Os problemas da banca em Portugal não cessam de nos inquietar. Agora não se trata de uma novidade, mas de uma questão que a maioria dos portugueses – não os que trabalham no sector financeiro, claro – poderá ter já esquecido.
Quando o BES colapsou, no verão de 2014, foram passados para o chamado “banco mau” (o BES, formalmente) os activos tóxicos ou de cobrança muito duvidosa, que assim ficaram fora do nascente Novo Banco. Nas no final de 2015 o Banco de Portugal transferiu para esse “banco mau” obrigações chamadas seniores que estavam no Novo Banco. A dívida sénior, também designada não subordinada, é a mais protegida, tendo prioridade no pagamento em caso de incumprimento. Eram obrigações na grande maioria pertencentes a grandes investidores institucionais estrangeiros.
O conjunto dos títulos em causa teria um valor nominal de mais de dois mil milhões de euros, valor que com aquela operação caiu mais de 80%. Os investidores indignaram-se e avançaram para tribunal.
Agora, um grupo que representa dois terços desses investidores institucionais, liderado pela Pimco e pela Black Rock, propôs ao Governo português negociar um acordo. Dizem eles que a medida tomada em Dezembro de 2015 levou a uma subida dos juros da dívida pública portuguesa e dos custos de financiamento dos bancos nacionais. Têm alguma razão. Aliás, segundo a Bloomberg e o Financial Times, citados pelo Jornal de Negócios, este grupo de “lesados do BES” boicotou a recente colocação de 500 milhões de euros de dívida da Caixa Geral de Depósitos (apesar do aliciante juro de 10,7%).
Segundo as mesmas fontes, o ministro das Finanças M. Centeno terá dito em Londres, num encontro com potenciais investidores, que o Governo e o Fundo de Resolução estão a negociar com esses lesados da alta finança um eventual acordo. Depois foi negado existirem negociações – mas talvez pela necessidade de tudo ser feito em segredo. Oxalá se chegue a um acordo equilibrado, tendo em atenção que Portugal precisa de investidores dispostos a comprar dívida pública e privada nacional.