A primeira semana da cimeira do clima, COP26, que decorre no Reino Unido, saldou-se por promessas de milhões para combater a desflorestação e apoiar os países mais pobres, mas também por manifestações a exigir mais.
Foi marcada pela presença em Glasgow dos líderes mundiais e pelas queixas das organizações não-governamentais de falta de acesso à cimeira, manifestantes exigiram o fim dos combustíveis fósseis, para diminuir as emissões de gases com efeito de estufa, mas de concreto para já ficam, especialmente, as promessas de redução nas emissões de metano e menos investimento no carvão.
. Promessa da Índia, terceiro maior poluidor, e as ausências da China e da Rússia
O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, prometeu em Glasgow que o país, o terceiro mais poluidor do mundo, será neutro em carbono em 2070 e que reduzirá até 2030 as emissões de gases com efeito de estufa em mil milhões de toneladas, ano em que metade das necessidades energéticas serão satisfeitas com energias renováveis.
O ano de 2070 representa 20 anos mais do que a meta da União Europeia, mas mesmo assim a promessa indiana foi elogiada. A China, o maior poluidor do mundo, não compareceu e o seu Presidente, Xi Jinping, numa declaração a partir de Pequim, apenas disse que quer dar prioridade a uma "economia verde" e que é preciso mais apoios aos países em desenvolvimento.
. Mais promessas de apoio aos países menos desenvolvidos
Os países ricos prometeram 100 mil milhões de dólares por ano (86 mil milhões de euros), a partir de 2020, para os países menos desenvolvidos, os menos responsáveis pelas alterações climáticas, para ajudar na adaptação. A promessa nunca foi cumprida, mas na cimeira de Glasgow a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, prometeu mais 4,3 mil milhões de euros de financiamento a países vulneráveis.
Esse e outros contributos anunciados, como o do Japão, levou o enviado especial dos Estados Unidos para as alterações climáticas, John Kerry, a dizer que a meta dos 100 mil milhões será alcançada no próximo ano.
. Combate à desflorestação
Em Glasgow foi assinado um acordo global para pôr fim à desflorestação até 2030, num dos dias da cimeira especialmente dedicado às florestas. A Comissão Europeia, anunciou a sua presidente, Ursula von der Leyen, vai apoiar com mil milhões de euros o programa de combate à desflorestação. A responsável comprometeu-se a reduzir a pegada de consumo europeia nos territórios e florestas, afirmando que os europeus não querem comprar produtos que provocam desflorestação ou degradação das florestas.
Ao mesmo tempo que o Brasil anunciava a partir de Brasília um objetivo mais ambicioso de redução de emissões, e de eliminar a desflorestação ilegal até 2028, em Glasgow representantes do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e os governos da Alemanha e dos Países Baixos anunciavam um projeto conjunto para a proteção das florestas e da terra na região amazónica que implica um investimento de 30 milhões de euros.
Também em Glasgow o Presidente da República Democrática do Congo e o primeiro-ministro britânico anunciavam o apoio a um programa para proteger a floresta da Bacia do Congo, avaliado em 500 milhões de dólares (431,7 milhões de euros) nos primeiros cinco anos.
. Eliminação progressiva do carvão
Sendo que a produção de energia elétrica através do carvão é uma das maiores responsáveis pela emissão mundial de gases com efeito de estufa a Aliança Global para o Abandono do Carvão (PPCA na sigla original) anunciou na cimeira de Glasgow a entrada de mais 28 Estados para a organização, um deles a Ucrânia, o terceiro maior utilizador de carvão na Europa.
A PPCA é uma aliança de governos e organizações do setor privado internacional, criada para acelerar a transição do carvão para energias limpas. À Aliança pertencem agora 165 Estados, Portugal incluído.
E Portugal está também num grupo de mais de 20 países e instituições que na semana que passou anunciou em Glasgow que vai deixar de financiar projetos de combustíveis fósseis até ao fim de 2022. A China e a Rússia não assinaram.
Na cimeira de Glasgow mais de 20 países também subscreveram uma declaração que defende o fim da construção de novas centrais elétricas a carvão, comprometendo-se a promover fontes energéticas limpas.
. Redução das emissões de metano
Mais de 100 países, entre os quais Portugal, mas também os Estados Unidos e a União Europeia como entidade, comprometeram-se nos primeiros dias da cimeira a reduzir as emissões de metano em 30% até 2030, em comparação com 2020.
O anúncio em Glasgow, o Compromisso Global do Metano, é relevante, porque o metano é um poderoso gás com efeito de estufa, responsável por cerca de 30% do aquecimento do planeta desde a época pré-industrial, com um efeito de aquecimento cerca de 29 vezes superior ao dióxido de carbono (CO2) durante um período de 100 anos, e cerca de 82 vezes durante um período de 20 anos.
Os países envolvidos representam cerca de 70% do PIB mundial. Há pelo menos 328 milhões de dólares prometidos para apoio financeiro e técnico para a implementação do compromisso, que se concretizado pode reduzir em 0,2 graus celsius o aquecimento global. Nem a Rússia nem a China assinaram o compromisso.
. Apoio à África do Sul
Da primeira semana da conferência do clima saiu também um acordo que, tem sido referido em Glasgow, pode no futuro ser replicado. Os Estados Unidos e vários países europeus anunciaram um apoio de 8,5 mil milhões de dólares (7,3 mil milhões de euros) à África do Sul para ajudar o país a gerir a transição energética, afastando-se do carvão.
O objetivo é levar a África do Sul, muto dependente do carvão para fornecer energia elétrica, a apostar numa economia de baixas emissões, evitando a emissão até entre 1 a 1,5 gigatoneladas de emissões de gases com efeito de estufa nos próximos 20 anos.
Boris Johnson, primeiro-ministro do Reino Unido, considerou que a parceria abre um precedente de como os países podem trabalhar em conjunto para acelerar a transição para a energia e tecnologia limpas e verdes.
. Aposta nas novas tecnologias
A tecnologia pode ser uma base para diminuir as emissões de gases com efeito de estufa e aproveitando a COP26 a União Europeia e o empresário norte-americano Bill Gates assinaram uma parceria de aposta nas novas tecnologias, que envolve também o Banco Europeu de Investimento.
O anúncio da parceria já tinha sido feito em junho mas esta só foi formalizada na primeira semana da COP. Pretende, entre 2022 e 2026, mobilizar até 820 milhões de euros para acelerar a implantação e comercializar rapidamente tecnologias inovadoras que ajudem a estratégia europeia de atingir as suas metas climáticas, nomeadamente de reduzir em 55% as emissões de gases com efeito de estufa até 2030.
. Menos gases e melhor transição
Na primeira semana da cimeira do clima o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, prometeu fundos de 8,64 mil milhões de euros ao longo de cinco anos para promover a transição energética na Ásia.
E em Glasgow foi também anunciado que a uma aliança de 450 empresas financeiras se comprometeram em investir 112 mil milhões de euros na transição para uma economia descarbonizada, até 2050. Com a promessa de financiamento, a Aliança Financeira de Glasgow para as Zero Emissões Líquidas, criada em abril para mobilizar estes fundos, duplica os 60 mil milhões de euros avançados até agora.
. ONG e os jovens
Numa semana em que organizações não-governamentais se insurgiram por não poderem assistir às negociações da conferência, facto que os organizadores justificaram com a pandemia de covid-19, a jovem ativista sueca Greta Thunberg disse que a COP26 é a mais exclusiva das cimeiras mundiais do clima, afirmando também numa manifestação que a COP26 falhou, reduzindo-se a duas semanas de "blá, blá, blá".
Greta Thunberg mas também milhares de outros jovens desfilaram por duas vezes em Glasgow exigindo ser envolvidos no processo e medidas concretas de luta contra as alterações climáticas, ostentando cartazes com frases como ""COP26, age agora, para os combustíveis fósseis" ou "Parem as Alterações climáticas". O protesto de sábado em Glasgow foi replicado e várias outras cidades, incluindo de Portugal.
. Restaurar a saúde dos oceanos
Num dia especialmente dedicado aos oceanos (na sexta-feira) o Reino Unido, anfitrião da conferência, anunciou a mobilização de sete milhões de libras (oito milhões de euros) para proteger e "restaurar a saúde e resiliência" dos oceanos.
A presidência britânica da Conferência marcou o "Dia da Ação dos Oceanos" com um apelo aos líderes mundiais a tomarem medidas de proteção dos oceanos que permitam alcançar a neutralidade carbónica e manter ao alcance o aquecimento global a não mais de 1,5 graus Celsius.
. Agricultura mais sustentável
Os governos de 45 países comprometeram-se no sábado em Glasgow a tomar medidas para avançar no sentido de uma agricultura e gestão da terra mais natural e sustentável, medidas que terão um impacto especial na América Latina, África e Ásia.