A azáfama é grande. No palco principal montam-se os últimos equipamentos de som e de luz, retirados do interior de um enorme camião TIR. Ali mesmo ao lado, nos pavilhões de cada região do país, ultimam-se pormenores como fixar bancos de madeira e recolocar torres de tiragem de cerveja, colocadas por engano em determinadas zonas dos balcões. No pavilhão da Juventude, prendem-se as últimas faixas de lona que vão permitir delimitar o espaço e pelos acessos rodoviários, circulam, frenéticos, veículos velhinhos, muitos deles carrinhas transformadas em viaturas de transporte, sem matrícula e com bandeira do PCP pendurada, que trabalharão apenas nesta altura do ano.
Na Quinta da Atalaia, no Seixal, está tudo a postos para receber milhares de pessoas - militantes ou não - no evento que marca a rentrée política do PCP. Madalena Santos é membro do executivo da Festa do Avante, e sublinha que a Festa “é passada e projetada ao longo ano”. Nestes dias, adianta, “são centenas e centenas, não só de militantes, mas de amigos da Festa que a vão construindo, com ideias e projetos”.
A também responsável pelos espetáculos que vão ocorrer no recinto acrescenta que todos os portugueses e estrangeiros que queiram aparecer “são bem recebidos e sentem-se cá bem. E são milhares os que, de facto, compram a sua EP (entrada permanente) e já têm no seu programa de fim de férias vir à Festa do Avante”.
Tanto Madalena Santos como outras centenas de militantes tomam todos os anos a mesma opção.
“Eu tiro férias de duas semanas, uma antes e outra depois da Festa, para trabalhar aqui. Mas eu não sou exemplo único: há centenas de camaradas que fazem isso também”.
Como Luísa Alves, que há anos que participa como voluntária.
“É pá, é muito bom. Os dias que antecedem os três dias de festa são de convívio e de felicidade. Tudo o que são problemas ficam à porta da Quinta da Atalaia”.
Luísa está a colocar cadeiras, em fila, para a plateia frente ao palco principal. Ela e outros camaradas começaram por estender cordas para “marcar” os lugares e tentar manter a fila de cadeiras direita.
“São quatro mil”, indica. “Já está definido que será essa a quantidade. Portanto, é trabalhar para as colocar”.
E para as tirar, ainda hoje, depois do concerto sinfónico para comemorar os 50 anos do 25 de Abril, levado a cabo pela Orquestra Sinfonieta de Lisboa, com o coro sinfónico Lisboa Cantat, para voltar a colocá-las no mesmo local no domingo, para ouvir Paulo Raimundo, que se estreia na Festa do Avante como secretário-geral do partido, depois de 18 anos de liderança de Jerónimo de Sousa.
Um discurso que esta militante do PCP acredita que não deverá ser diferente dos discursos dos últimos líderes do partido.
“Aquilo que o Jerónimo dizia e que outros secretários-gerais disseram, ao longo dos anos. É o mesmo discurso sobre o que entendemos que deve ser a vida e o nosso bem-estar. Do ponto de vista social, as coisas agravaram-se depois do 25 de Abril. Mas estamos a viver um pico de agravamento social muito grave para todos, em geral”.
Na zona dedicada especificamente à Juventude, um grupo de jovens dá os retoques finais no espaço. Entre eles está Salomé Carvalho, de 15 anos.
“Este é o meu primeiro Avante”, diz, orgulhosa, enquanto ajeita os brincos, mexe no piercing que tem no nariz e tira o cabelo dos olhos.
É voluntária e espera “fazer amigos, conhecer mais malta, camaradas e não camaradas”.
Vitor Vieira já vem há mais anos à Festa do Avante.
“Tenho de fazer as contas. Venho desde 1976”, explica, com um sotaque do Porto que não engana. Esteve presente nas Festas do Avante realizadas na FIL, no Jamor e na Ajuda. “Só não fui a Loures”, em 1988 e 1989.
Vitor acabou de colocar num outro local de um dos balcões do Pavilhão do Porto uma torre de tiragem e cerveja que tinha sido colocada no local errado.
Mestre em Psicologia do Trabalho, aprendeu ao longo dos anos como se faz a Festa. Por isso, do alto dos seus 47 anos de experiência, diz ser um faz tudo. Desde a montagem de madeiras aos ferros, das tintas à eletricidade e à água.
E tudo tem corrido sem grandes problemas, não fossem, pelo menos este ano, os mosquitos.
“Os problemas maiores têm sido as reações alérgicas às picadas. Os mosquitos aqui podem ser muito agressivos. São mosquitos grandes que estão aqui à beira-rio. Quando aparecem, aparecem em força”.
Este militante do PCP não tem grande expetativa em relação ao primeiro discurso na Festa do Avante do novo secretário-geral. Porque o importante, diz, não é a pessoa, mas a mensagem.
“Não atribuo especial importância a quem o pronuncia, mas sim ao conteúdo. E esse será relativo às tarefas que se colocam no imediato que serão muitas, como de costume. Mas estaremos aí prontos para elas”, diz, enquanto passa a mão na cana do nariz, marcada por uma arca frigorifica colocada no lugar por uma camarada que fez mais força do que devia para a empurrar e que lhe atingiu a face.
Não muito distante, o pavilhão de Castelo Branco e da Guarda. Luís Silva é um dos militantes que desde meados de julho tem passado os dias a preparar tudo. Diz ter “várias tarefas”, desde o restaurante às caixas. E também tem uma quota parte de responsabilidade na gastronomia típica daquelas regiões.
“É possível comer os maranhos, típicos de Castelo Branco e da Sertã. O queijo da serra. E os vinhos regionais das duas regiões também vão estar presentes”.
Antes de se despedir, porque ainda há muito a fazer, explica que a confiança e a força que este comício, “o maior que se realiza em Portugal”, assim como a Festa que o partido realiza é sempre um “momento de força e de perspetiva para a luta dos trabalhadores. E é isso que se espera este ano. Como em todas as Festas do Avante”.