04 set, 2023 • Céline Abecassis-Moedas
Esta semana, que é de regresso às aulas, coincide também com o primeiro dia de trabalho da minha filha e, seguramente de muitas jovens mulheres. Como mãe, professora e profissional, gostava de partilhar com estas jovens mulheres como é que as grandes tendências globais como o aquecimento global, a inteligência artificial e a inflação impactam particularmente o emprego feminino!
Primeiro, o aquecimento global é, cada vez mais uma preocupação. Este verão de 2023 foi um dos mais quentes de sempre, não só na Europa, mas também no resto do mundo... e, tudo indica que vai piorar no futuro. A ex-candidata a Presidente do EUA Hillary Clinton está a alertar para esta problemática, numa vertente pouco conhecida e que impacta diretamente as mulheres, depois de ter sido conhecido um relatório com dados dos Estados Unidos, Índia e Nigéria que relaciona como o calor aumenta ainda mais a desigualdade de género.
Isto porque, muitas mulheres trabalham na “economia informal” como nos mercados de rua, a agricultura ou a construção. Por exemplo, nos mercados sem proteção para o sol, o calor estraga a comida preparada que é fonte de rendimento. Na agricultura, na India por exemplo, algumas mulheres têm de começar o dia de trabalho às quatro da manhã para evitar as horas mais quentes. Na construção, o calor no metal queima as mãos. As mulheres são particularmente afetadas nos seus empregos porque acabam por estar mais expostas. Adicionalmente, o calor tem também impacto na sua saúde e na das suas famílias de quem devem cuidar. Portanto, o aquecimento global impacta mais as mulheres e o emprego feminino.
Com o desenvolvimento do Chat GPT4, o impacto da inteligência artificial sobre o emprego é um tópico quente! Será que o impacto é diferente entre géneros? Um estudo recente mostra que a inteligência artificial pode vir a substituir mais o trabalho feminino como o administrativo, o jurídico ou o comercial.
Opinião Católica-Lisbon
O aumento da esperança média de vida tem implicaçõ(...)
São atividades mais expostas a automatização pela inteligência artificial generativa. Mesmo que existe mais homens do que mulheres a trabalhar, o impacto vai ser superior para as mulheres, porque 80% das mulheres trabalham em indústrias altamente expostas quando comparado com 60% dos homens.
Não sabemos ainda se esta tendência se irá confirmar no futuro ou se pelo contrário a inteligência artificial pode acabar por entrar também nas áreas industriais e logísticas, mais masculinas e reequilibrar o impacto negativo no emprego feminino.
Finalmente qual é o impacto da inflação no emprego feminino? Em 2022 escrevi um artigo sobre a recessão cor-de-rosa. Na altura da pandemia, havia evidência da saída de mulheres do mercado do trabalho porque tinham de acompanhar os filhos nos estudos em casa e porque tinham perdido emprego nas indústrias como o retalho, a hotelaria, a restauração e a educação que são tipicamente mais femininas.
Um pouco mais de um ano depois, e depois de uma guerra às portas da Europa com impacto forte na inflação e nas taxas de juros, o mundo mudou outra vez. A tendência parece que está a reverter, com as mulheres de volta ao mercado de trabalho e em força. O mesmo fenómeno aconteceu em 2007-2009 na grande recessão que trouxe mais mulheres a trabalhar.
Por causa da inflação muitas mulheres tiveram de entrar ou reentrar no mercado do trabalho. A inflação cria mais necessidades para as mulheres terem emprego, consequentemente tem impacto positivo no emprego feminino. Adicionalmente, o trabalho remoto e mais flexível facilita o trabalho das mulheres e das mães.
Em conclusão, o aquecimento global afeta a todos, mas afeta particularmente os empregos femininos e a vida das mulheres de maneira muito negativa. Pode potencialmente ser mitigado com medidas de proteção. A inteligência artificial que está a substituir o trabalho em muitas medidas vai afetar primeiro os empregos femininos, mas pode mais tarde atingir os empregos industriais e masculinos. Finalmente, e depois da pandemia que obrigou mulheres a sair do mercado trabalho, a inflação (e o trabalho remoto e flexível) estão a trazer mais mulheres ao mercado do trabalho. É essencial as mulheres terem consciência destas tendências para se preparar para as suas carreiras! Desejo a todas muita força neste novo ano letivo e o melhor para a minha filha no seu novo emprego!
Céline Abecassis-Moedas, diretora da Formação de Executivos da Católica Lisbon Business School & Economics
Este espaço de opinião é uma colaboração entre a Renascença e a Católica Lisbon School of Business and Economics