Apelos ao "fim do genocídio" na Faixa de Gaza e a exigência de boicotes a Israel juntaram este sábado em Lisboa manifestantes de várias origens, incluindo palestinianos e judeus, num protesto que reuniu três a quatro mil pessoas, segundo a organização.
Empunhando cartazes e bandeiras da Palestina, os manifestantes começaram a descer a Avenida Almirante Reis, em direção ao Martim Moniz, cerca das 16h00, numa iniciativa que contou com a presença de membros do Bloco de Esquerda, PCP e PAN e que foi convocada por mais de 30 movimentos.
"O que queremos do parlamento? Boicotes, sanções e desinvestimento", "Gaza, escuta, gritamos a tua luta" eram algumas das palavras de ordem entoadas pelos manifestantes, muitas também em inglês, a traduzir a diversidade de nacionalidades nesta manifestação.
Questionada pela Lusa, a polícia, que acompanhou o protesto, escusou-se a avançar com números da participação de manifestantes. De acordo com a organização, estariam "entre três a quatro milhares" de pessoas. O protesto decorre também no Porto, Braga e Angra do Heroísmo.
A líder do Bloco de Esquerda marcou presença na manifestação. Mariana Mortágua defende que é necessária mais pressão política junto de Israel.
“Aquilo que se pede é que a política relativamente ao Governo Israel seja a mesma política que o mundo teve contra o apartheid da África do Sul, que é um boicote, sanções que obriguem Israel a cumprir a lei internacional. Por isso, juntamos a nossa nossa voz a António Guterres e à de todas as pessoas que se fazem ouvir pelos direitos humanos e pelo fim deste massacre e da política de genocídio em Gaza. Não vamos esquecer o povo palestiniano”, declarou Mariana Mortágua.
"O povo português não quer ser cúmplice do genocídio"
Muitos manifestantes usavam o "keffiyeh", um lenço de xadrez associado à causa palestiniana, e mostravam cartazes em que pediam "o fim do genocídio" e descreviam Israel como um "Estado assassino", vários com imagens de melancias, símbolo da Palestina.
"O povo português não quer ser cúmplice do genocídio, da agressão contínua em Gaza e também na Cisjordânia", disse à Lusa Maria Grazia Rossi, da organização do protesto, reclamando o "corte dos laços diplomáticos com o Estado de Israel".
A responsável destacou a diversidade de movimentos que se associaram - coletivos pela justiça social e climática, organizações estudantis, feministas, "queer", antirracistas ou grupos de pais e mães pela paz.
Hindi Mesleh, 40 anos, um palestiniano de Ramallah, na Cisjordânia, juntou-se à manifestação para condenar "o projeto colonial sionista".
"Está a acontecer um genocídio em direto, vemos imagens e vídeos horrorosos e não consigo perceber como há pessoas que apoiam este genocídio", lamentou.
A situação na Cisjordânia "está a piorar cada vez mais, com mais violência dos colonos e do exército [israelitas]" desde o início da guerra em Gaza, após o ataque do movimento islamita palestiniano Hamas contra Israel, em 7 de outubro passado.
"Apelamos a um boicote, sanções e desinvestimento. O Governo português tem de fazer mais", reclamou o palestiniano, a viver em Portugal há sete anos.
Jonatan Benebgui, 29 anos, do movimento Judeus pela Paz e Justiça, afirmou que "o Estado de Israel não fala pelos judeus do Mundo".
Para o jovem, imigrante em Portugal há sete anos, a ideologia do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, "é a da vingança, que não leva a lado nenhum".
"Israel comete crimes e justifica em nome dos judeus, invocando o Holocausto e a história do antissemitismo. Mas nós somos judeus que dizemos que não apoiamos essa ideologia, que não nos identificamos com o sionismo", disse à Lusa, reconhecendo que esta posição não é fácil.
"Somos vistos como judeus que não são verdadeiramente judeus, porque o que o sionismo faz é sequestrar a história do judaísmo, que sempre lutou contra o fascismo e a opressão. Usamos a nossa voz para dizer que não queremos que aconteça o mesmo contra outros povos", sublinhou.
Visivelmente emocionada, Ana Marcos, professora de yoga, considerou que a situação em Gaza pode gerar "ansiedade, tristeza, raiva, desespero" em muitas pessoas, o que mostra "a empatia de a dor do outro ser a nossa dor".
A manifestante descreveu a realização de protestos como o de hoje como um "doce amargo": "É triste termos que estar aqui há quatro meses, mas ao mesmo tempo, estamos juntos e não vamos deixar a Palestina. É até ao fim, até à liberdade", disse.
A manifestação contou com pessoas de todas as idades, incluindo muitas crianças, em carrinhos de bebé ou de bicicleta, algumas com megafone na mão e a gritar palavras de ordem.
Ao colo do pai, um menino usava um capacete azul, com o nome Motaz escrito a branco, e um colete com a palavra "Press", uma "réplica" do fotógrafo palestiniano Motaz Azaiza, com mais de 18 milhões de seguidores na rede social Instagram, que utiliza como plataforma para divulgar relatos dos acontecimentos na Faixa de Gaza.
Amarah e Máriya, duas primas com 14 e 12 anos, lamentam a morte de "tantas pessoas inocentes" - segundo o Hamas, que controla a Faixa de Gaza, mais de 28 mil pessoas, a maioria civis, foram mortas em ataques das forças israelitas desde o início deste conflito.
Com 11 anos, Abdul Karim empunhava um cartaz onde se lia, em inglês e árabe: "Israel tem as armas, mas a Palestina tem Alá".
"O que quer que aconteça, vamos ganhar. Vamos ganhar porque a maldade nunca ganha, é sempre a bondade", disse.