A mais de 10 mil quilómetros de Lisboa, em Seul, na Coreia do Sul, Joohyun Lee vive ao ritmo do calendário cristão. À medida que a Páscoa se vai aproximando, admite sentir-se cada vez mais feliz. “Jesus ressuscitou e é essa a minha esperança”, frisa o jovem acólito e catequista. “No Domingo de Páscoa, depois da missa, costumamos fazer, na paróquia, uma refeição de noodles, um prato muito popular na Coreia. É muito bom”, conta.
Nestas semanas de Quaresma, em que os católicos se preparam para viver a celebração da ressurreição de Cristo, Joohyun Lee tem-se juntado aos encontros de oração propostos por D. Peter Chung Soon-taek, o arcebispo de Seul que, este ano, convidou os jovens do país a rezarem o terço pela próxima Jornada Mundial da Juventude (JMJ), agendada para a cidade, em 2027.
“Num dos momentos em que estivemos reunidos, falámos sobre os santos mártires coreanos e o arcebispo deixou-nos a seguinte questão: ‘Como é que cada um de nós pode viver como eles?’”, recorda o coreano de 32 anos, que o ano passado esteve um mês a trabalhar na JMJ de Lisboa, e que atualmente faz parte dos quadros de uma estação de televisão católica coreana. “Desde que regressei, tenho partilhado a minha experiência com vários grupos. Foram incríveis as semanas que passei em Portugal”.
Recentemente, também recebeu um convite para integrar uma das equipas de comunicação do evento. “Há muito tempo que esperava uma JMJ na Coreia, talvez desde 2019”.
Segundo Joohyun Lee, “os coreanos são muito ligados à Igreja. Estudam a Bíblia e vão à missa todas as semanas”. A organização social talvez ajude a explicar uma parte desta adesão à fé, assume. “O serviço militar é obrigatório para todos os rapazes e a ida à eucaristia também. Aliás, muitos são batizados no serviço militar”, relata.
É quase inevitável que, depois da Jornada Mundial da Juventude, muitos dos jovens envolvidos no encontro com o Papa Francisco continuem a falar dos frutos espirituais do evento, e os transportem para a Páscoa. Para Mariana Craveiro, que fez parte do departamento de comunicação do evento e hoje trabalha na área internacional de uma seguradora, pode mesmo fazer-se uma analogia entre as duas ocasiões. “Durante algum tempo, vivemos muito só para preparar a JMJ e esse era o grande momento. Depois percebemos que, tal como a Páscoa não se encerra em si e nos dá a vida, também a Jornada não termina naquele momento e ajuda-nos no dia-a-dia”, considera.
Aos 25 anos, a jovem da paróquia de São Lucas de Freiria, Torres Vedras, conta que, à semelhança do que ocorreu no verão passado, quando conheceu jovens dos cinco continentes, e sucede atualmente com os adolescentes que acompanha na catequese, em primeiro lugar “consegue ver Deus a acontecer nos outros”.
Por isso, tem dedicado mais tempo ao grupo e à família. “Tenho tentado estimular a que, lá em casa, a Quaresma seja vivida com algum rigor, digamos assim”, diz, entre risos, contando que tem procurado rezar mais. No fundo – acrescenta – trata-se de “viver o dia-a-dia na presença de Deus”.
Olhando para os meses em que trabalhou na JMJ, Mariana Craveiro afirma que “o maior fruto” que Deus lhe deu então “foi a paciência e a calma”. “Isso ajuda-me a viver a Quaresma com mais maturidade.”
É também nas pequenas coisas que David Rodrigues, de 24 anos, tem focado a atenção nas últimas semanas. “Casei-me há pouco tempo e de repente, além do trabalho, tenho uma data de coisas para fazer: arrumar e limpar a casa, cozinhar, ir ao supermercado, ir buscar o carro ao mecânico, entre outras coisas”, conta o jovem da paróquia da Brandoa, que, no meio da azáfama, tem procurado viver ao “serviço da família e do trabalho”.
Para este jovem que faz parte do Caminho Neocatecumenal, e teve oportunidade de receber uma cruz das mãos do Papa Francisco, durante a JMJ, a Quaresma tem sido uma oportunidade para ser mais coerente. “Se calhar podia propor-me a rezar o terço e a ir à missa todos os dias, e a fazer uma data de outras coisas, mas depois falhava naquilo que Deus me pede no dia-a-dia, andando impaciente, sem conseguir dar-me aos outros, sem fazer o que é preciso em casa.” E sublinha: “Procuro oferecer este tempo a Deus, invocando o Espírito Santo todas as manhãs. Também rezo de manhã e à noite com a minha mulher e isso vai-me ajudando a viver esta altura mais exigente”.
David Rodrigues trabalhou na organização do Festival da Juventude (um conjunto de eventos religiosos e culturais integrados no programa da JMJ), um período que recorda como “espiritualmente intenso” e que o ajuda a não esquecer a importância de um diálogo com Deus.
“Procuro lembrar-me que uma vida ocupada não significa [uma vida] sem oração. Basta recordar a Madre Teresa de Calcutá que, no meio de tantas atividades, rezava muito”.
“É através dos atos que posso falar de Deus”
Sete meses depois de o Papa Francisco ter regressado ao Vaticano, na sequência do encontro com a juventude mundial, o evento continua a ecoar também do outro do Atlântico.
Após nove meses em Lisboa, a trabalhar no Comité Organizador Local, a guatemalteca Yesvi Elías regressou ao seu país, onde tem procurado “partilhar o amor que recebeu”.
“Estou convencida de que é através dos meus atos, do meu sorriso, da forma como ajudo os outros que posso falar de Deus aos outros”, considera, acrescentando que, apesar de ter procurado Deus nas edições da JMJ de Cracóvia 2016 e de Lisboa 2023, e de aí “ter encontrado um pedacinho de céu”, “onde mais O sentiu e mais tocou a Sua pele” foi com os mais pobres.
“Foi aqui na Guatemala, quando ajudei a lavar os pés e a cortar o cabelo a pessoas sem-abrigo que estive mais perto de Deus”, recorda Yesvi Elías, que aos 33 anos trabalha em marketing.
“Enche-me o coração pensar que, mesmo carregando uma cruz, caminhamos para a Luz. Deus deu-se por nós, pelos nossos pecados. Foi doloroso, mas não ficámos aí”, assegura.