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Joana Mata Pereira
Opinião de Joana Mata Pereira
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Opinião Católica-Lisbon

Envolver os estudantes do ensino superior na aprendizagem

09 dez, 2024 • Joana Mata Pereira • Opinião de Joana Mata Pereira


Envolver os estudantes no processo de ensino e aprendizagem é mais pertinente do que nunca, em especial no ensino superior. Tradicionalmente, as aulas expositivas têm sido o alicerce do ensino universitário, com o professor a transmitir o conhecimento de forma estruturada. Mas entre telemóveis e computadores, redes sociais e inteligência artificial, a disputa pela atenção dos estudantes tornou-se uma batalha desigual.

Com cada vez mais estímulos externos, queremos que os nossos estudantes aprendam, mas as abordagens mais tradicionais serão difíceis de manter se a aprendizagem por parte dos estudantes é o nosso objetivo.

A aprendizagem envolve a construção ou co-construção ativa de significado. E a aprendizagem significativa é facilitada quando se estabelecem conexões, se reflete em ideias, se geram ideias iniciais, se encontram conclusões, e também ao estruturar explicações e argumentos, quer para si mesmo quer para os colegas ou para o professor. E, adicionalmente, aprendemos mais quando aprendemos com outros.

Se queremos envolver os nossos estudantes em aprendizagens desta natureza, precisamos de abordagens que o permitam. A aprendizagem ativa é uma abordagem onde os estudantes estão no centro do processo de aprendizagem, envolvidos em refletir sobre ideias e sobre como usam essas ideias. Num ambiente de aprendizagem ativa, os estudantes estão deliberada e consistentemente, mentalmente ativos – e por vezes também fisicamente ativos – em atividades que os levam a recolher informação, pensar e resolver situações ou problemas.

Mas a aprendizagem ativa não acontece de forma natural na sala de aula, o professor tem de criar um ambiente de aprendizagem que crie oportunidades para que essa aprendizagem ativa possa acontecer. Isto pode acontecer com atividades como experiências, problemas de resposta aberta, role-play, aprendizagem colaborativa, discussão de casos, ou simulações.

A investigação tem mostrado de forma consistente que a aprendizagem ativa traz aprendizagens mais significativas para os estudantes do que abordagens de aprendizagem passiva. Por outras palavras, a aprendizagem ativa funciona.

Mas…e se os estudantes preferirem uma boa aula expositiva?

Comecemos pelo fundamental: a aprendizagem também pode acontecer em aulas expositivas. Se não acontecesse, muitos de nós nunca teríamos aprendido coisa alguma. E, apesar dos benefícios, a aprendizagem ativa pode ser recebida com resistência. Estudantes habituados a aulas expositivas podem sentir-se desconfortáveis ou céticos quando convidados a participar mais ativamente. O que é perfeitamente compreensível: as aulas expositivas são-lhes mais familiares e parecem exigir um esforço menor para a aprendizagem.

Mas vale a pena termos consciência de que a perceção dos estudantes sobre a sua própria aprendizagem pode não corresponder à aprendizagem desenvolvida. Um grupo de professores de Harvard publicaram um estudo que compara a perceção dos estudantes da sua aprendizagem com as aprendizagens efetivas desses mesmos estudantes. No estudo, os estudantes relataram sentir-se mais confortáveis e aprender mais em aulas expositivas. Contudo, as avaliações mostram que os estudantes aprenderam efetivamente mais nas aulas de aprendizagem ativa. Estes resultados sugerem que, apesar das aulas expositivas parecerem mais acessíveis, podem não ser tão ser tão eficazes para promover a aprendizagem.

Mas…se a aprendizagem ativa é melhor, porque não temos todos os professores a promovê-la?

A transição de uma abordagem expositiva para a aprendizagem ativa é extraordinariamente exigente para os professores, especialmente para aqueles que ensinam com sucesso em aulas expositivas ao longo dos anos. A mudança, qualquer que seja, nunca é fácil, e implementar estratégias de aprendizagem ativa requer mais do que conhecimento científico sobre o tema, exige conhecimento sobre como ensinar, sobre metodologias, estratégias e, por vezes, mudança de perspetiva sobre o que é ensinar e aprender.

No entanto, esta mudança não precisa de ser abrupta ou integral num primeiro momento. Os professores podem começar por incorporar, de forma gradual, estratégias e atividades de aprendizagem ativa, criando oportunidades pequenas, mas significativas para a participação dos estudantes. A título de exemplo, uma discussão em aula pode evoluir de um modelo de perguntas e respostas para um modelo de complemento de respostas dos colegas. Ou, se quisermos um passo um pouco maior, para uma análise de estudo de caso, permitindo que os estudantes trabalhem colaborativamente na resolução de situações ou problemas.

As instituições de ensino superior podem ter um papel crucial no apoio aos professores durante esta transição. Se a mudança pode ser assustadora quando encarada individualmente, ter uma estrutura de apoio com orientação especializada pode ser central para os professores poderem experimentar estratégias de aprendizagem ativa e contribuírem para uma aprendizagem mais significativa.

Se queremos formar profissionais com capacidade de resolução de problemas, pensamento crítico e adaptabilidade, a mudança para um ensino centrado no estudante com aprendizagem ativa não é apenas uma tendência, mas uma evolução necessária. E transformar salas de aula do ensino superior em espaços dinâmicos que criem oportunidades para aprendizagens significativas dos estudantes é uma responsabilidade não apenas dos professores, mas também das próprias instituições de ensino superior.


Joana Mata Pereira, Diretora de Learning Innovation da CATÓLICA-LISBON.

Este espaço de opinião é uma colaboração entre a Renascença e a Católica-Lisbon School of Business and Economics.

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