Vários serviços do Serviço Nacional de Saúde (SNS) estão em risco de parar em setembro, alertam os médicos internos
Depois do aviso da Direção-Geral da Saúde (DGS), agora são os médicos internos que falam em complicações no SNS já a partir do próximo mês.
Reunidos com a Ordem dos Médicos, os internos recusam fazer mais horas extraordinárias. São 526 clínicos que podem fazer parar os vários serviços do SNS, em todo o país.
Os internos, pela voz de Sara Pereira, admitem que o próximo inverno pode ser muito difícil, porque muitos profissionais já ultrapassaram o limite de horas extraordinárias.
“Eu tenho a certeza absoluta que isso vai acontecer. Nós temos a certeza que este inverno haverá lacunas nas urgências, nada está a ser feito neste momento para assegurar, ainda por cima, estamo-nos a esquecer que estamos no último trimestre do ano, muitos de nós já atingiram o limite de horas extra há muito tempo e o que nós queremos fazer é um ponto da situação muito claro. Nós não estamos disponíveis para pactuar com isto, precisamos de medidas sérias.”
Sara Pereira, interna no Hospital Pedro-Hispano, em Matosinhos, garante que não há falta de médicos, mas uma recusa para trabalhar em condições extremas.
“Não estamos para aturar isto, desculpem a expressão. Não estamos para sacrificar mais do que aquilo que já sacrificamos na nossa vida. Se não nos for dada a mínima garantia de que temos condições de segurança, de reconhecimento para com o trabalho que fazemos, muitos de nós acabamos desistir. Não há falta de médicos, há falta de médicos a sujeitarem-se a isto que nos obrigam.”
Na carta que enviaram à ministra da Saúde, os médicos internos destacam que “é preciso gente para trabalhar e nós sozinhos não estamos a conseguir, nem especialistas nem internos”.
“Nós não conseguimos segurar desta maneira como as coisas estão os serviços de urgências e consequentemente também o internamento”, adverte Sara Pereira.
Internos não são “escravos do sistema”
O bastonário da Ordem dos Médicos exigiu à tutela que crie medidas concretas para motivar os médicos a ficarem no Serviço Nacional de Saúde sem olhar para os médicos internos como os “escravos do sistema”.
“Temos de dar outras condições de trabalho às pessoas. Não se pode olhar para os médicos internos como se fossem os escravos do sistema. Isto não é possível nem aceitável num país democrático e têm de existir soluções”, disse Miguel Guimarães no Porto após uma reunião com médicos internos de Medicina Interna.
O bastonário da OM interpelou a ministra da Saúde e exigiu medidas concretas para fixar médicos no SNS, admitindo que, sem soluções, “há o risco de haver urgências sem médicos para trabalhar”.
“É preciso agir e fazer as reformas que são necessárias para que estes jovens internos sejam os especialistas de amanhã e optem por ficar no SNS. Em Portugal temos o número de médicos suficientes para dar resposta ao que o SNS precisa. Nem precisaríamos de todos. Mas a verdade é que neste momento mais de 50% dos médicos que formamos está fora. Temos de conseguir uma taxa de opção de cerca e 80%”, disse Miguel Guimarães.