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1. "No domingo fui às Antas". E descobrimos que Sérgio Godinho também ia
Perdoe-nos o "Escritor de canções" uma primeira (e única) referência musical a outro cantor fora deste contexto. Esta é do "Ar de Rock" de Rui Veloso, mas a realidade de que fala a letra de Carlos Tê não é nada estranha a este músico do mundo nascido no Porto.
Sérgio Godinho é adepto e sócio do Sporting, mas conta-nos que foi no velho reduto dos dragões que aprendeu a ver e gostar de bola. "Desde garoto. Aprendi a ver futebol no estádio das Antas, o meu pai era sócio do FC Porto. E lembro-me, aos domingos, de ir com o meu pai ao futebol. É uma lembrança muito grata, era muito bom."
"Domingo no mundo". E "O Porto aqui tão perto". Afinal Sérgio Godinho não está "com os azuis", como cantava, está com os verdes.
Diz-se "muito adepto", mas "é raro ir aos jogos", vale-se da televisão por cabo. E gosta tanto de futebol que, neste Europeu, já viu vários jogos para além dos de Portugal. "Também, aquele jogo de Portugal [refere-se ao primeiro da fase final, frente à Islândia], era melhor não ter visto. Como dizia o outro, se o Cristiano Ronaldo tivesse jogado, o resultado teria sido diferente."
(Que diria Sérgio deste último...)
2. Selecção assim? "Só neste país"
Sobram expressões do repertório de Sérgio Godinho para aplicar com graça à equipa nacional. "Sempre foi assim", "É a vida (o que é que se há-de fazer)", "Que há-de ser de nós", "Os demónios de Alcácer Quibir".
Será que é a táctica de Fernando Santos que é um bocado como "A democracia" - "O pior de todos os sistemas/Com excepção de todos os outros"?
E o que recomenda Sérgio Godinho?
"Para já, não relaxarem, não acharem que aquilo é tudo nosso", vai dizendo. "E acho, de qualquer maneira, que temos um défice de pontas de lança que é impressionante. Não há! Não há! Temos uma boa equipa, mas é acreditar no melhor." Chegamos longe? "Espero que sim. Não consigo dizer."
Ah... a tal e certa "Dor d’alma".
Mas se "O passado é um país distante", talvez tudo se resuma a um problema de "Acesso bloqueado".
"Lá isso é", diriam alguns. Mas "Mudemos de Assunto". Calemos o "Coro das velhas". Convoquemos os Amigos do Gaspar.
3. "Viva o Futebol" com Os Amigos do Gaspar
Sérgio Godinho recorda a música que faz parte do cancioneiro da velha série infantil de marionetas. Está a fazer 30 anos, como a série. E revela-nos o músico: "Estamos a tentar que, finalmente, com a Universal, a minha editora, que saia em DVD com tudo, uma caixa d'Os Amigos do Gaspar". É para 2016. "Porque é uma pena que não haja esse material, com tanta gente de 30 e tal anos, que fala d'Os Amigos do Gaspar e que se lembra disso".
"Espalhem a notícia" que Sérgio nos dá e que vai deixar muitos adultos felizes. "Exactamente. Adultos felizes e filhos desses adultos também felizes."
"A vida é feita de pequenos nadas". E "Às vezes o amor" dá-se em canções.
4. Onde descobrimos ainda que um árbitro se inspira com o "Espectáculo" de Sérgio Godinho
Subtraímos “Alice no país dos matraquilhos", pelas razões óbvias, e chegamos à principal música sobre bola no repertório d’ "O homem dos sete instrumentos". É um “Espectáculo”, de 1979, está dentro do álbum “Campolide”.
"Basicamente, aí falo do futebol, do music hall e da televisão e, sobretudo, encontro um traço de união, que é a comunhão que se consegue através de tudo isto. O futebol, achei que era um bom remate, um bom pontapé de saída para a canção".
E no pós-jogo, canta o silêncio. "Exacto. As luzes da ribalta... 'Às vezes não me seduz, às vezes não me faz falta'. O nosso trabalho é um trabalho de comunicação e de energia partilhada com o público. E, depois, também é bom, quando tudo isso acaba, estar no silêncio e ir para casa. Estar assim no silêncio é tão bom."
A canção ganhou uma forte ligação ao futebol e às suas personagens. Conta-nos Sérgio: "por exemplo, o Pedro Proença, que é o árbitro que é agora dirigente da Liga, contou-me que no balneário punha sempre a tocar essa musica antes do jogo, o que é engraçado."
Música para um árbitro. "Pode alguém ser quem não é?".
5. O futebol é um espectáculo?
"Então, não é? Eu gosto muito de futebol. Mas isto é uma entrevista sobre futebol? (risos)".
6. "Afinidades", com os Clã
E, em 1998, a convite da Expo, os Clã convocam Sérgio Godinho para um outro espectáculo, cheio de “Afinidades”.
Manuel Azevedo conta que "Espectáculo", a canção, é das primeiras a ser escolhida para o alinhamento. "Porque tem essa energia, essa celebração dentro da canção, tem uma letra muito divertida e acho que dizia muito bem a todos nós, que somos artistas, que gostamos de palco e também de bola."
E "Vem-nos a memória uma frase batida". Que afinidade é essa da música com o futebol?
Manuela Azevedo responde: "Para já, essa sensação de estar a subir a um palco, de se ter a consciência que há muita gente que está à espera de ver o melhor de nós, ali. E de ter essa cumplicidade, ou de esperar ter-se essa cumplicidade de quem esta a assitir." Mas há diferenças, claro: "num espectáculo de música não temos adversários em cena. Normalmente quem está em palco connosco está a ajudar e a colaborar e é uma coisa bastante mais pacífica (risos)".
7. Uma banda futebolisticamente diversa
"Conta-me histórias", pedimos. E Manuela Azevedo conta. Quando andam na estrada, os Clã não abdicam de um bom jogo de futebol, procuram os restaurantes com televisões ligadas na bola e, só depois das partidas (nem sempre inspiradoras no resultado), esta banda futebolisticamente diversa está pronta para subir ao palco.
"Temos um boavisteiro, por exemplo, que celebrou em palco essa longínqua vitória do campeonato do Boavista, já há alguns anos [2000/01], e foi uma alegria. O Miguel estava todo contente. Mas somos de clubes muito diferentes. Há benfiquistas, portistas, boavisteiros... Há alguns que são assim mais ou menos indecisos, não sabem se são sportinguistas ou não. E, claro, somos todos pela selecção."
8. "Asas delta" ou magia nos pés da selecção
Não têm músicas no repertório sobre bola, "mas nunca se sabe". Pedimos uma música dos Clã para inspirar os jogadores portugueses.
"Eu não resisto a pensar no 'Asas delta', porque acho que o que toda a gente quer, neste início de campeonato europeu, é mesmo que a selecção voe alto, vá longe, vá ate ao primeiro lugar, se possível. E que tenham muita magia nos pés. Não há nada mais mágico do que ter asas nos pés. E o 'Asas delta' fala disso."
6. "Que força é essa" que uma canção pode ganhar
"Ficou muito rockeira com os Clã, não é'", pergunta e afirma Sérgio Godinho sobre a versão conjunta de "Espectáculo".
"Aliás", continua, "depois na nossa banda aproveitamos esse arranjo para fazer essa coisa mais rockeira, é interessante. As músicas são plásticas, as músicas podem ter várias vidas".
E "Na corda bamba" do futebol ganhamos “Um brilhozinho nos olhos”. "Dancemos no mundo", ao som de "Espectáculo".
"Espectáculo", Sérgio Godinho (1979)
Quando
tu me vires no futebol
estarei no campo
cabeça ao sol
a avançar pé ante pé
para uma bola que está
à espera dum pontapé
à espera dum penalti
que eu vou transformar para ti.
Eu vou
atirar para ganhar
vou rematar
e o golo que eu fizer
ficará sempre na rede
a libertar-nos da sede.
Não me olhes só da bancada lateral
desce-me essa escada e vem deitar-te na grama
vem falar comigo como gente que se ama
e até não se poder mais
vamos jogar.
...
"Som de Bola", por Maria João Cunha (jornalista), Paulo Teixeira (sonorização). Entrevista a Manuela Azevedo: Maria João Costa. Arquivo Renascença: Ana Isabel Almeida.
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