Franco no centro da polémica. Espanha queixa-se de “ingerência” do embaixador do Vaticano
01-07-2019 - 11:32
 • Filipe d'Avillez

O núncio apostólico Renzo Fratini disse que o Estado espanhol está a tentar “ressuscitar Franco” ao insistir na sua exumação. O Governo não gostou e queixa-se à Santa Sé.

O Governo espanhol vai enviar esta segunda-feira uma queixa formal ao Vaticano por causa da atuação do representante diplomático da Santa Sé, o núncio apostólico, a propósito do assunto da exumação dos restos mortais do Generalíssimo Francisco Franco.

O núncio Renzo Fratini disse numa entrevista que o Governo espanhol quer “ressuscitar Franco” ao insistir na sua exumação, dando a entender com esse comentário que o Estado ameaça reabrir feridas do tempo da Guerra Civil de Espanha.

Em entrevista à espanhola Cadena Ser, a vice-presidente do Governo, Carmen Calvo, disse que as declarações de Fratini são “inaceitáveis”, no “conteúdo e na forma” e que o embaixador “não tem que se intrometer nos assuntos internos de um Estado”, sobretudo quando se trata de algo “tão importante como é a exumação dos restos mortais de um ditador”.

“Ele tem de respeitar as regras do comportamento diplomático”, disse Calvo, acrescentando que os comentários não lhe causaram estranheza, uma vez que “já tive algumas conversas difíceis com o núncio”, indicando assim que a relação entre o Governo socialista e a representação diplomática é tensa.

“Ele vai ter uma resposta contundente da parte do Estado espanhol. Espero que o Vaticano consiga colocar as coisas no sítio. Ele não deve ter outra posição para além das instruções do seu Estado e não ser um obstáculo”.

O Governo espanhol tem insistido em tentar remover os restos mortais de Franco, que liderou as forças nacionalistas que venceram a Guerra Civil de Espanha, da basílica do Vale dos Caídos, um grande monumento construído durante a ditadura para homenagear todos os mortos durante o conflito espanhol.

Carmen Calvo diz que “depois de 40 anos de democracia, o ditador não pode estar num lugar público, onde possa ser homenageado”.

O Governo aprovou uma lei para proceder à remoção dos restos mortais, mas a medida foi travada recentemente pelo tribunal. Aguarda-se uma decisão do supremo.

A hierarquia católica em Espanha tem evitado meter-se na questão da exumação, que divide os espanhóis.