13 nov, 2018
A empatia é uma emoção moral muito importante, aquela que nos permite «calçar os sapatos do outro» sem necessariamente ter partilhado a experiência. E há um momento na maturidade em que aprendemos a entristecer-nos também com a tristeza dos desconhecidos e a alegrar-nos com a alegria daqueles com quem nunca interagiremos. Mas a empatia, que parece ter uma universalidade genética, sofre igualmente das influências da cultura e dos limites da nossa imaginação. Por isso, hoje, pedi ao meu filho Duarte para vos escrever sobre um problema que me toca e me preocupa mas que só posso partilhar em segunda mão. E para as coisas importantes em primeira mão é sempre melhor:
«Infelizmente nada neste mundo parece justo. Nenhuma tomada de posição parece ser imparcial. Numa época em que os movimentos a favor da igualdade estão a ganhar dimensão e na qual não nos identificarmos como feministas é considerado altamente reprovável, é difícil pensar nas situações em que, claramente, os homens estão em desvantagem, precisam de apoio, do seu movimento, e da divulgação dos seus problemas.
Ter problemas é algo que toca a todos, a sua gravidade já é outra questão, mas há um problema grave que, na actualidade, alastra entre os homens e que ainda precisa de ser visto com outros olhos: o cancro, aquele bicho lixado que mata sem aviso, toca a todos. Sim, a todos. E cada vez mais. Bem, já sabemos que há movimentos para ajudar todos os doentes com todos os tipos de cancro. Sobretudo as doentes com cancro da mama, e à boleia delas, o número residual de homens que também é atingido pela doença. O movimento do Outubro Rosa tem hoje ampla visibilidade – um pouco menos em Portugal, porque será? – e recolhe muitos fundos para a investigação, investigação essa que começa a dar frutos, com o desenvolvimento e comercialização de terapêuticas muito inovadoras. E apesar de ser algo que também afecta alguns homens, não é dele que vos venho falar.
Não posso falar deste cancro por experiência, porque, felizmente, não o tenho. Mas consigo imaginar-me num cenário em que o teria. Estou a falar-vos do cancro da próstata. Felizmente, - sim, felizmente - não é dos mais mortais. Mas por vezes é difícil valorizar a vida quando nos tiram tanto. É difícil imaginar uma vida em que não teria o meu pénis. Sim, eu disse pénis, sim pode ter aparentemente piada, mas não teria qualquer piada viver sem ele. Nas mais básicas coisas da vida, o teu órgão reprodutor é o que mais te define, pelo menos quando és um homem. Não é por acaso que os anglo-saxónicos usam a expressão “dick head”. Não é por acaso que as competições entre homens, normalmente parvas, são apelidadas de “de medir pilinhas”. Não é por acaso que a questão do tamanho afecta tantos homens.
E agora no meio de tudo isto imaginarmo-nos sem ele?! Bem, mas felizmente, neste mês de Novembro, dá-se atenção a esta problema. Os homens são convidados a exibir os seus bigodes ou barbas no movimento Movember. Esta Fundação actua na área do combate contra o cancro, usa o laço azul e pretende ajudar todos os homens que sofram de cancro da próstata ou cancro testicular e alertar para os seus problemas, incluindo a reabilitação de quem tenha vencido estes cancros, pois por vezes, essa é a parte do processo que custa mais. Portanto, deixem-se de sexismos, «Stop men dying too young», o cancro não vê sexos, géneros, raças, idades. É um problema que afecta todos, e mesmo que não seja directamente, afecta quem mais nos é próximo. E como tal, devemos e podemos fazer de tudo ao nosso alcance para que todos consigam vencer este problema. Porque um dia podemos ser nós.»
O primeiro passo, um passo determinante, é a prevenção: vá lá, aquela consulta de rotina pode parecer lixada, mas lembra-te do que, sem ela, podes vir a perder. O segundo passo é a recolha de fundos para a investigação: tu também podes partilhar esta esperança. Já reparaste quantos bigodes ridículos andam por aí?