Várias famílias ucranianas que fugiram da guerra para o Algarve estão na iminência de ficar sem alojamento devido ao início da época turística e muitas têm de abandonar as casas já no dia 1 de junho.
Ira Grabenko, de 38 anos, chegou em meados de março a Quarteira, em Loulé, no distrito de Faro, onde tem família, e acabou por conseguir ficar com os filhos, de 19 e oito anos, num apartamento que lhes foi cedido gratuitamente, contou à Lusa.
Apesar de ter sido avisada de que a situação seria provisória e que teria de abandonar a casa no verão, Ira estava convicta de que a guerra "ia durar uma ou duas semanas" e que rapidamente poderia regressar a Kiev.
Hoje, quase três meses após o início da ofensiva, Ira sabe que não pode regressar e está sem perspetivas.
"Até agora, não temos nenhuma solução. Se não encontrarmos casa teremos de sair do Algarve, é impossível encontrar casa aqui", desabafou.
No entanto, o desejo da psicóloga é manter-se no Algarve, pois o filho, de oito anos, já está na escola e é na região que tem a família e uma rede de ligações sociais: "Não queremos ir embora daqui, mas provavelmente teremos que ir".
Para já, aguarda informação de um grupo de voluntários sobre soluções de arrendamento a longo prazo, um problema que, no Algarve, afeta não só os refugiados ucranianos como os portugueses, e outros, devido à elevada procura e escassa oferta.
Estamos "todos na mesma situação. Quando viemos não tínhamos planeado ficar para o verão", respondeu, quando questionada sobre se conhecia mais famílias ucranianas obrigadas a abandonar as casas até 1 de junho.
Na mesma situação está Katerina, com três filhos, de cinco, 14 e 17 anos, que estava a pagar 650 euros mensais por um apartamento também em Quarteira, uma das zonas mais procuradas para férias no Algarve central.
Segundo contou à Lusa o irmão Vadim, a residir há vários anos no Algarve e que fala fluentemente português, a irmã foi pedindo para a estadia se prolongar ao máximo, mas agora o senhorio quer a casa de volta para alugar a turistas.
"Ela está à procura de casa, mas até ao momento ainda não conseguiu. Não sei se é só aqui que é tão complicado", referiu, notando que os sobrinhos já estão na escola e que o desejo da irmã é continuar no Algarve, onde estão também os pais.
Para já, Katerina aguarda uma resposta por parte de um britânico "que é capaz de arranjar uma casa", pois há "muita gente a tentar ajudar", nomeadamente, voluntários estrangeiros, que têm "mais possibilidades [financeiras]" do que os portugueses.
"O que nós preferíamos era voltar para casa [na Ucrânia], mas neste momento ainda não é possível voltar", lamentou Vadim.
Loulé é um dos municípios do Algarve que organizou viagens de autocarro para retirar refugiados da Ucrânia e se preparou para acolher famílias, tendo disponibilizado cerca de 50 alojamentos partilhados.
No entanto, segundo disse à Lusa o presidente da Câmara de Loulé, apesar de os alojamentos terem "todas as condições e dignidade", o facto de serem partilhados fez com que muitos optassem por procurar habitações no mercado de arrendamento.
Segundo Vítor Aleixo, foram "poucos" os que aceitaram permanecer nesses alojamentos, tendo preferido encontrar, "por si próprios, outras soluções", havendo, também, uma preferência por ficarem no litoral, onde há menos habitações disponíveis.
"Ainda temos uma reserva para alojar pessoas, mas o que tem acontecido é que as pessoas preferem casas individuais, apartamentos. Ora, apartamentos nós não temos", sublinhou.
Para o autarca, a carência de habitações para arrendamento a longo prazo na região é uma realidade "atroz" e que afeta não só os refugiados como "toda a gente" que procura casa no mercado.
Segundo Vítor Aleixo, a autarquia tem ainda disponível espaço em dois locais para acolher oito pessoas - quatro em Almancil e quatro em Salir - e está a fazer obras noutros locais para aumentar a capacidade de oferta.
Atualmente, nos alojamentos partilhados cedidos pelo município estão instaladas oito famílias, num total de 28 pessoas, nas freguesias de Almancil, Alte, Salir e Quarteira.