Siga-nos no Whatsapp
Pedro Celeste
Opinião de Pedro Celeste
A+ / A-

O lado bom da IA

18 nov, 2024 • Pedro Celeste • Opinião de Pedro Celeste


O grande desafio empresarial passa por transformar projetos de inteligência artificial em produtos e serviços que sejam acessíveis às empresas nas mais variadas áreas. E que transportem os recursos humanos para tarefas de maior valor.

A propósito das tensões geopolíticas que se vão conhecendo em várias partes do globo, um artigo recente do Jornal de Negócios prognosticava que, em breve, pode haver armas em que é o algoritmo quem decide se um humano vive ou morre, onde e quando.

Sem querer minimizar ou desvalorizar essa hipótese, este artigo tem o intuito de olhar para a outra face da moeda, seja numa lógica empresarial ou social. Naquilo que poderia ser uma sequência lógica das reflexões resultantes de uma conferência da ONU, intitulada AI For Good, no passado mês de maio.

Em primeiro lugar, é fundamental compreender que estamos a assistir a uma revolução tecnológica que, pela primeira vez, interfere com as funções empresariais de maior qualificação. Na realidade, se até à data os incrementos tecnológicos de nível incremental ou mesmo disruptivo tiveram impacto sobretudo nas tarefas exercidas na base da pirâmide hierárquica da empresa e foram substituídas pela robotização, hoje verificamos que a inteligência artificial generativa irá interferir em todos os escalões da pirâmide empresarial, abrangendo as áreas administrativas, engenharia, gestão da informação ou jurídica, até ao C-Level. Afinal, com um parceiro desta categoria, que nos ajuda a pensar e a decidir, por que razão são necessários tantos membros de uma comissão executiva?

Sendo assim, não deixa de ser curioso que todas as atividades que envolvem trabalho braçal, tais como enfermagem, limpeza, cuidadores, restauração, eletricistas etc. estão, de alguma maneira, defendidas deste impacto.

Muitos olham para o impacto da inteligência artificial como representando uma grande ameaça aos postos de trabalho. Em parte, não deixa de ser verdade, mas o maior constrangimento não é perder o emprego para a inteligência artificial. É perdê-lo para quem a saiba utilizar corretamente, uma vez que ainda vigorará por algum tempo a necessidade permanente da fusão entre o humano e a tecnologia.

Pegando nestes exemplos, o grande desafio empresarial passa por transformar projetos de inteligência artificial em produtos e serviços que sejam acessíveis às empresas nas mais variadas áreas. E que transportem os recursos humanos para tarefas de maior valor. A médio prazo, as empresas vão ter de moldar a organização do trabalho e o respetivo contributo individual.

Enfatizando a perspetiva positiva que o impacto da inteligência artificial provoca nas empresas ao serviço do ser humano, podemos antecipar que a mesma já conhece aplicações que visam apoiar diretamente idosos ou pessoas com deficiência. O laureado com o prémio Nobel da Literatura, Kazuo Ishiguro, retrata a temática da amizade e do amor num mundo moderno e em rápida mudança através de Klara, uma figura artificial na relação com um adolescente. Já Yuval Harari, no seu último livro intitulado Nexus, remete para a potencial relação emocional (e preferencial) com o interlocutor artificial.

Algo semelhante ocorre na área da saúde com o projeto Halo, da Unbabel, que promove a assistência de uma interface neurológica assente na inteligência artificial em pessoas com esclerose lateral amiotrófica, otimizando a sua relação com a fala e com a escrita.

Estudos recentes revelam que 95% das pessoas dizem conseguir aprender com a inteligência artificial generativa e uma percentagem muito significativa indica que a mesma ajuda a recolher informação útil ou a tomar decisões.

A este propósito, diria que há três principais formas de otimizar a fusão entre a inteligência artificial e humano:

1. Integração inteligente, através da colocação das perguntas certas para obter informação, mais aproximada ao pretendido;

2. Julgamento da integração, que pressupõe a análise dos resultados, recolocação das perguntas e a respetiva revisão;

3. Aprendizagem recíproca, que significa tirar cada vez mais partido dessa informação e adaptá-la à particularidade do negócio e da função.

A mudança vai (e está) a acontecer. Com os cuidados e adaptação necessários, a fusão é bem-vinda e poderá fazer toda a diferença na vida das empresas.


Pedro Celeste é diretor do Executive Master in Strategic Marketing da Católica Lisbon Business School & Economics

Este espaço de opinião é uma colaboração entre a Renascença e a Católica Lisbon School of Business and Economics

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.