07 mar, 2024 • Afonso Cabral
Em Arouca mora, por esta altura, uma das equipas mais entusiasmantes do campeonato. Nesta autêntica sociedade das nações, liderada por Daniel Sousa, vive-se tranquilamente no sétimo lugar e incentiva-se a liberdade artística. Para já, são 43 golos marcados no campeonato, os mesmos que o FC Porto, imagine-se, e a garantia de felicidade para quem assiste aos seus jogos. O estado de graça é tal que a turma do ex-adjunto de André Villas-Boas marcou nos últimos oito remates que fez à baliza.
Na época de ressaca do acesso à Europa, que em 2016 significou descida, os arouquenses conseguem consolidar o crescimento recente e corrigem os erros do passado. As saídas de Alan Ruiz, Basso ou até Rafael Fernandes já nesta temporada foram colmatadas com Cristo, Pedro Santos e Jason.
Daniel Sousa chegou à 12.ª jornada a uma equipa com seis pontos em 11 jogos, no último lugar da tabela e já eliminada da Europa, às mãos do Brann na pré-eliminatória da Conference League. Subiu a pulso, estabilizou a equipa e tornou-a espectacular, numa clara bofetada no futebol para o pontinho, muitas vezes defendido como essencial para se garantir a permanência na Liga.
Mas, afinal, o que têm Daniel Sousa e o seu Arouca de especial?
Ao ver um jogo do Arouca cedo percebemos que há conforto em todos os momentos com bola. Sai a jogar a partir de trás – responsabilidades para os centrais –, procura vantagens numéricas e não tem problemas em bater nas costas da linha defensiva adversária se aí estiver o espaço livre. David Simão e Pedro Santos ligam o jogo com muita qualidade e o primeiro vale-se de uma capacidade de passe longo assinalável, traduzida muitas vezes em assistências deliciosas. Basta ver os dois golos contra o Famalicão…
Na forma base do 4x2x3x1, vemos os laterais recuados na construção, centrais abertos e Cristo como vagabundo nas costas de um Mujica à espreita de brechas. Não há pressa e habitualmente progride-se através de combinações curtas.
Quando se instala no meio-campo ofensivo, esta equipa transforma-se e Pedro Santos fica a equilibrá-la para permitir largura aos alas. Criam-se várias soluções entrelinhas, no corredor contrário e ainda em profundidade.
É uma equipa que cria muitas oportunidades depois de recuperar a bola. Já mencionei a qualidade de lançamento de David Simão, mas há ainda o génio de Mujica, que tem muita facilidade em tirar adversários da frente, e de Cristo, excelente na ocupação de espaços. Finalmente, Jason é um artista. A facilidade com que contribuem com golos ou assistências em todos os jogos é comum aos três. O treinador soube colocar os valores individuais ao serviço da equipa.
Sem bola, a equipa não é tão eficaz e sofre alguns calafrios nas bolas paradas adversárias. Porém, o aspeto menos bom desta equipa vai para a proteção dos corredores laterais. Muitas vezes, a cobertura ao lateral não é garantida, expondo-o a uma situação de 1x1 contra o extremo; ou, se essa garantia for dada, a responsabilidade é do defesa central do seu lado, o que abre espaço a uma igualdade numérica dentro da área. O médio e o extremo do lado da bola não aproximam e a equipa paga caro.
Este detalhe não belisca o brilhantismo de Daniel Sousa e dos seus rapazes. Nove vitórias, um empate e quatro derrotas na Liga é o saldo do treinador que catapultou a equipa do 18.º para o 7.º posto da tabela.
O FC Porto não passou em Arouca, segue-se o Sporting (domingo, 18h00). Espera-se um emocionante embate entre o líder e a sensação do campeonato.