27 mai, 2023 • Ana Catarina André
Depois de se formar em Direção de Orquestra em Chicago, nos Estados Unidos, Martim Sousa Tavares decidiu voltar a Portugal, em 2019, para fundar a Orquestra Sem Fronteiras, um projeto que pretende fixar talento no interior do país e que já lhe valeu várias distinções, incluindo o Prémio Carlos Magno para a Juventude.
Aos 31 anos, já dirigiu orquestras de oito países, compôs e assumiu a direção musical de espetáculos teatrais. Tornou-se também uma voz ativa na divulgação da música clássica. É autor de programas de televisão e conferencista.
Em entrevista ao podcast Bolsa de Futuro, afirma que se interessa sobretudo “por ver a música clássica fora dos sítios mais óbvios” e confessa não ter medo de, nessa incursão, “causar estragos, porque há sempre quem esteja a fazer as coisas de forma convencional.”
Enquanto maestro, Martim Sousa Tavares procura “esticar por dentro e por fora os vários elásticos da música clássica para tentar ver de que forma é que consegue chegar a outras pessoas ou propor-se de outras formas, com outros conceitos, outros conteúdos”.
“Não me interessa fazer uma coisa de nicho”, assume o jovem maestro, que fez concertos de música clássica na discoteca Lux, em Lisboa, e, com este tipo de projetos, diz não ter “medo de causar estragos, porque há sempre quem esteja a fazer coisas de forma convencional”. O que lhe interessa – diz – é ver a “música clássica inserida no mundo real”.
Diz que “é um especialista em não ser especialista” e recusa dedicar-se apenas a uma peça ou a um período da música clássica. “Isso para mim é desinteressantíssimo. Acho mais giro um artista que consegue atravessar géneros e viajar entre estilos.”
Interessa-se pela representatividade e quer quebrar “o triangulo viciado” em que a música clássica assenta, o dos “homens, brancos mortos”, como lhe chama. Por isso, tenta que os programas que dirige incluam nomes menos conhecidos do público. “Prefiro usar a minha influência para dar voz a estas vozes mais marginais ou periféricas.”
Em 2019, fundou a Orquestra Sem Fronteiras, um projeto distinguido com o Prémio Carlos Magno para a Juventude, que pretende fixar talento no interior do país e proporcionar à população maior contacto com a música clássica. “Não sabia o quão incrível iria ser”, diz, relatando a forma emotiva como o grupo foi recebido em algumas aldeias por onde passou.
Apesar de ter conseguido implementar a ideia em pouco mais de seis meses, Martim Sousa Tavares nem sempre encontrou por parte das autarquias e entidades locais abertura à ideia. “Lembro-me de fazer algumas reuniões em que me disseram; ‘Reconheço o valor do seu projeto, mas aqui é mais rancho, coro e festas’”.
Martim Sousa Tavares sempre foi, nas suas palavras, “um rato de biblioteca”. Tornou-se leitor desde cedo e, aos sete, oito anos recebeu da mãe um piano em vez de um cão, como lhe tinha pedido. “Nessa altura, já ouvia música clássica e surripiava uns discos à coleção do meu avô”, recorda, dizendo que “nunca teve ilusões” de se tornar instrumentista. “O som da orquestra era o que mais me interessava e a única forma de tocar uma orquestra é dirigindo.”
Neto de Sophia de Mello Breyner e Francisco Sousa Tavares, e filho de Miguel Sousa Tavares e Laurinda Alves, teve desde cedo acesso à arte e à cultura. Por isso, fica espantando sempre que vai a casa de alguém e não encontra livros. “É uma coisa estranha”. Olhando para a sociedade portuguesa, defende que “as escolas são fundamentais para promover uma educação para a cultura em que as pessoas se vão habituando a crescer com este tipo de conteúdos e naturalizá-los”.