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Filipe Santos
Opinião de Filipe Santos
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Em 2025 este país tem de ser para jovens

30 dez, 2024 • Filipe Santos • Opinião de Filipe Santos


A Península Ibérica tem potencial para ser um dos motores da economia da zona euro nos próximos anos, beneficiando da sua localização segura, laços com o continente americano e amplos recursos naturais renováveis.

Fechamos o ano de 2024 em Portugal numa situação economicamente favorável, mas de grande incerteza em relação ao futuro. Essa situação económica favorável tem muito a ver com o sucesso nos últimos anos no equilíbrio da economia portuguesa em três dimensões fundamentais para a nossa prosperidade coletiva – demográfica, orçamental e macroeconómica.

No contexto demográfico, temos conseguido combater desde 2021, através da imigração, a redução da população residente e ativa em Portugal causada pela baixa taxa de natalidade. A população estrangeira empregada aumentou de 55,6 mil pessoas em 2014 para 495,2 mil em 2023, representando atualmente mais de 10% da população ativa e tendo um nível de qualificação médio superior à população portuguesa. Muitos são pessoas de menor qualificação que têm alimentado o crescimento de setores como a construção civil, a agricultura, a hotelaria, restauração, transportes e comércio, e a área de serviços de apoio a idosos. Mas também temos conseguido atrair muitas pessoas de elevada qualificação e maior poder económico, as quais têm alimentado o ecossistema de educação, ciência, consultoria e administração, bem como feito nascer novos projetos empresariais. Esta imigração acentuou-se desde 2022 e tem levado a um aumento anual de 1% da população residente, que é atualmente de 10,6 milhões.

No contexto orçamental, passámos de um déficit público crónico que levou à quase falência do Estado português exigindo a intervenção da troika em 2011, para um dos países europeus com a mais notável redução de dívida pública nos últimos três anos (de 137,5% do PIB em março de 2021 para 97,4% em setembro de 2024), e um dos poucos países a apresentar um excedente orçamental (mais de 1% do PIB em 2023). Este desempenho reduziu muito o prémio de risco da dívida portuguesa e dá-nos margem para continuar a reduzir a dívida, enquanto podemos fazer escolhas estratégicas que outros países não terão capacidade de fazer.

No contexto macroeconómico, o país está atualmente numa situação de maior equilíbrio face ao exterior, com uma balança de pagamentos positiva em quase 10 mil milhões de euros até ao terceiro trimestre de 2024 (refletindo a força das exportações de bens e serviços, com destaque para o bom desempenho dos serviços e turismo). Esta tem sido uma tendência crescente nos últimos anos sendo notável que, no espaço de uma década, a dívida externa líquida de Portugal face ao exterior reduziu-se de 100% do PIB para 50%. É também notável que a economia portuguesa tenha tido desde 2021 um processo de forte convergência económica com a média europeia, passando de 74% para 80% do PIB europeu per capita em paridade de poder de compra, sendo mesmo o país que mais progrediu neste campo.

Como resultado deste desempenho sólido nos últimos três anos e de um contexto macroeconómico de curto prazo favorável, a economia portuguesa entra em 2025 com solidez e confiança. Temos um PIB a crescer em torno de 2% e acima da média da União Europeia, a inflação controlada em torno dos 2%, as taxas de juro de referência a normalizarem para níveis perto dos 3%, a população empregada em máximos históricos de 5 milhões de habitantes, baixo desemprego (6.5%) e um saldo demográfico positivo. Com um orçamento para 2025 aprovado permitindo antecipar alguma estabilidade política, mais a perspetiva de elevado financiamento de fundos europeus, podemos encarar 2025 com confiança.

Confiança essa que será muito necessária num contexto internacional geopolítico muito adverso. O arranque da administração Trump augura um maior protecionismo e políticas cada vez mais isolacionistas daquele que é o nosso quinto mercado mais importante. As guerras atuais causam forte incerteza e graves riscos securitários em várias fronteiras da União Europeia, levando a um esforço de investimento em Defesa. Assiste-se também ao declínio industrial da Europa. Com a exceção de Espanha, nosso principal mercado exportador, que está com um dos crescimentos mais pujantes da zona Euro, os principais mercados das nossas exportações antecipam crises económicas ou políticas este ano (Alemanha, França e Reino Unido).

Ironicamente, neste contexto internacional muito difícil, Portugal, fruto dos feitos económicos recentes, da sua localização geográfica e recursos naturais, e da enorme competitividade do país na atração de capital humano (que é o motor das economias modernas), está em posição privilegiada para ser uma das economias mais dinâmicas da zona euro em 2025. Considero mesmo que a Península Ibérica tem potencial para ser um dos motores da economia da zona euro nos próximos anos, beneficiando da sua localização segura, laços com o continente americano e amplos recursos naturais renováveis.

E, ao contrário de Espanha que ainda não colocou a sua casa orçamental em ordem, Portugal tendo um excedente orçamental pode fazer escolhas estratégicas. E claramente a aposta forte deste Orçamento de Estado é a atração e retenção do capital humano jovem, para o qual o Governo dedicou um pacote importante de medidas, sendo a mais simbólica o IRS Jovem. A política do IRS jovem tem como objetivo expresso criar melhor condições para que a mais qualificada geração portuguesa de sempre não emigre em grandes números. Mas como a política fiscal não pode discriminar os cidadãos com base na sua nacionalidade, esta política poderá também ter como resultado um influxo de jovens de outros países que queiram fixar residência em Portugal, mesmo aqueles que eventualmente trabalhem remotos para outros países – nómadas digitais e prestadores de serviços especializados, bem como empreendedores.

Assim como o Estatuto de Residente Não Habitual foi pioneiro na altura e contexto em que foi criado, há cerca de 15 anos, tendo sido inicialmente criticado mas depois copiado por muitos países, também a política fiscal discriminatória em favor dos jovens, embora levante questões de equidade fiscal, aponta para um desígnio estratégico do país – atrair e reter talento jovem, melhorando o seu salário líquido através da redução da carga fiscal por um período de 10 anos em condições generosas e melhorando as condições para que comprem casa e fixem assim residência permanente em Portugal. Os jovens são também aqueles que poderão ter filhos e aumentar a taxa de natalidade em Portugal, reduzindo os danos na economia e sociedade de uma população cada vez mais envelhecida. São também aqueles com maior probabilidade de inovar e empreender, revitalizando as empresas portuguesas e construindo uma Economia mais global.

Este país tem de ser para jovens porque senão os idosos não terão futuro. Venha 2025!


Filipe Santos, Dean da Católica-Lisbon School of Business and Economics e professor de Inovação Social

Este espaço de opinião é uma colaboração entre a Renascença e a Católica-Lisbon School of Business and Economics

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