02 out, 2019
Os desenvolvimentos eleitorais do CDS no último ano e meio devem ser estudados por cientistas políticos.
Há dois anos, Assunção Cristas ultrapassava o PSD em Lisboa nas autárquicas, multiplicava por cinco o número de câmaras municipais, liderava a oposição dia a dia ao Governo e às esquerdas, como gosta de lhes chamar, e até achava que podia ser candidata a primeira-ministra.
Em outubro andava taco-a-taco com o Bloco de Esquerda. Em março, como se pode ver aqui era o terceiro partido nas intenções de voto. Agora, chega à beira das eleições legislativas com o risco de perder dois terços ou metade do seu atual grupo parlamentar de 18 deputados. Não será bem voltar ao “partido do táxi” do tempo das maiorias absolutas de Cavaco Silva, mas anda lá perto.
O “drama” do CDS é ainda maior porque cada deputado que perderá será, provavelmente, um deputado que a esquerda ganha, não tanto por transferência direta de voto – que existe de facto como aqui se vê - , mas pelas particularidades do método de Hondt (o método pelo qual os votos são transformados em mandatos e que pode saber aqui como funciona).
E vários dos deputados perdidos serão os especialistas de cada área. Patrícia Fonseca em Santarém é a especialista em Agricultura, Isabel Galriça Neto (número 5 por Lisboa) a porta-voz para a Saúde, João Rebelo em Faro é o especialista em Defesa, Nuno Magalhães em Setúbal o da segurança e polícias, Telmo Correia, cabeça de lista por Braga, faz a dobra aos dois anteriores e é uma figura do partido, tendo já sido candidato a líder.
Até um dos eventuais candidatos à sucessão de Assunção Cristas pode ficar fora do Parlamento e, já agora, também de uma eventual corrida à liderança. João Almeida, ex-presidente da Juventude Popular, lidera a lista por Aveiro – o distrito por excelência do CDS -, onde os receios dentro do próprio partido são de perder os dois deputados que elegeram nas listas conjuntas com o PSD em 2015. Mesmo que perca só um, será uma derrota não só da líder como também de João Almeida.
Outros não eventual, mas praticamente assumido, num futuro congresso do CDS é Francisco Rodrigue dos Santos, o “Chicão”, atual líder da Juventude Popular, candidato em segundo lugar pelo Porto, que também não tem eleição assegurada.
Entretanto, tendências mais conservadoras, como a TEM (Tendência Esperança em Movimento) parecem ir ganhado peso dentro do partido e rejubilam com o regresso de Manuel Monteiro à militância partidária. E, por outro lado, Nuno Melo, o cabeça de lista às europeias que não conseguiu levar companhia para Bruxelas, ainda pode acreditar que não teve culpas nessa derrota que parece um peso-morto que não permite ao partido voltar a subir.
Não se preveem, pois, tempos fáceis neste partido habituado a contrariar sondagens. Pode ser que volte a contrariá-las na noite de 6 de outubro. Ou a ter um resultado honroso ou até mesmo ‘salvador’ como foi o da Madeira, em que, perdendo mais de metade do grupo parlamentar, o líder do CDS regional parecia o vencedor da noite por se ter tornado necessário à governação regional. Um cenário dificilmente repetível nas legislativas nacionais, mas à falta de maioria absoluta, Costa pode optar por não ter alianças formas e Cristas sempre disse que não dará a mão a Costa, mas também não deixou de aprovar ou abster-se em assuntos relevantes, como o código laboral, a solução para o Banif ou o acesso dos serviços secretos a metadados.