18 dez, 2022 • José Bastos
“A democracia europeia está sob ataque”. A frase de inegável dramaticidade foi usada pela líder do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, para se referir ao escândalo a atingir uma vice-presidente e outros responsáveis políticos e sindicais, suspeitos de terem sido corrompidos pelo Qatar.
Eva Kalil está detida e, em menos de oito dias, foi expulsa do Pasok, o partido socialista grego e do Parlamento Europeu num caso em que a presunção de inocência parece ter ficado a perder para o 'julgamento' feito no âmbito da responsabilidade política.
O caso parece, por agora, circunscrito a um número reduzido por pessoas que estaria envolvido num esquema de corrupção clássico com notícias a indicarem malas repletas de dinheiro. Subornos em troca de influência política para favorecer o Qatar.
Com a guerra em curso na Europa, este era o escândalo que a Europa dispensava numa altura em que troca de dependências energéticas – o Qatar é chave na substituição da Rússia – e arrisca chegar ainda mais debilitada ao tabuleiro negocial.
Uma das dúvidas é saber se o caso se reduz ao parlamento ou ramifica para outras instituições. Ursula Von der Leyen voltou a defender a criação de um organismo independente para a transparência e uma revisão profunda dos mecanismos de supervisão e de controlo ético do aparelho institucional.
O ‘Qatargate’ é um dos temas em debate onde se olhará também para a ironia de ver políticos portugueses que nunca produziram juízos éticos ou políticos sobre o processo envolvendo um ex-primeiro ministro, ou um ex-ministro, qualificar de ‘nojo’ o alegado comportamento da socialista grega e a exigir imediatas consequências políticas. Afinal, Bruxelas fez em dias o que em Portugal demora mais tempo.
Desta semana há ainda a acusação do MP a Manuel Pinho – num caso exemplar para a democracia, o da hipótese de corrupção continuada de um ministro em funções – de 574 páginas. Mas o essencial do debate público foi para a articulação de prazos por parte do MP e não para a substância e gravidade das acusações produzidas.
A análise é de Nuno Garoupa, professor da GMU Scalia Law, Nuno Botelho, presidente da ACP – Câmara de Comércio e Indústria e do jornalista José Alberto Lemos que também vão decompor a entrevista de António Costa à Visão.