05 out, 2016 - 19:57 • Eunice Lourenço
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“Vivi com muita emoção este momento. Fui ministro do engenheiro António Guterres; antes, fui seu companheiro nos Estados Gerais [do PS], sou seu camarada de partido.
Habituei-me ao longo da minha vida a admirar as suas enormes qualidades pessoais, profissionais, políticas e intelectuais. E essa sempre foi uma das razões de ser da tranquilidade que nós, a diplomacia portuguesa, sempre manifestamos ao longo deste processo.
Acreditamos que as qualidades pessoais, a enorme experiência política, quer nacional quer internacional, e o enorme conhecimento que o engenheiro Guterres tem das grandes questões mundiais e do modo de funcionamento e das necessidades de reforma das Nações Unidas, tudo isso se iria impor ao longo do processo eleitoral.
Sabíamos também que as inovações trazidas este ano, conferindo maior transparência e participação a este processo, favoreciam a candidatura do engenheiro Guterres.
Nunca nos conformámos com a possibilidade de a rotação geográfica desejável no cargo poder ser considerada apenas por um critério que vem da Guerra Fria, a divisão entre Europa Ocidental e Europa de Leste, que hoje não faz sentido – grande parte da Europa de Leste faz parte da União Europeia.
Acreditando em tudo isto, sempre olhámos com confiança, sem nenhuma espécie de arrogância, para a candidatura que apresentámos.
O engenheiro Guterres revelou-se, antes de se conhecer o resultado, muito optimista e confiante.
Depois de se conhecer o resultado, era a mais calma das pessoas presentes na sala (a pequena equipa que constituímos em Lisboa e que apoia o trabalho da nossa missão permanente em Nova Iorque). Foi um momento de grande felicidade.
A forma como o embaixador russo comunicou o resultado foi tão clara que não havia nenhuma dúvida sobre o resultado e a clareza do resultado. Não me lembro de nenhuma, mas poucas vezes um secretário-geral das Nações Unidas foi eleito sem uma ameaça de veto logo na primeira votação em que os membros permanentes têm um voto diferenciado do restante.
O resultado é tão transparente como o método. O engenheiro Guterres é eleito, na prática, com 13 votos a favor e nenhum contra. Isso é um elemento de orgulho adicional e de emoção.
Não o escondo porque nestas ocasiões não devemos esconder – somos humanos, não robôs: estou contente e emocionado por o próximo secretário-geral das Nações Unidas ser um português – e logo um português do calibre de AG.”
Depoimento recolhido pela jornalista Eunice Lourenço