04 mar, 2021
A Mafalda tem 42 anos. Há uns anos decidiu deixar o emprego onde nunca se sentiu realizada para explorar o bar de um ginásio que já conhecia, e que até chegou a frequentar. Ficava perto de casa, conhecia muitos dos seus clientes e podia conviver e cozinhar, duas coisas de que gosta. O Pedro, seu marido, tem 45 anos e é empregado de mesa num restaurante há algum tempo. O ordenado não é muito, mas as gorjetas completam o rendimento.
A Mafalda e o Pedro têm dois filhos na escola, compraram uma casa que estão a pagar ao banco e uma prestação do carro que compraram a crédito. A vida regrada permitiu dar estes passos conscientes de que estariam à altura do compromisso.
Veio a pandemia, o ginásio fechou, o restaurante onde o Pedro trabalha fechou. O pouco dinheiro das poupanças já se gastou há muito tempo para pagar a casa, o carro e pôr comida na mesa. Recorreram às moratórias, que não tarda acabam. Já não conseguem pagar a água e a luz para pôr comida na mesa. E agora, já não chega para pôr comida na mesa todos os dias. A Mafalda e o Pedro são gente de bem, educados para não dever nada a ninguém, para manter a cabeça erguida. Agora dependem envergonhadamente da ajuda dos outros.
A Mafalda e o Pedro são nomes e histórias inventadas por mim, personagens que não existem em vidas que poderiam ser a sua ou a minha.
Muitos de nós têm a sorte de manter o emprego, por vezes fruto de um enorme esforço das empresas. É por essa razão que, mais do que nunca, podemos e devemos ajudar quem viu a sua vida virada do avesso sem que nada o fizesse prever.
Quando contribuo para as campanhas solidárias faço-o sempre consciente de que um dia poderei ser eu. Se todos nos colocarmos do outro lado, é impossível ficarmos indiferentes. Até domingo, está a decorrer o peditório nacional da Cáritas. Esta instituição, que completou recentemente 65 anos, apoia milhares de pessoas por todo o país nas mais diversas vertentes. A pandemia veio agravar a pobreza e aumentar largamente o número de pessoas a precisar de ajuda. Por essa razão é ainda mais importante fazer o seu donativo. Deixo aqui o link para que saiba como pode fazer, já que a pandemia impede que haja voluntários na rua: https://caritas.pt/snc/
É bom lembrar, no entanto, que a sua ajuda poderá ser a que entender. Informe-se na sua paróquia, na junta de freguesia, no seu bairro, como pode contribuir para ajudar quem precisa.
E se entender não ter uma instituição como intermediária, acredite que ao seu lado, discretamente, haverá alguém que agradece a sua ajuda desinteressada. Ofereça-se para pagar a fatura - da água, da luz, da internet. Algum gesto que alivie o peso do desespero sem esperar gratidão.
A história da Mafalda e do Pedro não é verdadeira, mas é verosímil. A história da Mafalda e do Pedro, podia ser a sua.