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Opinião

Retorno financeiro das JMJ (Jornadas Mundiais da Juventude)

31 jul, 2023 • João Duque • Opinião de João Duque


As JMJ não servem apenas o evento em si. Elas proporcionam também uma exercitação sobre a capacidade dos portugueses acomodarem, de forma organizada e minimamente estruturada, uma enorme quantidade de pessoas numa zona confinada de Portugal.

Quando tratamos questões de natureza espiritual parece um pouco estranho olhar-se para o problema do ponto de vista económico ou comercial. Imagine-se que uma família que organiza um casamento ou um batizado faz as contas para apurar o “resultado”, isto é, o lucro ou o prejuízo... Mais do que bizarro parece até agressivo. E este tipo de análises não se aplica só aos católicos, mas a todos os que organizam eventos de cariz religioso sob a bandeira de qualquer credo. Quase se aplica o mesmo nas celebrações oficiais. Por exemplo, fará sentido calcular o custo da organização de uma tomada de pose do Presidente da República ou da coroação de um Rei? Por muito que a análise seja crua e possa ferir sensibilidades, a resposta está em quem financia o projeto. Tratando-se de um casamento ou batizado se o dinheiro é privado e essa família deseja gastar os seus recursos financeiros nesse evento, o problema é dela. Se não faz contas à vida ninguém tem nada com isso desde que o que gasta não comprometa o zeloso pagamento dos outros compromissos pessoais, nomeadamente fiscais...

Mas tratando-se de eventos que envolvem dinheiros públicos então já faz sentido apurar-se o saldo e depois, em função dos valores estimados, decidir da razoabilidade do dispêndio. Esta análise ex-ante que deveria ser obrigatória em muitos eventos ou investimentos públicos, apoia a decisão de realizar ou não determinado evento. Acabado o evento, em função da realidade do mesmo, deveria então apurar-se o resultado observado, ganhando-se experiência sobre o processo encetado e sobre a qualidade do apuramento prévio. Note-se que este exercício a posteriori é particularmente relevante porque permite calibrar os parâmetros usados nos estudos feitos a priori e, por conseguinte, permite aumentar o grau de confiança ou desconfiança nos estudos prévios.

Uma vez assumida a necessidade de se fazer uma avaliação do evento numa ótica económico-financeira, a questão que se coloca é sobre o que medir e como medir.

Um evento com a grandeza das JMJ tem um impacto muito superior ao da simples perspetiva do organizador. Por isso, para além da ótica da Fundação JMJ que recolhe receitas e paga despesas é importante aferir a ótica mais lata da região ou do país.

E nessa medida é importante estimar os efeitos que o evento económico tem na economia em geral que serve e é servida pelo evento. Quer isso dizer que quando se faz a avaliação económica de um evento desta natureza pela sua dimensão (um milhão e meio de pessoas a deslocarem-se para um local num país de 10 milhões, numa região de três milhões de habitantes como Lisboa) durante deve uma semana tem um impacto material muito relevante. Em primeiro lugar porque as estadias duram, normalmente mais do que a estrita duração do evento. Em segundo lugar porque o número de pessoas e empresas que estão ligadas direta ou indiretamente ao evento é muito elevado e permite estimar que os benefícios económicos e financeiros são mais abrangentes do que o que se associa ao estrito limite da entidade que recebe os pagamentos de inscrição dos jovens participantes nas jornadas.

Assim, numa primeira estimativa feita previamente ao evento, a PwC - PricewaterhouseCoopers, com o apoio técnico / científico do ISEG na definição dos parâmetros da análise input-output estimou um valor acrescentado bruto da ordem dos €470 milhões. Isto é, o benefício económico, repartido por todos os que direta ou indiretamente estão ligados ao evento beneficiam de um valor total agregado desta grandeza. Note-se que este valor é o valor que é repartido entre uma enorme quantidade de agentes e não é o volume de receitas ou de vendas desses agentes! Ele é o valor que se pode somar em termos de uma série de componentes que incluem nomeadamente salários, margens empresariais depois de pagos os respetivos custos e ainda impostos. Ou seja, de um modo agregado, os portugueses dos setores público e privado beneficiam deste evento que, de um modo agregado se pode dizer que quase representa quase €500 milhões.

Por fim, pode dizer-se que isto é muito ou pouco? Para fazermos ideia do que isto pode significar é pensar de um modo muito simples: o PIB de Portugal por semana é, em média, de €4.800 milhões. Se durante esta semana conseguirmos aumentar o PIB nacional €500 milhões então estamos a aumentar 10% esse PIB.

Por fim uma palavra sobre o exercício das JMJ na sociedade portuguesa. As JMJ não servem apenas o evento em si. Elas proporcionam também uma exercitação sobre a capacidade dos portugueses acomodarem, de forma organizada e minimamente estruturada, uma enorme quantidade de pessoas numa zona confinada de Portugal, o que pode ser o resultado de uma calamidade ou evento imprevisto, como foi recentemente o caso da migração de milhões de ucranianos para os países vizinhos. A juntar a esse, o benefício de muitos jovens terem a primeira oportunidade para colaborarem como voluntários numa atitude de serviço à comunidade incomum nos dias e na cultura de hoje.

Porém, o verdadeiro exercício faz-se depois, após se conferirem quantos peregrinos nos visitam e que tipo de impactos mensuráveis estimaremos.

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