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​“O Estado Islâmico chegou com toda a normalidade. Um dia o olhar mudou e foi o terror”

​“O Estado Islâmico chegou com toda a normalidade. Um dia o olhar mudou e foi o terror”

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17 dez, 2015 - 16:10 • Ângela Roque

Em entrevista à Renascença, a irmã Irene Guia conta o que viu no Líbano e no Curdistão iraquiano, onde esteve a ajudar refugiados em fuga da guerra e dos terroristas islâmicos.

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O Serviço Jesuíta aos Refugiados (SJR) é uma das organizações que está no terreno a apoiar quem fugiu dos terroristas islâmicos. Esta organização não-governamental (ONG) católica assegura educação para as crianças e formação profissional a adultos, nomeadamente às mulheres.

A irmã Irene Guia, que integra a Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR), foi ao Líbano e ao Curdistão iraquiano e no regresso falou à Renascença.

Chegou a Portugal há dias, mas ainda não digeriu tudo o que viveu. Um dos momentos mais marcantes foi o funeral de vários elementos da mesma família que morreram ao tentar atravessar o Mediterrâneo.

Irene Guia estava no campo de refugiados quando os corpos chegaram: “Foi ainda no Iraque, eram iraquianos de Qarakosh. Naquele dia tinham chegado seis de sete corpos, porque o sétimo nunca foi encontrado. Eram todos da mesma família, duas irmãs, casadas, cada um delas com três filhos. Ficaram vivos três, um dos maridos com um dos filhos e um dos sobrinhos."

Participar na cerimónia teve em si um impacto muito profundo: “Foi viver a tragédia no ponto de partida e sentir-me muito culpada por não darmos solução. Estar ali e ver aquilo… Interroguei-me tanto em relação à Europa. Parece que já nada nos comove”, lamenta.

Em Erbil surpreendeu-a muito a coragem de quem vive com os terroristas a menos de 50 quilómetros.

“A normalidade da vida combate a própria violência. Se não fosse pelos campos, pelas estruturas de apoio aos deslocados, não diríamos que estávamos àquela proximidade do terror. Impressionou-me muito”, conta.

O dia em que o Estado Islâmico chegou à cidade

Das muitas conversas que manteve fixou a expressão “o dia do êxodo” que todos utilizaram para contar como foi quando tiveram de fugir de Mossul, em Agosto de 2014, e como os terroristas do autodenominado Estado Islâmico se infiltraram na cidade.

“É que não houve avanço. O que eles relatam é que o Estado Islâmico quando chegou, actuou com toda a normalidade. Eram todos simpatiquíssimos, ninguém suspeitou. Falei com várias pessoas e todos disseram isto: 'Houve um dia que o olhar mudou, e a partir daí foi o terror'". As vítimas foram sobretudo os cristãos, mas também os yazidis e os muçulmanos mais críticos.

Irene Guia conta ainda que os refugiados iraquianos não apontam o dedo apenas aos terroristas: “Todos aqueles com quem falei referem que se queremos falar deste problema temos que ir a 2003 e à invasão dos Estados Unidos, que deixou o Iraque sem soberania. E os exércitos, de acordo com as cores religiosas ou políticas, destroçaram o país. Por isso, a única parte organizada do Iraque, actualmente, é o Curdistão”. E é aí que os deslocados estão a ser acolhidos.

Missão em África

A irmã Irene Guia pertence à Congregação das Escravas do Sagrado Coração de Jesus, de espiritualidade inaciana, e integra a Plataforma de Apoio aos Refugiados, criada em Portugal.

Já esteve em missão no Ruanda e na República Democrática do Congo, mas diz que o que encontrou nesta viagem foi muito diferente.

“No Líbano e no Curdistão eles não são apologistas de campos, as pessoas estão a viver em casas com três ou quatro divisões, cada casa com três ou quatro famílias, uma em cada divisão." E esta é outra diferença em que notou: “Em África muitas famílias estão separadas porque de onde estavam fugiam, aqui houve famílias inteiras que tiveram de fugir num dia, partiram juntas várias gerações de uma mesma família”.

Aposta na formação das mulheres

Um dos objectivos desta deslocação de Irene Guia foi ver como estão a correr os projectos que o Serviço Jesuíta aos Refugiados tem no terreno.

“O JRS é muito conhecido por ser uma ONG virada para a educação, criam escolas para as crianças que estão nos campos de refugiados", mas também assegura formação profissional, nomeadamente às mulheres. “Aquela é uma sociedade patriarcal, onde o homem é que sustenta a família, mas agora não encontra trabalho. Então, o JRS tem apostado na formação das mulheres em pequenas habilitações profissionais que as ajudam a levar dinheiro para a família."

E, pelo que viu, isto já está a ter impacto cultural, na forma como se encara a família e o papel das mulheres: “É mostrar aos pais como é importante que as raparigas também continuem a estudar, e não só os rapazes”.

Para ajudar estes projectos que estão no terreno está a decorrer a campanha “PAR Linha da Frente”, que reverte para os projectos do JRS e da Cáritas Médio Oriente, ao nível da educação, saúde e alimentação.

No caso do Serviço Jesuíta aos Refugiados “o projecto também passa por assegurar a alimentação, durante um ano, de 1.720 crianças que frequentam as escolas que o JRS tem”. Todas as informações sobre a campanha estão disponíveis no site www.refugiados.pt

A entrevista à irmã Irene Guia vai ser transmitida no programa “Princípio e Fim”, da Renascença, no próximo domingo, a partir das 23h30.

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  • Celso Santana
    25 fev, 2016 Rio Maior 22:07
    Onde Estão Aqui, Os Triliões De Um Estado Tão Rico No Mundo Ilicitamente! Há Que Partilhar! É O segredo E O Propósito Que Andam Sempre Juntos!... Eu Apenas Proponho Vida Longa Para Quem Mudar Ou Tentar Mudar O SISTEMA!...

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