Há agricultores e pastores que se queixam da libertação sem controlo de cabras selvagens, no distrito de Coimbra. O Governo avançou no ano passado com o projeto-piloto das "cabras sapadoras" com rebanhos destinados à gestão de combustível florestal, mas no terreno há quem diga que a medida não passou de “show off político”.
O pastor Paulo Rogério, 46 anos, de Oliveira do Hospital, e presidente da assembleia da Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Serra da Estrela (Ancose), afirma que a ideia afinal não foi tão boa ideia.
“Aqui em Oliveira não tenho conhecimento da existência desses rebanhos, mas em Arganil, tenho ouvido queixas. A cabra sapadora não resulta, insiste o pastor que dá outra sugestão. “A limpeza tem que ser feita à mão, pelo povo, pelos contribuintes e por aqueles que vivem do que os contribuintes descontam”.
Mas porque não funciona a ideia do Governo? “Não resulta porque para a cabra desbastar o mato tem que andar com a fome. Se nós tivermos um bom prato de comida vamos ao melhor prato, ou seja, elas vão às culturas. Para ser rentável não podem andar de qualquer maneira. Para mim é mais um ‘show off’ político desses senhores que estão lá sentados nas cadeiras. Venham primeiro ao terreno falar com quem sabe”, lança em tom de desafio.
As vedações, diz o pastor, não são suficientes e nas zonas de minifúndio em terreno inclinado, há quem perca de vista as cabras. “Ou é muita gente para tomar conta delas ou perdem-se. É preciso ter cuidado para as controlar, algumas nunca aparecem, morrem por lá. Não regressam ao ovil”, acautela Paulo Rogério, deixando um alerta: “As árvores queimadas não foram cortadas, e serão material lenhoso para futuros incêndios, e não é com cabras sapadoras que se resolve”.
Este agricultor perdeu nos incêndios de 2017 mais de uma centena de cabeças de gado. Atualmente, tem 280 ovelhas e há poucos dias recebeu 12 borregas do Ministério da Agricultura. “Esta é uma ajuda tardia para refazer a vida… nem daqui a quatro anos. Se nos isentassem do pagamento da Segurança Social, já era uma ajuda”, conclui.
Outras duas opiniões contra as “cabras sapadoras” erguem-se em Arganil. “Esse é outro problema, comem tudo, aqui as videiras comeram-nas todas”; disse à Renascença Luís Lopes, 62 anos.
Também Rui Manuel, 57 anos, torce o nariz à ideia. “Elas andam a assapar as terras, são cabras do mato, mas o governo chama-as de sapadoras”, critica.
Opinião diferente tem o pastor Luís Fontinha, 40 anos, que afirma que “no distrito de Coimbra há um único rebanho de cabras sapadoras, rebanhos da serra do Acor-Rabadão, e garante que não há cabras nenhumas a solta. "O que há é os locais chamarem aos corços e veados fêmeas, cabras do mato."