18 ago, 2017 - 07:00 • Redacção. Fotos: DR e Henrique Novais
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Por lá já passaram chefes de Estado estrangeiros, artistas conhecidos e políticos em busca de afirmação. No início do século XX, chegou a ser o centro de recrutamento dos voluntários republicanos para derrubar a Monarquia do Norte. Mais conhecida pelas touradas, mas também com forte presença na agenda de espectáculos de Lisboa, o Campo Pequeno faz 125 anos no dia 18 de Agosto.
Os espanhóis chamavam-lhe “o Kremlin de Lisboa” pela semelhança entre os torreões do Campo Pequeno e os da fortaleza russa.
De estilo neo-árabe, a praça de touros do Campo Pequeno foi projectada pelo arquitecto Dias da Silva e é hoje classificada como Imóvel de Interesse Público pela Direcção-Geral do Património Cultural.
Desde a sua inauguração até ao final do século XX, foi foco de atracção na cidade de Lisboa, sendo ponto de encontro para os aficionados dos espectáculos tauromáquicos.
Em 2000, por se encontrar num elevado grau de degradação, o Campo Pequeno fechou para obras. Seis anos depois, voltou a abrir ao público, requalificado e com mais valências. Para além da praça de touros, o espaço inclui hoje oito salas de cinema, um centro comercial, restaurantes, um museu e um parque de estacionamento.
Do complexo faz parte ainda parte o Jardim Marquês de Marialva, também recuperado aquando das obras.
Pequeno campo, grande versatilidade
Em 1892, D. Carlos estaria longe de imaginar que a praça de touros que mandou construir no lugar onde antes estava uma pequena arena de madeira iria ser palco de tantos acontecimentos marcantes da história política e social de Portugal.
Situada no então chamado Alvalade, o Pequeno, o monumental edifício de tijolo funcionou, no final do século XIX e até 1973, como sala de visitas do país.
Figuras como o imperador alemão Guilherme II, o Presidente francês Émile Loubet, o Rei de Inglaterra Eduardo VII e o general espanhol Francisco Franco estão na lista daqueles que foram recebidos com Corridas de Gala à Antiga Portuguesa.
A última destas recepções realizou-se em 1973, com a visita oficial de Emílio Médici, então Presidente da República Federativa do Brasil.
Depois do 25 de Abril, “as forças políticas encaravam o Campo Pequeno como um barómetro da sua popularidade junto do eleitorado”, diz à Renascença Paulo Pereira, responsável pelas Relações Públicas da área da Tauromaquia do Campo Pequeno.
“Quando se enchia o pavilhão dos desportos [Pavilhão Carlos Lopes]”, os partidos realizavam os seus comícios no Campo Pequeno. “As pessoas tomavam todos os lugares possíveis e imaginários. Depois enchia-se a arena também com pessoas. E ficavam outros tantos cá fora”, continua.
Para além da actividade política e diplomática, o Campo Pequeno tem também marcado a agenda cultural da cidade de Lisboa.
Ainda nas décadas de 70 e 80, o espaço foi palco de grandes concertos de pop-rock. Foi lá, por exemplo, que os Trovante gravaram um dos mais emblemáticos álbuns da sua carreira.
O CAMPO PEQUENO EM NÚMEROS
Desde a reabertura, em 2006, o Campo Pequeno recebeu:
Desde a reabertura em 2006, a sala tem acolhido vários concertos. Lá já actuaram nomes como Carminho, Xutos & Pontapés, The Script e Anselmo Ralph. O Campo Pequeno tem hoje capacidade para receber espectáculos musicais, eventos desportivos, reuniões de empresas, mercados e exposições.
“Uma espécie de templo”
Apesar da versatilidade, o Campo Pequeno é, acima de tudo, um espaço de vocação tauromáquica. “Não é apenas dos aficionados de Lisboa, é a praça dos aficionados de Portugal e, por isso, tem esse significado especial. É uma referência nacional”, afirma o sociólogo Luís Capucha, em entrevista à Renascença.
A arena “representa a identidade nacional de mais de 1,5 milhões de pessoas” que se “revêem na festa de touros”, explica o professor do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, que é também presidente da Associação Nacional de Tertúlias Tauromáquicas.
José João Zoio, António Ribeiro Telles, João Moura e Luís Rouxinol são alguns dos toureiros que Luís Capucha viu em algumas das noites que mais o marcaram no Campo Pequeno, ao longo dos últimos 30 anos.
Recuando até ao início do século passado, Paulo Pereira afirma que os espanhóis Gallito e Belmonte estavam entre os que marcaram a actividade tauromáquica da arena da capital portuguesa.
Mas nem só de triunfos é feita a história do Campo Pequeno. Também os momentos de tragédia “são inerentes ao espectáculo tauromáquico”, explica Paulo Pereira. Em 1904, morreu o cavaleiro Fernando de Oliveira. Joaquim José Correia, em 1966, e Varela Crujo, em 1987, também perderam a vida a tourear. Dois forcados morreram na sequência de pegas realizadas no Campo Pequeno.
[Notícia corrigida às 13h45]