Siga-nos no Whatsapp

Qatar. Um mês de uma crise que pode ainda alastrar

Qatar. Um mês de uma crise que pode ainda alastrar

Tempo
|
A+ / A-

05 jul, 2017 - 20:54 • Carlos Calaveiras

O que alegadamente começou com um ataque informático pode terminar na mais grave crise do Médio Oriente das últimas décadas. O Qatar está a ser bloqueado pelos vizinhos e o braço de ferro mantém-se.

A+ / A-

O Qatar respondeu, esta quarta-feira, “não” ao ultimato dos vizinhos (Arábia Saudita, Egipto, Emirados Árabes Unidos e Bahrein) que há um mês cortaram relações com o país acusando-o, entre outras coisas, de apoiar o terrorismo internacional. Preparam-se já novas sanções.

“A resposta que os quatro países receberam foi no geral negativa e sem conteúdo. Não há base para considerarmos que o Qatar vai alterar a sua política”, disse o ministro egípcio dos Negócios Estrangeiros, Sameh Choukri.

Sem ainda dar pormenores, o homólogo da Arábia Saudita, Adel al-Jubeir, foi mais directo: os quatro países vizinhos do Qatar já estão a preparar “novas medidas punitivas”. “O boicote político e económico vai continuar até que o Qatar mude as suas políticas”, disse.

Segundo estes quatro países, o Qatar “mudar as suas políticas” seria aceitar as 13 propostas feitas. Entre estas medidas estão:

  • encerramento da televisão Al-Jazeera;
  • encerrar de imediato uma base militar turca no país;
  • diminuir as relações com o Irão;
  • cortar laços com “organizações terroristas, sectárias e ideológicas” como a Irmandade Muçulmana, o Hamas ou o Estado Islâmico;
  • entregar “figuras terroristas” em fuga ou pessoas procuradas pelos quatro países;
  • pôr fim à interferência nos assuntos internos de países soberanos;
  • pagar indemnizações por perdas de vidas ou financeiras causadas pela política do Qatar;
  • alinhar-se militar, política, social e economicamente com os outros países árabes e do Golfo Pérsico;
  • entregar as informações de todos os membros da oposição destes países que o Qatar apoia;
  • aceitar auditorias mensais ao cumprimento do exigido no primeiro ano e de três em três meses nos dez anos seguintes.

Como o Qatar se tornou uma ameaça

A crise começou no final de Maio depois de a agência de notícias do Qatar, a QNA, ter atribuído ao emir Tamim bin Hamad Al Thani citações dizendo que o país tinha uma relação tensa com a Administração Trump, que o Hamas era “o representante legítimo do povo palestiniano” e que o Irão era “a grande potência estabilizadora da região.”

Doha desmentiu as frases. A QNA e o Governo alegaram que a notícia teve como origem um ataque informático, mas a polémica instalou-se.

Após este incidente, o Qatar passou a ser “uma ameaça à unidade, estabilidade e segurança no Golfo Pérsico”. O país respondeu, acusando os vizinhos de “violação da soberania”. As primeiras sanções foram aplicadas a 5 de Junho.

Com o boicote diplomático e económico já em vigor, o Qatar, que importa 90% dos alimentos, está a gastar (muitos) milhões para manter o país em funcionamento.

Os Estados Unidos já vieram pedir a todas as partes para se “sentarem à mesa e ultrapassarem as diferenças”, esperando que esta crise diplomática não afecte a luta contra o terrorismo.

Esta crise com o Qatar tem outros contornos mais amplos e remete para a histórica disputa entre Irão e Arábia Saudita, xiitas e sunitas, respectivamente.

Pode a Al-Jazeera fechar?

Uma das medidas mais emblemáticas exigidas para o levantamento do boicote é o encerramento da televisão Al-Jazeera.

O canal de notícias, que ganhou protagonismo mundial por altura da “Primavera Árabe”, já respondeu exigindo “liberdade de imprensa”.

Numa mensagem vídeo, vários jornalistas do canal deram conta das suas próprias exigências: “Exigimos que os jornalistas possam fazer o seu trabalho sem serem intimidados ou ameaçados. Exigimos que a diversidade de pensamento e opinião seja apreciada e não temida, exigimos que os jornalistas não sejam considerados terroristas e que haja liberdade de imprensa”.

O vídeo termina com uma "hashtag" que é um pedido: #demandpressfreedom (exigir liberdade de imprensa).

A Arábia Saudita foi a primeira a fechar a delegação da televisão no país, retirando-lhe a licença de funcionamento. Esta medida já foi seguida por outros países.

As Nações Unidas já consideraram que “a exigência de um encerramento é um ataque inaceitável ao direito e à liberdade de expressão e de opinião”. O Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos disse mesmo que “estejam de acordo ou não com os pontos de vista editoriais, as cadeias da Al-Jazeera em árabe e em inglês são legítimas e têm milhões de espectadores”.

A organização Repórteres Sem Fronteiras já considerou que o fecho dos escritórios é equivalente a censura política.

A Al-Jazeera é ciclicamente acusada de ter ligações a grupos terroristas, incluindo pelos Estados Unidos – nomeadamente durante a administração Bush, mas sempre desmentiu todas as acusações.

A empresa, com sede no Qatar, tem uma audiência de cerca de 40 milhões de espectadores só no mundo árabe e já chega a mais de 100 países.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • Santos
    06 jul, 2017 Lisboa 11:18
    Acho curioso ver, entre as exigências ao Qatar, o cortar laços com o Hamas. Que se saiba, o Hamas é uma organização palestiniana cujo único papel é combater Israel. Será que Israel tem alguma coisa a ver com o boicote ao Qatar?
  • Rogério de Souza
    06 jul, 2017 Amadora 09:50
    a caldeirada que o Joseph Blatter arranjou.
  • Zé das Coves
    06 jul, 2017 Alverca 08:53
    Arabia Saudita, que santinhos, EUA sempre a fazer disparates !!!
  • A.Oscar
    06 jul, 2017 Portimão 07:07
    O Ser humano sempre o foi oportunista pelos seus valores: neste caso da Arabia Saudita ser agora contra o Qatar pelos meios financeiros aos terroristas, da qual os Sauditas sempre o foram tambem, até que foram eles com o Israel e o Bush em demolirem as Torres gémeas em Nova Iorque. Isto não passa de uma manobra Saudita para sacudir o pó do corpo por estar receosa com algo.
  • joao
    06 jul, 2017 porto 03:49
    bom na realidade não sei que tem razão mas o Catar ainda ontem era um amigo isto já me parecem aqueles amigos que muita gente tem no feic e não sabem o nome do vizinho do lado todos os dias mudam de amigos, uma coisa que oiço aos países a volta do Catar é falar em direitos humanos na quelas bandas isso existe
  • António Assunção fon
    05 jul, 2017 Fronteira de baixo 23:25
    Haja liberdade de expressão, a não ser assim como sabíamos da vergonhosa roubalheira dos militares na faturaçao fraudulenta das faturas nas messes,ou do roubo do armamento com a conivência previsível dos próprios militares. Continuem a trabalhar para ajudar a desmascarar estes e outros vergonhosos acontecimentos, já que as autoridades parece que andam a dormir, ou fecham os olhos vá-se lá saber porquê, ou talvez todos saibamos,lembremos dos ofshores etc. etc. É uma vergonha.
  • Luis Santos
    05 jul, 2017 Aljezur 23:09
    Disclamer: Tudo o que for escrito pode ofender a Igreja Católica em termos de evolução histórica. Compreendo perfeitamente que exista uma censura que não permita a publicação do comentário. Relativamente ao que está a acontecer entre o Qatar e as redondezas lideradas, como Satélites Soviéticos, pela "Saudi Arábia" é paralelamente comparável a uma posição de poder que aconteceu no Ocidente durante a reforma religiosa, Poderemos comparar a pressão sobre o Qatar com a pressão exercida pela Igreja Católica sobre os países que tinham em consideração os princípios de Lutero. Relembro que a escolha, na altura (e isto é ainda importante actualmente) se baseava em: um donativo para a Capela Sistina equivalia a perdão por todos os assassínios e pecados para Roma. Ao invés, Lutero, dizia que as "obras" (o que se fazia em vida) não valiam como eleição ao Reino de Deus, valia sim o acreditar nem que se continuasse a ser assassino. No lado (após Reforma) Católico, optou-se por considerar que os actos humanos eram mais importantes que o simples acreditar, seriam a prova perante Deus de um ser integro e justo (como poderemos observar na tradição Judaico-cristã e até na muçulmana, que tem origens na anterior). Existe uma Guerra entere a Sunna e o Quran, entre Sunitas e Xiitas. Esse é o problema como o é entre actualmente (sem guerras físicas) entre os paise Católicos e Protestantes, Uma questão de Princìpios de Vida que no caso Islâmico é apenas luta de influência regional.

Destaques V+