01 mar, 2024 • Afonso Cabral
O que se passou na primeira parte em Alvalade antevia uma eliminatória (praticamente) decidida no final do jogo. Sentido único, com o Sporting a controlar as operações, e pouco contrariado pelo 4x4x2 do Benfica.
Schmidt voltou a apostar num ataque móvel, mas Rafa pareceu quase sempre desconfortável – não é jogador para segurar a linha defensiva e jogar de costas e ainda perde os movimentos de trás para a frente à procura das costas adversárias. Um facto que comprova esse incómodo foi a necessidade de Rafa ir buscar a bola fora da sua zona de ação, muitas vezes ao corredor lateral. Por vezes, di María ocupou esse espaço, na tentativa de dar alguma mobilidade à ideia de Schmidt, mas também sem o efeito prático que certamente o treinador alemão ambicionou.
Já Amorim apostou numa equipa simétrica no papel, mas assimétrica nas características dos jogadores, com um desequilíbrio quase funcional entre a dimensão ofensiva da direita, com Geny e Edwards, e a dimensão defensiva da esquerda, sobretudo na inclusão de Matheus Reis no 11, em detrimento de Nuno Santos. Deu-se bem o técnico dos leões, até porque Aursnes à esquerda foi uma aposta falhada. Defensivamente, perdeu no 1x1 contra Geny e, ofensivamente, não foi capaz de se juntar ao ataque e com isso trazer David Neres para o jogo.
O início da segunda parte trouxe Morato para jogo e com isso a robustez de um defesa central mais capaz de lidar com a dupla anglo-moçambicana da direita do ataque verde e branco. E o Benfica melhorou muito com bola, não necessariamente pela introdução de Morato...
Essa explicação pode ter várias interpretações, mas apenas um intérprete principal. É que, de facto, o valor individual de di Maria, Kokcü, Rafa, João Neves ou outros é suficiente para ganhar jogos, mas mérito a quem o tem. Roger Schmidt mudou alguns posicionamentos que permitiram ao Benfica e aos seus jogadores serem melhores e, se a abordagem inicial é criticável, o ajuste que faz à equipa para a segunda parte incomodou muito o Sporting. Ora veja-se:
O Benfica na primeira parte optou pela construção quase em 4x4x2. Kokcü e Rafa estavam muito presos na linha defensiva, sem liberdade criativa. A insuficiência ofensiva dos encarnados explica-se muito por aí.
Na segunda perte, houve um ajuste no posicionamento dos médios e viu-se muito mais Benfica. João Mário ficou responsável por ligar os sectores – foi comum vê-lo a ir buscar a bola muito perto dos centrais – e João Neves adiantou-se uns passos no campo, aproximando-se de Kokcü, tornando o Benfica em algo mais perto do que se pode considerar um 4x3x3.
Sem estar amarrado à linha defensiva, o 10 turco encarou o jogo de frente e pisou outros terrenos, procurando a bola no corredor lateral várias vezes, criando superioridade nesse sector com di Maria e por vezes até com Rafa. Foi deste corredor esquerdo que nasceu o golo do Benfica e a maior parte do perigo causado.
Esta mexida, aliada ao desgaste da dupla Edwards-Catamo, atirou o Benfica para a melhor fase do jogo e para uma aproximação daquele que considero o valor real de ambas as equipas.
Roger Schmidt, muitas vezes criticado por não ler bem o jogo, percebeu exatamente como podia ferir o Sporting e, não tendo sido exuberante na segunda parte, ficou a um VAR de distância do empate total na eliminatória.
Está tudo em aberto para a segunda mão.