As tribos índias e outras comunidades nativas do Canadá reconhecem e agradecem o pedido de desculpas feito recentemente pelos bispos daquele país, mas esperam que se cumpram agora os gestos concretos de que fala a Igreja.
Os 90 bispos católicos do Canadá emitiram recentemente um comunicado em que pedem desculpa de forma “inequívoca” às comunidades cujos filhos foram sujeitados ao sistema de escolas oficiais, geridas pelas igrejas e comunidades religiosas, destinadas a ocidentalizá-los e a suprimir as suas culturas e tradições.
Há muito que estão documentados os abusos físicos, psicológicos e sexuais que sofreram milhares de alunos das escolas, mas a descoberta este ano de valas comuns com restos mortais de centenas de crianças reacendeu a questão e motivou a exigência de uma tomada de posição dos bispos, ou mesmo do Papa.
A maioria das crianças nas valas comuns seriam vítimas de doença, comum na época, mas o facto de terem sido sepultadas dessa forma, sem que os familiares tivessem conhecimento, causou indignação.
No dia 24 de setembro os bispos publicaram um extenso pedido de desculpas no qual se comprometem a trabalhar para a reconciliação e a procurar assegurar uma visita do Papa ao Canadá, para que Francisco possa encontrar-se pessoalmente com representantes das comunidades. “Escutámos bem como isto é importante para os povos indígenas, e quisemos mostrar-lhes que reconhecemos essa importância”, explica o bispo William McGrattan, da diocese de Calgary, que é vice-presidente da Conferência Episcopal do Canadá, em declarações à Religion News Service.
Citada pela mesma agência americana, a representante das comunidades indígenas, RoseAnne Archibald, disse que estas estão expectantes sobre o compromisso dos bispos.
“As palavras deste pedido de desculpas referem um compromisso da Igreja para uma caminhada de reconciliação com as Primeiras Nações e os povos indígenas. O tempo dirá se as palavras de contrição dos bispos serão seguidas de atos concretos”, diz.
Confrontado com estas palavras o bispo McGrattan mostra-se esperançoso. “Tudo o que podemos fazer é oferecê-lo [pedido] com humildade e na esperança de que seja aceite e contribua para a paz e para a reconciliação.
Futuros esforços de reconciliação terão de ser levados a cabo em conjunto com os indígenas, acrescenta, “não connosco a dizer-lhes o que fazer, ou a dirigir, mas escutando-os”.
As escolas internas para indígenas no Canadá pertenciam ao Governo, mas a sua administração foi confiada a comunidades religiosas católicas, anglicanas ou da Igreja Unida. As Igrejas anglicanas e Unida já pediram desculpas oficiais em 1993 e 1986, respetivamente.