24 abr, 2022
A história repete-se, mas não é exatamente igual. Este domingo, tal como há cinco anos, o reformista liberal Emmanuel Macron e a líder da extrema-direita Marine Le Pen vão disputar o próximo quinquénio da presidência francesa. Agora, como então, todas as sondagens são favoráveis ao incumbente, mas com menor amplitude. Mais: surgem fantasmas do risco combinado pelo eventual efeito de uma abstenção expressiva, voto em branco e um grande número de indecisos.
Mas podem estas variáveis levar a uma improvável, mas não impossível, surpresa numa eleição que pelo peso político e económico da França na Europa será seguida com atenção muito para lá do hexágono territorial francês?
Aos 44 anos, Macron concorre a um segundo mandato, enquanto aos 53 anos, Le Pen, líder do ‘Reagrupamento Nacional’, RN, antes ‘Frente Nacional’, tenta pela terceira vez chegar ao Eliseu e está na segunda volta pela segunda vez. Em 2017, Macron impôs-se com 66% dos votos face a 34%. Agora, a média das sondagens situa a vantagem entre 10 e 13 pontos (56% - 43%), uma tendência a parecer refletir que a RN é uma força em contínuo crescimento.
Macron confia na força da chamada 'frente republicana' – assim é conhecido o cordão político para travar a extrema-direita – para continuar no Eliseu, mas o incumbente carrega agora o peso de uma governação nada fácil, marcada pela agitação social provocada pelas suas reformas – protestos dos ‘coletes amarelos' – e efeitos da pandemia depois, bem como as consequências da guerra na Ucrânia. A este quadro soma-se ainda a escassa generosidade dos franceses para com os seus presidentes: desde os anos 80 só François Mitterrand e Jacques Chirac foram reeleitos.
Este quadro foi explorado por Marine Le Pen, apelando a uma frente eleitoral anti-Macron, apresentando-se como a candidata do povo contra o candidato das elites. E com visões nos antípodas sobre a economia, sociedade e sobre o papel da França na União Europeia. Macron também se esforçou por priorizar os ângulos mais polémicos do programa de Le Pen: a proibição do véu islâmico, maior controlo da imigração e a sua estreita relação com o agressor na Ucrânia, Vladimir Putin.
A França a votos e a guerra na Ucrânia – a entrar em semanas decisivas – são temas para a análise de Nuno Botelho, José Pedro Teixeira Fernandes e José Alberto Lemos.