarou Andrew Wylie, numa atualização do estado de saúde do autor de “Versículos Satânicos”.
“O caminho será longo; os ferimentos são graves, mas sua condição de saúde está na direção certa", segundo o agente de Salman Rushdie.
O escritor, de 75 anos, foi esfaqueado na sexta-feira durante um evento literário, no estado norte-americano de Nova Iorque, e foi transportado para o hospital em estado crítico.
Rushdie terá sofrido cerca de uma dezena de golpes de arma branca, no pescoço, num braço e noutras zonas do corpo.
O suspeito do ataque, Hadi Matar, declarou-se no sábado inocente em tribunal depois de ter sido acusado de tentativa de homicídio e agressão, com o procurador a considerar que se tratou de um crime premeditado.
O suspeito apareceu no tribunal vestido com um macacão preto e branco e uma máscara facial branca e algemado.
As autoridades de Nova Iorque acusaram Hadi Matar de tentativa de homicídio e agressão e o juiz ordenou a sua detenção sem caução.
O procurador Jason Schmidt acusou Matar de ter premeditado e planeado o ataque, nomeadamente obtendo um bilhete de entrada antecipado para o evento em que Salman Rushdie iria discursar e chegando um dia mais cedo com uma identificação falsa.
"Este foi um ataque dirigido, não provocado, pré-planeado ao Sr. Rushdie", disse Schmidt.
O defensor público Nathaniel Barone queixou-se de que as autoridades tinham demorado demasiado tempo a levar Matar perante um juiz, deixando-o "algemado a um banco na esquadra da polícia estatal".
"Ele tem o direito constitucional de presunção de inocência", disse Barone, depois de ter apresentado a alegação de inocência das acusações.
Matar, de 24 anos, vive no estado vizinho de Nova Jérsia e ainda é desconhecido o motivo que o levou a agredir o escritor britânico.
Nascido na Índia, em 1947, numa família de cultura muçulmana, Salman Rushdie estudou História em Inglaterra onde trabalhou como publicitário. Publicou em 1975 “Grimus”, o seu primeiro romance. Mas foi o seu segundo livro “Os Filhos da Meia-Noite”, com que venceu o Booker Prize que lhe trouxe o sucesso.
Chegou a viver no Paquistão, o país que lhe serviu de cenário ao livro “Vergonha” de 1983. Em 1988 lançou o livro que lhe mudou a vida. “Versículos Satânicos” deu-lhe notoriedade mundial quando o ayatollah Khomeini decretou sobre si uma sentença de morte. Essa sentença obrigou-o a esconder-se do mundo, viveu sobre a proteção da Scotland Yard uma vida recatada que só terminou no final da década de 90, mas que lhe deu matéria literária.
No livro biográfico “Joseph Anton – Uma memória”, editado em 2012, revela a identidade falsa que assumiu enquanto viveu escondido.
Mas a sua segurança foi sempre uma questão, até porque, no Irão o seu livro continua proibido e a liderança espiritual do país oferece uma recompensa pela sua vida. Na biblioteca que foi escrevendo, Rushdie tem também livros marcados por fábulas e escritos para os mais novos. Exemplo disso é "Luka e o Fogo da Vida" que escreveu para o seu filho.
Desde 2000 que vivia nos Estados Unidos e os atentados do 11 de setembro serviram de inspiração para a obra “Dois Anos, Oito Meses e Vinte e Oito Noites”. Nos últimos livros que escreveu revisitou um clássico da literatura. D. Quixote de Cervantes foi transformado e pontuado pelo humor da escrita de Rushdie.