O Provedor Municipal dos Animais de Lisboa propôs esta segunda-feira que a ponte ciclopedonal sobre o rio Trancão, construída no Parque Tejo a propósito da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), seja designada de Ponte Noé, lembrando esta figura bíblica.
“Tendo sido um equipamento inaugurado a propósito da Jornada Mundial da Juventude, é indissociável desse evento e Noé não colide com esse enquadramento”, afirmou o Provedor Municipal dos Animais de Lisboa, Pedro Emanuel Paiva, considerando que a escolha do nome bíblico para a ponte ciclopedonal sobre o rio Trancão reúne “vários argumentos favoráveis”.
Numa recomendação entregue hoje ao executivo camarário, sob a presidência de Carlos Moedas (PSD), o provedor justificou a proposta com “o facto de a figura bíblica de Noé representar a necessidade dos humanos não só respeitarem todos os animais, mas também protegerem cabalmente os mesmos de situações que os coloquem em perigo”.
A ideia de propor o nome de Ponte Noé para a ponte ciclopedonal sobre o rio Trancão, que liga Lisboa a Loures no Parque Tejo, surgiu após a recente polémica associada ao nome do cardeal Manuel Clemente, anunciado pela Câmara Municipal de Lisboa, mas que acabou por não ser atribuído porque o próprio recusou essa homenagem.
“A Provedoria Municipal dos Animais de Lisboa tem como missão fazer pontes para a defesa dos animais, logo, por que não materializar essa forma de estar propondo um nome para uma ponte real?”, expôs Pedro Emanuel Paiva, em comunicado.
Em 11 de agosto, após a JMJ, a Câmara Municipal de Lisboa anunciou que a nova ponte ciclopedonal sobre o rio Trancão iria chamar-se Ponte Cardeal Dom Manuel Clemente. Esse anúncio gerou polémica e motivou uma petição com mais de 17 mil assinaturas pela “alteração do nome previsto”.
Três dias após o anúncio, o cardeal-patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, pediu para que o seu nome não fosse atribuído à ponte ciclopedonal sobre o rio Trancão, na sequência da polémica, informou o Patriarcado de Lisboa, num comunicado divulgado em 14 de agosto.
A Lusa questionou a Câmara de Lisboa sobre a decisão tomada pelo cardeal-patriarca, mas o município disse que não tinha nada a acrescentar sobre o tema.
Para a Provedoria Municipal dos Animais de Lisboa, “apesar de o argumento da harmonia entre humanos e animais estar acima de qualquer crença, quem leia a passagem do livro dos Génesis sobre Noé percebe a importância que a própria Igreja dá à mesma relação: ‘Com eles [Noé e a família] entraram [na arca] todos os animais de acordo com as suas espécies: todos os animais selvagens, todos os rebanhos domésticos, todos os demais seres vivos que se movem rente ao chão e todas as criaturas que têm asas: todas as aves e todos os outros animais que voam’”.
Pedro Emanuel Paiva, provedor nomeado pelo atual executivo camarário, por proposta da liderança PSD/CDS-PP, realçou que a figura bíblica de Noé “simboliza o expoente máximo da proteção de todos os animais, incontornável nos dias de hoje”, e o facto de a ponte ser maioritariamente à base de madeira faz deste equipamento “uma peça em sintonia com a proteção ambiental e integrada no meio ambiente envolvente, logo, em total alinhamento com a proteção do ambiente, que abarca na sua génese a defesa dos animais”.
O provedor justificou ainda a proposta de Ponte Noé com as palavras proferidas pelo Papa Francisco durante a JMJ em Lisboa, ao afirmar que “a Igreja é todos, todos, todos”, pelo que “basta pensar no texto dos Génesis que aborda Noé para fazer precisamente a ponte com os animais como parte desse ‘todos’”.
No cargo de Provedor Municipal do Animal de Lisboa desde 19 de julho de 2022, Pedro Emanuel Paiva já apresentou ao executivo camarário 10 recomendações, a proposta de Ponte Noé é a 10.ª recomendação, e quatro pareceres.
A JMJ, o maior evento da Igreja Católica, realizou-se este ano de 01 a 06 de agosto em Lisboa.