24 jul, 2024 - 14:38 • João Carlos Malta , Filipa Ribeiro
Não houve tratamento de excecionalidade, nunca falou com os pais da gémeas, nem ligou para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa. Em contrapartida, o filho do Presidente da República queixou-se da sua inação e passou a dirigir-se diretamente ao chefe da Casa Civil em todos os assuntos referentes àquele que ficou conhecido como caso das gémeas.
Esta quarta-feira, a comissão parlamentar de inquérito ouviu Maria João Ruela, a assessora da Presidência para os assuntos sociais e comunidades, sobre o caso das gémeas e sobre a sua intervenção no processo. A ex-jornalista disse que o filho da Presidente da República se queixou ao seu superior hierárquico, o chefe da Casa Civil, sobre a sua alegada inação no caso das gémeas.
E sublinhou de forma reiterada: "Nunca contactei com os pais [das gémeas]." Também repetiu o que, na véspera, já tinha sido dito pelo chefe da Casa Civil — o caso "não teve um tratamento de excecionalidade".
Maria João Ruela disse ainda que escreveu duas vezes a Nuno Rebelo de Sousa e que, depois da segunda comunicação, o filho do Presidente da República deixou de contactar com ela e passou a escrever diretamente ao Chefe da Casa Civil, Fernando Frutuoso de Melo. "Lamentou ao meu chefe a minha inação porque os pais da criança ainda não tinham sido contactados", referiu.
"Escreveu um email ao meu chefe a dizer que não fiz nada", repetiu, mais tarde, em resposta à deputada do PAN, Inês Sousa Real.
Sobre um outro email em que Nuno Rebelo de Sousa Rebelo pergunta se “não há nada que se possa fazer para acelerar processos”, Ruela diz que não respondeu. "Não fiz nada. Se calhar essa é a minha medalha neste caso [das gémeas]", qualificou.
A mesma responsável fez questão de afirmar que não falou com a família das gémeas. "Nunca contactei com os pais [das gémeas]", garantiu.
A assessora da Casa Civil confirma ter comunicado com filho da República, Nuno Rebelo de Sousa, depois de ter recebido o pedido de ajuda para o caso das duas crianças luso-brasileiras.
Ruela contou ter escrito a Nuno Rebelo de Sousa para perceber se as crianças viviam em Portugal ou fora do país. O filho do Presidente da República respondeu que viviam em São Paulo, mas que os pais teriam tudo preparado para viajar para Lisboa. Referiu ainda que nunca teve o contacto pessoal de Nuno Rebelo de Sousa.
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"Nunca tive nenhuma conversa, apenas falamos por email", referiu em resposta ao deputado do CDS, João Almeida.
Outra diligência que Ruela diz ter feito, foi a de perceber qual o tratamento que estes casos costumam ter, até porque nesse ano foi bastante mediático o caso da bebé Matilde, que tinha a mesma doença das gémeas.
A assessora revelou ainda que não contactou com ninguém do Hospital de Santa Maria, em Lisboa. "A nossa convicção era de que as bebés teriam ficado na Estefânia. Desliguei-me deste processo ao fim de dois dias", expressou.
Ruela afiança que "nem sequer sabia que elas tinham sido tratadas". "A ter sido contado algum hospital, teria de ser do Hospital da Estefânia", sublinha, mas não consegue precisar com quem terá falado.
Maria João Ruela diz que não tinha conhecimento pessoal do filho do Presidente da República, apenas o conhecia "profissionalmente", durante o 10 de junho que se realizou em São Paulo, no Brasil. De resto, "conhecia a figura dele, a fotografia dele", descreveu.
A ex-jornalista nega ainda ter prestado qualquer aconselhamento ao filho de Marcelo, o que foi sugerido pela deputada do PAN, Inês Sousa Real. "Estar a tratar de um caso e não perceber se as crianças que estavam em Portugal ou no Brasil... era uma resposta que eu precisava de ter", disse.
"Quem me podia dar [essa informação] era quem tinha feito o pedido, o Dr. Nuno Rebelo de Sousa. Não era objetivo dar nenhum aconselhamento", frisou.
Caso das gémeas
Berta Nunes diz que os portugueses no estrangeiro (...)
Questionada pelo deputado do PSD, António Rodrigues, sobre se faria tudo igual, Maria João Ruela responde que "sim, não tenho qualquer dúvida do que fiz em 2019". "Só mais tarde é que as coisas ganharam uma dinâmica que até estranho ", declarou. "Fizemos o mesmo que noutros casos", acrescentou.
Ainda assim, concede que "passados quatro anos as coisas ganham uma espiral que parece outra coisa".
A assessora explicou ainda, na intervenção inicial, que desde 2016 até ao final do ano passado, chegaram à assessoria dos assuntos sociais e comunidades portuguesas 32.864 mensagens, entre cartas e emails. "Trata-se de convites, tomadas de posição, pedidos de ajuda, pedidos de audiência, ou simples desabafos", acrescentou.