25 mar, 2020 • José Pedro Frazão Pedro Caeiro
O eurodeputado social-democrata Paulo Rangel critica duramente as palavras dirigidas pela ministra da Saúde aos responsáveis do lar de Famalicão onde foram identificados oito casos positivos de Covid-19.
Marta Temido afirmou, no início da semana, que os responsáveis do lar deviam ter preparado um plano de contingência, com "profissionais de segunda linha que estivessem prevenidos para poderem ser acionados para intervir, ter as equipas a funcionar em espelho, isto é, para cada um que está a trabalhar deveria estar alguém em casa, quando isso é possível, para se proteger em turnos semanais".
Rangel considera que as declarações são "inaceitáveis" vindas de alguém que "não se coíbe de criticar operadores que estão no terreno numa situação de emergência que têm que resolver".
O social-democrata tem sido uma das vozes do PSD mais críticas da ministra da Saúde na gestão da atual crise do novo coronavírus.
"Como é que uma ministra que nem sequer foi capaz de contar os ventiladores em janeiro e que só o fez há 10 dias, vem dizer que os outros têm que estar organizados? O Ministério da Saúde não fez um inventário dos ventiladores a partir do momento que as coisas acontecem em Wuhan? É preciso autoridade moral para exigir aos outros, quando uma estrutura com muito mais capacidade de resposta e previsão não fez sequer o seu trabalho de casa a tempo", afirma Paulo Rangel no programa "Casa Comum", da Renascença, em parceria com a Euranet, rede europeia de rádios.
Ouvido no mesmo programa, o socialista Francisco Assis considera que a ministra "estará sobre uma grande pressão e produziu uma afirmação que obviamente não deveria ter feito. Julgo que foi um descuido". O antigo eurodeputado reconhece que o Governo não pode fazer considerações daquela natureza acerca dos lares.
Noutro plano, Assis admite a existência de "alguma confusão" sobre a capacidade de fazer testes de despistagem da Covid-19. "Espero que seja esclarecida nos próximos dias. Precisamos de perceber claramente qual a opção que foi feita", acrescenta o antigo dirigente do PS. Já para Paulo Rangel há "claramente e desde o início" um défice de testes.
Burocracia a mais na ajuda às empresas
O social-democrata comenta ainda o pacote de medidas económicas destinadas a mitigar o impacto da pandemia. Paulo Rangel considera que a criação de linhas de crédito não é exequível para pequenos empresários.
"Qualquer pessoa que conheça o tecido económico português sabe que um pequeno café ou restaurante perdeu toda a sua clientela de um dia para o outro. As coisas podiam até estar a correr muito bem em janeiro e fevereiro, mas derraparam completamente em março. Não podem agora estar a fazer uma amostragem de dois meses para ter acesso a algum apoio. A questão da linha de crédito vai atirar para a frente uma dívida", afirma Paulo Rangel na Renascença.
O eurodeputado diz ainda ter dúvidas sobre a medida que condiciona todo o apoio à inexistência de qualquer despedimento. "Nalguns casos em vez de 10 pessoas perderem o emprego, 20 ou 25 vão perder o emprego", complementa Rangel para quem as condições burocráticas impostas são irreais e próprias de "quem não conhece como funcionam as empresas".
Francisco Assis concorda que as medidas implicam um "excesso de burocracia". O antigo deputado socialista diz que o espaço de dois a três meses representa a diferença entre a sobrevivência ou o fecho de uma empresa.
"As pessoas estão absolutamente desesperadas neste momento. Começam a encarar mesmo a possibilidade de terem que fechar empresas que na maior parte dos casos correspondem a projetos de uma vida inteira. Estão muito empenhadas em evitar que assim aconteça. estão dispostas a fazer enormes sacrifícios para que assim não aconteçam. Mas precisam de facto de uma resposta mais imediata do Estado", sustenta o habitual comentador do programa "Casa Comum".
Questionado sobre a escolha entre empresas e cidadãos como alvo da distribuição de liquidez acrescida no plano económico do Governo, Francisco Assis opta pelas empresas.
"Uma proposta de um rendimento incondicional em termos experimentais por uns meses para toda a gente tem alguns perigos. Podemos ter uma crise de oferta dentro de poucos meses. Se as nossas empresas começarem a encerrar por qualquer motivo, por falha das cadeias de produção internacionais ou porque elas próprias não resistem e não têm apoios, podemos ter uma séria crise de oferta. E nesse caso não adianta muito estar a dar dinheiro diretamente às pessoas", remata o antigo deputado do PS.
Este conteúdo é feito no âmbito da parceria Renascença/Euranet Plus – Rede Europeia de Rádios. Veja todos os conteúdos Renascença/Euranet Plus.