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Margarida Ferreira Marques
Opinião de Margarida Ferreira Marques
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Um milhão em vão? O efeito borboleta da JMJ

01 ago, 2023 • Margarida Ferreira Marques • Opinião de Margarida Ferreira Marques


Numa altura em que tudo se transforma a um ritmo frenético, as opiniões polarizam-se, a economia dá sinais de precisar de ser reanimada, o ambiente e os recursos naturais gritam pela nossa atenção, mas a nossa concentração se dispersa a cada 15 segundos, congregar jovens num único lugar, cara a cara, lado a lado, é uma oportunidade única.

A Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023 será o evento de maior dimensão e projeção a acontecer em Portugal depois do Euro 2004. As estimativas preveem mais pessoas em Lisboa na primeira semana de agosto do que as que estiveram em Portugal a apoiar as suas seleções, no princípio do milénio.

Mas quase 20 anos depois, num tempo em que valorizamos cada vez mais o digital, em que tanto se fala de crise climática, faz sentido congregar num único local um milhão de pessoas vindas de todos os cantos do mundo?

A resposta é um claro “sim”.

Numa altura em que tudo se transforma a um ritmo frenético, as opiniões polarizam-se, a economia dá sinais de precisar de ser reanimada, o ambiente e os recursos naturais gritam pela nossa atenção, mas a nossa concentração se dispersa a cada 15 segundos, congregar jovens num único lugar, cara a cara, lado a lado, é uma oportunidade única. Será uma semana para partilhar experiências e dar a conhecer realidades, numa comunhão que pode desencadear um “efeito borboleta”, influenciando de forma positiva a vida de milhares de pessoas e comunidades um pouco por todo o mundo.

A JMJ Lisboa 2023, o primeiro grande evento global de jovens pós-pandemia, será um lugar de encontro privilegiado para que estes milhares de peregrinos - que mesmo sem se conhecerem coabitam neste tempo histórico - partilhem angústias, desafios, cansaços, mas também alegrias, expectativas e sonhos. Em conjunto, podem conhecer novas realidades, questionar, procurar caminhos e renovar a esperança no presente.

O presente é o tempo destes jovens: nós não habitamos num tempo histórico idealizado, não vivemos num tempo futuro que ainda está por definir. Existimos no hoje que precisa de cultivar a esperança, porque só assim há amanhã, conscientes de que somos moldados pelo que nos precede. Não queremos uma esperança ligeira, fácil, imediata, quase infantil, mas uma esperança esclarecida, profética, de quem conhece a sua dignidade, não se resigna aos desafios da vida e reconhece que, mesmo nas adversidades, é possível encontrar saídas e novos pontos de partida.

Para muitos jovens, crentes e não crentes, a JMJ Lisboa 2023 pode ser esse novo ponto de partida. Para os crentes é uma oportunidade de encontro com a vida de Jesus Cristo e com o Espírito que desinstala, que impele a viver uma vida em movimento, em saída, a superar o próprio contexto quer geográfico quer familiar. E para não crentes porque é impossível ficar indiferente ao encontro com tantas realidades e culturas diferentes e não ficar fascinado e inspirado com a força mobilizadora de um evento desta dimensão.

Pensar um evento desta magnitude precisa de muita inspiração (Divina, sobretudo), reflexão e dedicação. Tive a oportunidade de ser “uma gota no oceano” e colaborar quase dois anos com o gabinete Diálogo e Proximidade da JMJ Lisboa 2023. Um gabinete de aconselhamento para as questões da inclusão e da sustentabilidade (inspirado pelas encíclicas Laudato Si e Fratelli Tutti) e ainda acompanhar alguns trabalhos que a organização desenvolveu para trazer a Economia de Francisco (EoF) para este encontro.

A EoF tendo estado presente na preparação, quis também ir ao encontro dos peregrinos na semana da JMJ Lisboa 2023. Para isso, com e na Universidade Católica Portuguesa, vai abrir as portas da sua “EoF Home”. Uma casa para estar, parar, tomar café e encontrar amigos, que vai ter fóruns de diálogo que juntam agentes de mudança, empresários e académicos (EoF talks), apresentar projetos que encarnam e promovem uma economia transformadora (EoF posters), entre muitas outras surpresas.

Muitas entidades, instituições e fundos foram mobilizados, mas sobretudo pessoas que se sentiram interpeladas a participar e cultivar esta atitude de quem espera, transformando a própria vida e a vida das comunidades em que se inserem.

Aceitar o desafio de superar a nossa própria individualidade e as formas pretensamente definitivas que construímos para a nossa vida, abrindo-nos, convictamente, ao impacto das surpresas (e de Deus), desinstala-nos e põe-nos a caminho experimentando uma realidade e um destino muito maior que nós.

Aceitar o desafio de participar na JMJ Lisboa 2023 é já estar nesse caminho, mas é importante não nos esquecermos de que estes percursos são frágeis, fazem-se de avanços e recuos, de aceitação da nossa vulnerabilidade e de paciência, aceitando a oportunidade de cada tempo e não perdendo de vista que estamos sempre inacabados.

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